Por Diác. Eduardo Wanderley
A liturgia é a fonte de onde a Igreja recebe sua força e é o ápice para o qual se encaminha toda sua ação – fonte e cume, fons-culmen (cf. SC 10). Celebramos o que vivemos e vivemos o que celebramos. Entre a procissão de entrada e o ide em paz, participamos de duas mesas nos sinais do ambão e do altar. Mas, por extensão, existe uma terceira mesa que encontramos entre o ide em paz e a procissão de entrada, após a celebração e antes da próxima missa.
A constituição Sacrosancto Concilium, do Concílio Vaticano II, determina que "prepare-se para os fiéis, com maior abundância, a mesa da Palavra de Deus" (SC 51). Palavra que nos inquieta. Palavra que nos interpela e nos faz refletir sobre a vida e o cotidiano. Essa palavra é o próprio Cristo que lê para nós. Que nos ensina a seguir seus passos. Que nos impulsiona para ir adiante. É um alimento que sacia nossa fome até que possamos voltar a uma celebração.
Na mesma constituição, se invoca uma participação mais ativa, consciente e piedosa dos fiéis. Pius Parsch, sacerdote católico alemão, um dos líderes do movimento litúrgico na época pré-conciliar, foi um grande expoente na busca de uma participação ativa dos fiéis. Ficou conhecido por promover a volksliturgischen, ou “missa do povo”. O concílio entende essa necessidade e promove essa participação. De fato, não podemos entrar no mistério celebrado como estranhos. Somos pátrios da celebração. Depois da palavra de Deus que nos alimenta, a constituição afirma: "alimentem-se à mesa do Corpo do Senhor" (SC 48). Assim como a mesa da Palavra, a mesa da Eucaristia é, também, um alimento sólido, que sacia nossa fome até que possamos novamente celebrar.
Mas há uma despedida no fim da celebração que nos leva a pensar em que usar a força que recebemos. Entendendo a celebração como fonte, devemos percorrer um caminho que se segue após o ide em paz. Nos Atos dos Apóstolos, precisamente no capítulo 6, vemos uma primeira contenda sobre o cuidado com as viúvas dos helenistas. Os Apóstolos entendem que precisam distribuir tarefas e sete homens são escolhidos para servirem às mesas dessas excluídas. Os primeiros diáconos tinham essa missão particular. A mesa das viúvas é, decerto, expressão da necessidade da comunidade. Aqui é o local onde podemos e precisamos testemunhar a força da eucaristia celebrada. É essa a terceira mesa, que está ligada intimamente às duas da celebração.
Tudo que celebramos nos impulsiona a fazermos nossa parte na terceira mesa. Fora do cronos da liturgia, do tempo da missa, uma mesa invisível, a mesa das necessidades dos desfavorecidos, se apresenta a cada dia. A Eucaristia será tão mais fonte quanto mais forte for nossa ação na terceira mesa. A Eucaristia só será ápice se a ação da caridade estiver presente no cotidiano de cada cristão.
Termino lembrando da magnífica inspiração de São Francisco ao propor a oração da caridade. Senhor, fazei-me um instrumento da vossa paz. Onde houver ódio que eu leve o amor, onde houver ofensa, que eu leve o perdão... seremos instrumentos da paz do Senhor se soubermos viver as três mesas que nos propõe o cristianismo.