terça-feira, 22 de outubro de 2024

Nômades com Cristo

Por Diác. Eduardo Wanderley

Numa manhã, saí de casa para a escola e encontrei uma amiga. Aos poucos, veio o interesse em saber mais sobre ela e, de repente, estava enamorado. Com ela viajei, descobrindo novos mundos. E foi muito bom. A estória que pode ser a história de tantos é uma história de amor. Viajar, ao lado da amada, é sempre inovador, rejuvenescedor, desafiador. Assim também é o ministério ordenado... um lugar de viagem! Nômades com Cristo.

Se fizermos memória de quantas pessoas boas, de quantas experiências boas, nós passamos até aqui, vamos perceber que a estrada da vida é mais para ser percorrida do que para um descanso. Costumo pensar que nós, enquanto nessa terra, estamos atravessando um deserto, como no imaginário popular, bem seco e desafiador. Encontramos lugares de pastagem, oásis que matam a sede. Mas, se não voltamos para a estrada, como atravessaremos o deserto? Andar e parar são duas necessidades.

Tenho consciência de que encontrar um oásis frutífero, coabitantes generosos e sombras fartas gera em nós uma sensação de ter chegado onde queríamos. Assim também é a casa de nossos pais de coração. Um lugar onde temos segurança. Mas o amor apaixonado nos faz deixar pai e mãe para um novo desafio de morar com alguém de cultura e história diferentes.

Uma vez, me apaixonei pela Igreja. Deixei a casa de meus pais. Fixei nova residência. Novos vizinhos. Alguns chatos, alguns virtuosos, alguns mandões, alguns alegres. Alguns... com os quais aprendi a me distanciar de confusões ou a transformá-las. Alguns com os quais aprendi a ser mais feliz. Quando mudamos, não sabemos o que vem pela frente. Mas sabemos com quem caminhamos, quem está ao nosso lado.

O Papa Francisco, falando de improviso para o XXV Capítulo Geral da Congregação dos Missionários Claretianos, lembrou de três palavras-chave: adorar, caminhar, acompanhar. "Pra te adorar foi que eu nasci", diz a canção. Vejamos o que o papa fala sobre o caminhar.

"É verdade que se deve organizar as coisas, que se deve trabalhar, com a alma, o coração e a cabeça, caminhando, buscando. Ir às fronteiras, a todo tipo de fronteira, inclusive a do pensamento. Os intelectuais de vocês devem ir à fronteira, abrir caminhos. Procurar. Isto é, não permanecer parados. Porque quem está parado, quem não se move se apodrece. Como a água: a água parada estraga. A água do rio que corre se renova. Caminhar como caminhou Deus, que se fez companheiro de caminho."

O povo do caminho, como nós fomos conhecidos outrora, é a face mais real de nossa vida cristã. Incansavelmente buscando seu destino. Só um grande amor para nos fazer continuar no caminho, abdicando das boas águas do oásis de agora. Não sabemos que sabor terão as que virão. Mas nem cá nem lá é nossa pátria definitiva.

Também não sabemos quem será quando alguém se muda para vizinhança. Os que ficam sempre se angustiam. Lembro-me que minha esposa, quando fui fazer pós-graduação no interior de São Paulo e ainda éramos namorados, pensou que seria o fim. Mas não foi. Não sabemos o que virá pela frente. Mas sabemos em quem confiamos.

Para o viajante, é bom sempre ter em mente as palavra de São Paulo: "não importa o grau a que chegamos. O que importa é prosseguirmos, decididamente" (Fl 3, 16). Quem ama a Igreja, apesar dos apegos, dos afetos naturais do ser humano, sempre olha para o caminho adiante com esperança. A humildade o faz cidadão mais rápido. Que seja um desafio transformador e engrandecedor para quem vai. Que seja um momento de renovação para quem fica. Deus nos ajude!






Diácono Eduardo Bráulio Wanderley Netto

Paróquia de São Camilo de Léllis – Lagoa Nova – NatalArquidiocese de Natal

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