Pe. João Medeiros Filho Arquidiocese de Natal |
O
culto mariano ainda é pouco estudado. Segundo São Bernardo de Claraval, “De
Maria nunquam satis” (sobre Ela nunca é demais). A Virgem Santíssima goza da
adjetivação bíblica de Bem-Aventurada. Nela reconhece-se uma dignidade especial
sobre todos os santos e a capacidade de interceder por nós. Não obstante seu
imenso valor, o magistério católico e a teologia sempre deixaram bem claro que a
Mãe do Salvador é humana. Seu Filho responde por Ela às nossas súplicas,
consagrando o axioma devocional: “Per Mariam ad Jesum” (Por Maria chegaremos a
Jesus). Nossa Senhora tem interessado a pesquisadores, dentro e fora da Igreja.
Além de citações em obras literárias clássicas e modernas, a Filha de Sant’Ana
chama também a atenção de pensadores não cristãos e descrentes, como a
psicanalista Julia Kristeva. Esta assevera que só por um especial toque divino
(revelação sobrenatural) chega-se a compreender a realidade mística da Virgem. “Ela
é genitora de quem a gerou, anterior a Ele em sua humanidade, mas posterior por
sua divindade. Virgem e Mãe simultaneamente”, afirma aquela filósofa búlgara.
Isso é insólito na história das religiões. Uma mulher tornou-se fonte do
encontro de Deus com a humanidade, da criatura com o Criador.
Em
Maria, a Eternidade volta a ser acessível. Gerando Cristo, restabeleceu o contato
com o Eterno. Entretanto, não deixa de ser humana, protetora nossa e advogada. No
Brasil, a devoção à “Mãe Amável” continua muito presente na liturgia, nas festas
e nos santuários marianos. Aparecida (SP) e Belém (PA) do Círio de Nazaré são
lugares expressivamente procurados por devotos que ali manifestam com amor e sem
temor o culto à “Rainha dos Santos”. Sua importância no catolicismo continua
forte, malgrado o avanço da secularização. No RN, santuários e locais de
peregrinação lhe são dedicados, evidenciando-se Patu, Florânia e Carnaúba dos
Dantas.
Maria é a sempre amada de seus fiéis, os quais se dirigem
com confiança filial à “Consoladora dos Aflitos” nos reveses da vida. Nela, tem
início a reconciliação do Divino com o homem, criado pelo Pai celestial, na
integridade da inocência e plenitude da bondade. Entretanto, a ambição e o
orgulho desfiguraram-no. Na pessoa da Jovem de Nazaré, Ele retomou a criatura
humana plasmada com tanto carinho nos primórdios da história. Por esse motivo,
o apóstolo Paulo e a teologia chamam a esposa de José de “Nova Eva”, isto é, portadora da Vida. Na Virgem,
a humanidade foi repensada e Deus se fez terreno, nos aproximando da Eternidade.
Ao conceber o Verbo Divino, Ela reatou o contato com o Infinito. Além de sua
excelsitude, é também a “Compadecida”, na expressão de Ariano Suassuna. Repitamos
com fervor as palavras do hino à Nossa Senhora da Piedade: “Mãe, coloca teu
povo, agora, na palma da mão de Deus.”