A liturgia da Palavra de hoje nos coloca diante de um desafio profundo e de uma inspiração poderosa. No Evangelho, Pedro pergunta a Jesus quantas vezes deve perdoar seu irmão. A resposta de Jesus, "setenta vezes sete", não é um número literal, mas uma maneira de dizer que o perdão deve ser ilimitado, constante, um estado de espírito que nos define como cristãos. Essa é uma tarefa árdua, sabemos. Nossos corações, tantas vezes feridos, relutam em perdoar. Guardamos mágoas, ressentimentos, e construímos muros que nos separam uns dos outros e, em última análise, de Deus.
O sacrifício de São Maximiliano Kolbe
Neste dia, a Igreja nos apresenta um testemunho que nos ajuda a compreender a profundidade desse ensinamento. Celebramos a memória de São Maximiliano Maria Kolbe, um presbítero e mártir que levou a sério, e de uma maneira radical, a palavra de Jesus. Kolbe viveu em um tempo de trevas, no campo de concentração de Auschwitz. Ali, em um ambiente de desumanização total, ele foi capaz de manifestar o amor de Cristo de uma forma inesquecível.
Quando um prisioneiro escapou, a punição foi a escolha de dez homens para morrer de fome, como forma de represália. Um desses homens, Franciszek Gajowniczek, gritou que tinha esposa e filhos e suplicou por sua vida. Foi neste momento, neste abismo de desespero, que São Maximiliano Kolbe se ofereceu para tomar o lugar dele. Ele, livre de quaisquer laços familiares imediatos, se entregou por um estranho. Um ato de amor que superou a lógica humana, a lógica da sobrevivência, para abraçar a lógica do Evangelho.
Kolbe não apenas ofereceu sua vida; ele permaneceu um farol de esperança para os outros prisioneiros. Conta-se que, na cela da morte, ele confortava seus companheiros, rezava com eles e, em meio ao sofrimento, conduziu-os à esperança em Deus. Ele viveu o "setenta vezes sete" de Jesus não apenas no perdão, mas na entrega total. Ele perdoou os seus algozes de forma concreta, com um ato que é o ápice do amor.
O perdão ilimitado
A história de Kolbe é um lembrete de que o perdão ilimitado não é apenas uma ideia bonita; é uma força transformadora que pode florescer mesmo nos solos mais áridos da maldade humana. O perdão de Kolbe não foi fácil, mas foi o que o libertou. Libertou sua alma, sua consciência, de qualquer mágoa, e o fez um reflexo puro do amor de Deus.
Hoje, somos convidados a olhar para nossas próprias vidas. Onde estamos guardando rancor? De quem nos separamos por falta de perdão? A mensagem de Jesus e o exemplo de Kolbe nos dizem: o perdão é o caminho para a verdadeira liberdade. Não é um perdão que esquece a dor, mas um que a transcende com o poder do amor.
Que a intercessão de São Maximiliano Kolbe nos ajude a abrir nossos corações. Que, diante da tentação de guardar ressentimentos, lembremos de seu sacrifício. Que possamos, a cada dia, praticar o perdão "setenta vezes sete" em nossas famílias, comunidades e em nosso próprio coração.
Amém.