quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Não à violência e sim à vida

Por Diác. Zé Bezerra

Nos últimos anos percebe-se que os humanos têm se comportado cada vez mais arrogantes, prepotentes, desrespeitosos e violentos. Dá a impressão de que se vive um estágio avançado rumo à irracionalidade humana. Muitos enxergam outro ser humano apenas como um concorrente que deve ser eliminado, em vez de conviver e vivenciar uma experiência de disputa saudável por autoafirmação e espaço, seja social, comercial ou profissional. Esse entendimento de que um concorrente ou adversário deva ser eliminado demonstra a ausência de qualquer sentimento humano e respeito pelo semelhante. É a ausência do amor humano cedendo lugar à presença da brutalidade irracional.

Constata-se isso facilmente vendo-se, lendo-se e ouvindo-se programas de notícias. Para alguns, alguém que não serve mais aos seus propósitos pode ser simplesmente descartado, jogado fora, como se fosse um objeto sem valor, um penduricalho imprestável. São praticados diuturnamente crimes hediondos e guerras por razões fúteis e torpes, como intolerância religiosa, político-partidária, esportiva, desavença afetiva, ambições, divisão de bens por parcerias desfeitas... São quase incontáveis os casos de crimes por motivos torpes, fúteis... O amor, que deveria ser a seiva salutar que irriga os sentimentos humanos, está cedendo lugar ao egocentrismo, ao individualismo e ao ódio, que embriagam e turvam o discernimento e a razão, capacidades próprias dos seres humanos de compreender cada fato e momento da vida.

O Papa Francisco, com sua aguçada visão humana e de mundo, percebe que algo não vai bem com o “coração humano”. Nesta semana ele publicará a quarta Encíclica do seu Pontificado e falará exatamente sobre um dos momentos mais dramáticos que a humanidade vive hoje. As guerras, os desequilíbrios sociais e econômicos, o consumismo desenfreado, novas tecnologias que ameaçam desfigurar a essência do ser humano... Trata-se de uma “Carta encíclica sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus Cristo”. Em sua carta encíclica, com o título “Dilexit nos”(Ele nos amou), Francisco pede “que mudemos nosso olhar, nossa perspectiva e nossos objetivos, recuperando aquilo que é mais importante e necessário: o coração”(Vaticanneus.va).

Segundo a matéria publicada no site do Vaticano, “o texto é inteiramente dedicado ao culto do Sagrado Coração de Jesus”. O Santo Padre “deseja que o texto faça meditar sobre os aspectos do amor do Senhor que possam iluminar o caminho do renovamento eclesial(...) e que possam dizer algo significativo a um mundo que parece ter perdido o coração”(Vaticannews.va). Com esta nova encíclica, o Papa Francisco demonstra que acompanha os acontecimentos hodiernos e reflete sobre eles e seus efeitos sobre a humanidade.

Duas outras encíclicas demonstram esta característica visionária do Santo Padre. Na Laudato Si, de 24 de maio de 2015, ele aborda a questão crucial da crise ambiental e a necessidade de cuidar da Criação. Já na Fratelli Tutti, de 3 de outubro de 2020, Francisco fala sobre a urgência da fraternidade e amizade social em um mundo fragmentado. Naquela época, com a pandemia da Covid e, atualmente, com as guerras fraticidas e conflitos conduzidos “em nome de Deus”, ceifando a vida de homens, mulheres, jovens e crianças inocentes.

Mas, acredite, não deve haver lugar para o desespero. A esperança há de reinar sobre toda desesperança. Com pequenos gestos e acenos de paz, de caridade, de boa vontade, aí, no lugar onde vive e milita, você pode mudar a face dessa humanidade sobre a terra. É sábio quem não se entrega nem desanima mesmo diante de todo desânimo, desesperança e possível fracasso. A vida vale mais que qualquer pedra preciosa que se possa ter...





Diácono José Bezerra de Araújo Assistente eclesiástico da PASCOM

Arquidiocese de Natal

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