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Mulheres de Bukavu (AFP or licensors) |
“Sou mãe de quatro filhos que procuro mandar para a escola. Recolho garrafas de plástico vazias e, depois de lavá-las, encho-as com água ou suco de fruta feito com uma preparação em pó, coloco-as no congelador e depois as vendo por 200 francos suíços (menos de 10 centavos de euro)”.
Vatican News
Este é o testemunho de Josephine, recolhido pela agência FIDES. Ela é de Bukavu, capital do Kivu do Sul, no leste da República Democrática do Congo (RDC). A cidade foi conquistada em meados de fevereiro pelos rebeldes do M23, com o apoio das tropas ruandesas. Mas, “enquanto no passado uma mãe que mandava o filho ao mercado deixava-lhe e ele comprava os meus sucos, agora já não é assim é difícil para as crianças comprar” - diz Josephine.
“Em Bukavu, desde o início da guerra do M23, a vida se tornou muito difícil: muitos perderam os seus empregos, muitos já não fazem comércio devido aos saques sistemáticos dos armazéns onde guardávamos as nossas mercadorias. Aqueles que nos trouxeram a guerra saquearam à sua maneira; alguns moradores, vendo que os soldados fugiram e a polícia se foi embora, saquearam os seus concidadãos; também as pessoas que escaparam da prisão saqueiam.
Por causa da guerra, não podemos mais viajar para os mercados vizinhos. Aqueles que ainda tentam se abastecer no mercado de Mudaka têm que pagar altos impostos na rua. Por exemplo, se fizermos compras com 30.000 francos (equivalente a 10 dólares), somos obrigados a pagar 20.000 francos em impostos. Somos bloqueadas, mantidas reféns. Começamos a registrar estupros, mesmo no centro da cidade, embora os pais tentem esconder o crime para que a filha não perca o respeito da população.
Pagar a escola dos meus filhos é difícil devido à falta de dinheiro. Eles tentam ir à escola, mas são expulsos todos os dias. O pai deles era funcionário público e, como outros funcionários públicos, não trabalha. Não temos escolha a não ser nos desenrascar.
Nós, mulheres, estamos mortas, embora ainda estejamos a respirar. Privadas até do pouco que tínhamos, somos deixadas em sofrimento e já não conseguimos sustentar as nossas famílias. No entanto, éramos o pilar da família. Não sabemos mais o que fazer. Dormimos e não sabemos se vamos acordar. Não comemos, não nos vestimos, não viajamos, não vivemos, morremos! Somos vítimas de acordos que nem sequer conhecemos.
Eu pediria ao nosso governo nacional para nos ajudar, antes de tudo, a trazer a paz ao leste do país, comprometendo-nos a todos os níveis, porque os assassinatos são incontáveis. Com paz, tudo se torna fácil; sem paz, nada é possível.
Ao M23, eu diria: quem vem libertar uma pessoa, não a mata! O libertador procura a paz as pessoas. Jesus deu a sua vida, Ele nos libertou. Vocês são assassinos, saqueadores e extorsionários. Dizei àqueles que vos enviaram que nos deixem em paz.
À comunidade internacional, repito as palavras do Papa Francisco: "Tirem as mãos da África!". Vocês são os inimigos número um da República Democrática do Congo: não vindes para o nosso bem, mas para roubar os nossos minerais. Vocês são os que apoiam o M23. Vocês se apresentam como ricos, mas nós, congoleses, somos os ricos. Vocês nos enganam dizendo que estão a ajudar-nos, mas são criminosos de colarinho branco. Vocês não estão interessados na vida dos congoleses, mas no subsolo do Congo. Deixem-nos em paz: ficai nas vossas casas e nós ficaremos nas nossas. Deus nos deu a nossa riqueza: se a querem, venham e peçam por meios legais.
Agora eu saio com as minhas garrafas; amanhã vou vendê-los por alguns centavos... e a vida continua." - remata Josephine.