Por Solène Tadié
A Polônia se destaca como líder indiscutível em vocações religiosas na Europa este ano, com 206 novos padres ordenados. Dados recentes da Agência Polonesa de Informação Católica (KAI), divulgados pelo jornal inglês Catholic Herald, mostram que, embora grande parte da Europa enfrente o declínio no número de ordenações, os números da Polônia permanecem robustos, refletindo um compromisso profundo com a vida religiosa.
Isso é particularmente evidente na diocese de Tarnów, que lidera o país com 13 novos padres programados para ordenação neste ano.
Em contraste com grande parte da Europa, onde o número de novos padres caiu abaixo dos níveis de reposição — levando as dioceses a depender cada vez mais de clérigos da África e da Ásia — a liderança contínua da Polônia em ordenações parece ressaltar a resiliência de sua identidade católica e práticas religiosas. Tal resiliência é especialmente significativa considerando que a Polônia, como outros países europeus, enfrenta as pressões da secularização, das mudanças nas estruturas familiares e do declínio da taxa de natalidade.
O número de ordenações diocesanas na Polônia diminuiu ligeiramente, com 141 novos padres diocesanos este ano em comparação com 153 no ano passado, mas o quadro permaneceu relativamente estável nos últimos anos.
A força da Polônia em fomentar vocações pode ser atribuída a vários fatores-chave que a distinguem de grande parte da Europa.
A principal delas é a identidade católica profundamente arraigada do país, que continua moldando a vida de muitos cidadãos poloneses. Segundo o censo de 2021, quase 71,4% da população se identifica como católica romana. Embora isso represente um declínio notável em relação aos 88% que se identificavam como católicos uma década antes, a Polônia ainda tem uma das maiores taxas de frequência à igreja na Europa — 29,5% em 2022 — um elemento vital para sustentar as vocações ao sacerdócio.
A diocese de Tarnów, no sul da Polônia, continua sendo uma das áreas mais religiosas e tradicionais do país. A diocese fica numa região que antes era a província austríaca da Galícia, disse Marcin Rzegocki, diretor administrativo da Fundação Auxilium, da diocese de Tarnów, à CNA, agência em inglês da EWTN.
“Devido a vários fatores históricos, essa região continua sendo uma das áreas mais religiosas e tradicionais da Polônia”, disse Rzegocki. “De fato, a vida religiosa nessa parte da Polônia é frequentemente caracterizada como fortemente clerical por natureza. Essa devoção popular de longa data permitiu que Tarnów continuasse sendo um terreno fértil para vocações sacerdotais”.
Ao longo do século XX, a diocese teve uma abundância de vocações sacerdotais, tanto que se tornou uma fonte de vocações não só para dioceses polonesas, mas também para dioceses na Europa ocidental, nos EUA e em territórios de missão.
“Historicamente, a Galícia também foi uma importante fonte de emigração econômica para a Europa ocidental e as Américas”, disse Rzegocki. “Ainda hoje, padres e freiras da região podem ser encontrados servindo em todo o mundo”.
Apesar das mudanças nas estruturas familiares e das transformações demográficas e sociais, a cultura religiosa de Tarnów continua a fomentar um fluxo constante de vocações.
Uma figura histórica central no desenvolvimento da cultura vocacional de Tarnów foi o arcebispo Leon Wałęga, bispo de Tarnów de 1901 a 1931. Wałęga teve um papel crucial no fomento de vocações sacerdotais, particularmente por meio de sua devoção a Nossa Senhora de Tuchów, um importante santuário mariano na diocese.
Wałęga trabalhou ao lado dos padres redentoristas de Tuchów para promover a devoção à imagem milagrosa de Nossa Senhora. Em 1904, ele coroou a imagem — coberta por um manto prateado — marcando o início de uma profunda ligação entre a diocese e a intercessão de Nossa Senhora pelas vocações sacerdotais.
A cerimônia de coroação em outubro de 1904, com a presença de cerca de 130 mil fiéis e 200 padres, tornou-se um momento decisivo para a diocese. O ato de Wałęga de confiar as vocações da diocese aos cuidados de Nossa Senhora de Tuchów marcou um profundo compromisso espiritual que continuou a moldar a diocese nos anos seguintes.
Essa tradição se estendeu além das fronteiras da Polônia. Por cerca de um século, bispos, padres, seminaristas e leigos fizeram a peregrinação vindos de muitos países diferentes para buscar orientação em seu discernimento e orar por vocações.
Refletindo sobre o futuro das vocações na Polônia numa entrevista com a KAI, o bispo Andrzej Przybylski, delegado da Conferência Episcopal Polonesa para as Vocações e presidente do Conselho Nacional de Pastoral Vocacional, reconheceu as oportunidades e os desafios que existem pela frente.
“Na Polônia, ainda observamos um período em que o número de vocações se mantém estável, embora ainda muito baixo em comparação com os anos mais frutíferos”, disse ele. “Tivemos um período de crescimento vocacional significativo e acreditamos que isso deve continuar. A questão é como acolher aqueles que agora estão descobrindo esse caminho e decidem trilhá-lo”.
Przybylski enfatizou a importância de criar ambientes para que os jovens possam discernir suas vocações.
"Queremos acompanhar as vocações. Acreditamos que Deus chama as pessoas como Ele quer, com quem Ele quer e conforme Seus planos", disse ele. "No entanto, queremos criar uma cultura vocacional, para encorajar muitos jovens a descobrirem sua vocação".