domingo, 24 de agosto de 2025

A Porta Estreita da Democracia: Uma Crônica dos Nossos Tempos (Diác. Edson Araújo)

"Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque muitos procurarão entrar e não conseguirão." (Lucas 13:24)

Na passagem do Evangelho de Lucas, Jesus nos ensina sobre a porta estreita que conduz à salvação, advertindo que muitos buscarão entrar, mas poucos conseguirão. Não por falta de oportunidade, mas por escolherem o caminho mais fácil, o atalho, a ilusão de que podem burlar as regras eternas da justiça e da retidão.

Que estranha coincidência encontramos em nossos dias! Os áudios revelados nesta semana nos mostram uma família que, acostumada aos palácios do poder, descobriu tardiamente que a porta da perpetuação autoritária é ainda mais estreita que a da democracia. Entre palavrões e humilhações, entre o desespero de quem perdeu uma eleição e a arrogância de quem se julga acima das leis, vemos desenrolar-se um drama que Jesus já havia antecipado há dois mil anos.

"Senhor, são poucos os que se salvam?" - perguntaram ao Mestre. A questão ecoa em nossos corredores políticos: são poucos os que se salvam das tentações do poder absoluto?

O ex-presidente, como o rico da parábola, bateu na porta do golpe pensando que sua influência passada lhe garantiria entrada. "Senhor, abre-nos, comemos e bebemos na tua presença", diriam os contemporâneos de Jesus. "Senhor, governamos e legislamos em teu nome", poderiam dizer os poderosos de hoje. Mas a resposta divina é clara: "Não sei de onde sois; apartai-vos de mim, todos os que praticais a iniquidade."

A tentativa desesperada de enviar o filho ao estrangeiro em busca de socorro lembra aqueles que, na parábola, buscam reconhecimento por terem estado próximos ao poder: "Ensinaste em nossas praças!" Mas de que adianta ter caminhado pelos palácios se o coração permaneceu fechado à justiça? De que vale ter ocupado os mais altos cargos se a alma se corrompeu pela sede insaciável de mando?

Os áudios revelaram algo que Jesus já sabia: quando a casa está dividida contra si mesma, ela não pode subsistir. O filho que humilha o pai, o pai que sacrifica a dignidade familiar em nome do poder perdido - tudo isso são sinais de que escolheram a porta larga da corrupção moral, acreditando que ela os levaria à salvação política.

"E haverá choro e ranger de dentes quando virdes Abraão, Isaque e Jacó e todos os profetas no reino de Deus, e vós lançados fora."

Quantos líderes verdadeiros, quantos servidores públicos íntegros, quantos cidadãos honestos verão seus nomes honrados pela história, enquanto aqueles que se julgavam donos do poder descobrirão que construíram suas carreiras sobre areia movediça?

A democracia, como o Reino de Deus, tem suas próprias leis. Não se entra nela pela força, nem se permanece nela pela prepotência. Ela exige humildade, serviço, respeito às regras do jogo. Exige que o político seja verdadeiramente público, que governe para o povo e não para si mesmo.

"Eis que os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos."

Quantas vezes na história vimos os poderosos de ontem se tornarem os esquecidos de hoje? Quantas vezes vimos os humildes de ontem serem exaltados pelo julgamento da posteridade? O poder temporal é como a neblina da manhã - parece sólido quando estamos dentro dele, mas se dissipa rapidamente sob o sol da verdade.

A lição dos áudios e da parábola é a mesma: não há atalhos para a legitimidade. Não há golpes que prosperem indefinidamente. Não há mentiras que resistam ao tempo. A porta estreita da democracia exige de cada um de nós - governantes e governados - a coragem da verdade, a paciência da construção coletiva e a humildade de reconhecer que o poder é transitório, mas a dignidade pode ser eterna.

Que esta semana de revelações nos ensine que, na política como na fé, "muitos dos primeiros serão últimos, e muitos dos últimos serão primeiros". E que a verdadeira grandeza não está em se perpetuar no poder, mas em saber servir enquanto se tem a oportunidade, e em saber sair quando chega a hora, deixando um legado de dignidade e não de vergonha.

A porta estreita continua aberta. Para todos. Mas só passa por ela quem tem coragem de deixar do lado de fora a arrogância, a mentira e a sede pelo poder. O resto, como nos ensinam os Evangelhos e a história, é conversa para boi dormir.

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