quarta-feira, 16 de agosto de 2023

"VALEI-ME, VIRGEM MARIA" ARTIGO SEMANAL DO PE. JOÃO MEDEIROS


Pe. João Medeiros Filho
Arquidiocese de Natal

Em 15 de agosto celebramos Nossa Senhora da Assunção, da Guia, da Glória etc., alguns de seus inúmeros oragos ou títulos. Excetuando-se Cristo, dentre as figuras do cristianismo, Maria Santíssima é a mais querida e cultuada. Refletir sobre Ela é sempre válido. Assim, presenteou-nos Padre José Freitas Campos com a publicação de seu novo livro, o qual inspirou o presente artigo. O lançamento acontecerá no próximo sábado, dia 19, a partir das 10.30 horas, na Livraria Paulus, situada à Rua Cel. Cascudo, nº 333 (Natal). Escritor, musicólogo e pastor do Povo de Deus vem, há quase cinquenta anos, conclamando o rebanho do Senhor a saborear o rico alimento da Palavra Divina e Mesa eucarística. Autor de várias obras literárias, destacando-se a biografia de Padre Miguelinho, brinda-nos agora com uma relevante pesquisa sobre a Mãe de Deus e nossa. Analisa setenta denominações de Maria, “Rosto feminino da Igreja”. O estudo enriquecerá certamente os que são tocados pela grandeza da “Senhora de tantos nomes”. O escritor transita pela espiritualidade mariana, perpassando pela história, ancorando nos títulos atribuídos à Virgem, nascidos da piedade e devoção popular. São dedicados à Corredentora hinos e orações, verdadeiros poemas expressados com profunda linguagem teológica. Padre Campos é um dos “vaqueiros de Jesus Cristo”, no aculturado dizer de Oswaldo Lamartine, para quem “Maria Santíssima é o mais belo sorriso de Deus.”

O culto mariano ainda é pouco estudado. Segundo São Bernardo de Claraval, “De Maria nunquam satis” (sobre Ela nunca é demais). A Virgem Santíssima goza da adjetivação bíblica de Bem-Aventurada. Nela reconhece-se uma dignidade especial sobre todos os santos e a capacidade de interceder por nós. Não obstante seu imenso valor, o magistério católico e a teologia sempre deixaram bem claro que a Mãe do Salvador é humana. Seu Filho responde por Ela às nossas súplicas, consagrando o axioma devocional: “Per Mariam ad Jesum” (Por Maria chegaremos a Jesus). Nossa Senhora tem interessado a pesquisadores, dentro e fora da Igreja. Além de citações em obras literárias clássicas e modernas, a Filha de Sant’Ana chama também a atenção de pensadores não cristãos e descrentes, como a psicanalista Julia Kristeva. Esta assevera que só por um especial toque divino (revelação sobrenatural) chega-se a compreender a realidade mística da Virgem. “Ela é genitora de quem a gerou, anterior a Ele em sua humanidade, mas posterior por sua divindade. Virgem e Mãe simultaneamente”, afirma aquela filósofa búlgara. Isso é insólito na história das religiões. Uma mulher tornou-se fonte do encontro de Deus com a humanidade, da criatura com o Criador.

Em Maria, a Eternidade volta a ser acessível. Gerando Cristo, restabeleceu o contato com o Eterno. Entretanto, não deixa de ser humana, protetora nossa e advogada. No Brasil, a devoção à “Mãe Amável” continua muito presente na liturgia, nas festas e nos santuários marianos. Aparecida (SP) e Belém (PA) do Círio de Nazaré são lugares expressivamente procurados por devotos que ali manifestam com amor e sem temor o culto à “Rainha dos Santos”. Sua importância no catolicismo continua forte, malgrado o avanço da secularização. No RN, santuários e locais de peregrinação lhe são dedicados, evidenciando-se Patu, Florânia e Carnaúba dos Dantas.

Maria é a sempre amada de seus fiéis, os quais se dirigem com confiança filial à “Consoladora dos Aflitos” nos reveses da vida. Nela, tem início a reconciliação do Divino com o homem, criado pelo Pai celestial, na integridade da inocência e plenitude da bondade. Entretanto, a ambição e o orgulho desfiguraram-no. Na pessoa da Jovem de Nazaré, Ele retomou a criatura humana plasmada com tanto carinho nos primórdios da história. Por esse motivo, o apóstolo Paulo e a teologia chamam a esposa de José de “Nova Eva, isto é, portadora da Vida. Na Virgem, a humanidade foi repensada e Deus se fez terreno, nos aproximando da Eternidade. Ao conceber o Verbo Divino, Ela reatou o contato com o Infinito. Além de sua excelsitude, é também a “Compadecida”, na expressão de Ariano Suassuna. Repitamos com fervor as palavras do hino à Nossa Senhora da Piedade: “Mãe, coloca teu povo, agora, na palma da mão de Deus.”

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