quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

A EPIFANIA DO SENHOR









Pe. João Medeiros Filho
Arquidiocese de Natal



A Epifania do Senhor


A Epifania é a festa da manifestação de Cristo a todos os povos. A busca dos Magos – segundo estudiosos, sábios do Oriente – representa a afirmação desse clarão divino em Jesus. Dá-se o encontro do Filho de Deus com personagens que não pertenciam ao povo eleito. Eis uma das grandes lições do Menino. Seu nascimento não veio confirmar privilégios. Nasceu para anunciar a Vida àqueles que desejam a salvação, não importando posição socioeconômica, cultural, étnica etc. Deus é de todos e não apenas de alguns.  O Cristo da manjedoura ensina-nos que Ele não quer o poder temporal. Veio pobre e indefeso como uma criança para não amedrontar. Em torno dele, unem-se os povos, vindos de longe, enquanto os que estavam por perto o ignoraram. Muitos buscam Cristo, de modo diferente. Os Magos procuraram-no para reverenciá-lo, enquanto Herodes desejava encontrá-lo para o matar. Assim caminha a humanidade. Enquanto há os que proclamam Cristo “Luz que ilumina todo homem que vem a este mundo” (Jo 8, 12), outros desejam aniquilá-lo. A luz revela a maldade, o erro, a injustiça, o pecado, desmascara pessoas, sendo por isso ameaçada.

Os Magos são metáfora da realidade humana. Simbolizam os sedentos da Palavra divina, enquanto Herodes o Mal sobre a face da terra. Para encontrar Cristo, às vezes, temos de caminhar nas trevas, por desertos e terras desconhecidas. Entretanto, havia para eles uma estrela que os conduziu até Belém. Assim, existe para nós a chama de nossa fé que nos guia aonde poderemos encontrar o Salvador da humanidade. Infelizmente, existem os que ficam cegos com sua minúscula luz. Estes têm medo de encontrar Jesus, de ouvi-lo ou vê-lo e o procuram destruir. É uma tentação antiga, porém sempre atual do ser humano: quer exterminar quem incomoda. Cristo sequer começara a sua pregação, mas sua presença já importunava.

Como os Magos, para proclamar o nascimento do Salvador, devemos fazer o caminho inverso dos poderosos e nos desviar da rota do orgulho. Só Deus enche de paz o nosso coração. Nem mesmo a riqueza, o poder e a realeza nos aquietam. Belchior, Baltazar e Gaspar fazem-nos compreender que os considerados excluídos do amor de Deus são os primeiros a senti-lo. Cristo nasceu para todos e mostra-nos que o Amor do Pai pelos homens não faz discriminação. “Deus enviou seu filho..., e todos recebemos a dignidade de filhos” (Gl 4, 5). As realidades divinas tornam-se acessíveis. Jesus não veio apenas ao mundo, mas se encarnou para que sentíssemos sua infinita misericórdia. Vivemos numa sociedade egoísta. Cada vez mais as pessoas se fecham, revestindo-se de insensibilidade e indiferença. Cristo, apesar de sua grandeza, fez-se pequeno e humilde para não atemorizar. Mesmo os desconhecidos foram recebidos com ternura e respeito.

Hoje, Jesus se manifesta a nós, não como aos pastores e aos Magos, mas no pobre dormindo ao relento, no idoso abandonado pela família, no doente num leito de hospital, sem atendimento adequado, nos injustiçados, perseguidos, rejeitados...  Agora, Ele ensina-nos a amá-lo, sentindo-o no próximo. Não bastam apenas ações sociais ou assistenciais, é necessário Amor. Sentir a presença de Cristo é fruto de busca e caminhada. Ele deseja se revelar a cada um. Porém, precisamos perseverar e procurá-lo inclusive nas trevas. Cristo é Irmão de todos. Nasceu tanto para os pastores como para os estrangeiros do Oriente, cuja religião era diferente da de seu povo.

É relevante o relato de Mateus a respeito da indagação sobre o lugar do nascimento do Menino. O evangelista mostra a ignorância de Herodes, ícone dos prepotentes da época. “Onde está o Rei dos Judeus, que acaba de nascer?” (Mt 2, 2). Por vezes, nossa alienação é idêntica. Cristo está próximo de nós e não o percebemos. Falta-nos sentimento de busca sincera e da descoberta do sagrado e divino. Os Magos não mediram esforços. Viajaram por terras estranhas, enfrentando adversidades e finalmente foram confortados pela alegria do encontro com o Menino Deus. Em sinal de admiração e reconhecimento, ofertaram-lhe o que tinham de melhor, de acordo com sua cultura e tradições. “Ofereceram-lhe ouro, incenso e mirra” (Mt 2, 11).

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