“Quando a casa tem muitos cômodos”
Era uma vez uma casa. Não era uma casa qualquer — era antiga e viva. Seus muros tinham memória, seu chão guardava pegadas de santos e pecadores, e suas janelas davam para todas as direções do mundo. Dentro dela moravam muitos filhos. Todos diziam: "Essa casa é minha, é nossa!". Mas, curiosamente, cada um decorava seu quarto à sua maneira. Tinha um cômodo onde tudo era solene, com velas e latim, incenso e silêncio. Em outro, havia palmas, cantos de louvor, orações em voz alta e lágrimas de cura. Mais adiante, um quarto com livros abertos, discussões sobre justiça, a pobreza e o Reino de Deus.
Apesar de todos viverem sob o mesmo teto, nem sempre se entendiam. Alguns achavam que os outros estavam “exagerando”, “esfriando” ou “deturpando”. Outros julgavam que “aquilo não era mais Igreja”. E, em vez de sentarem juntos à mesa, muitos começaram a trancar as portas. Foi quando o Dono da casa chegou. Sentou-se no meio, como fazia em Cafarnaum, e chamou um por um, como quem chama irmãos para dividir o pão. Não falou de regras, nem de quem estava certo.
Apenas lavou os pés de todos — com o mesmo cuidado, com a mesma água, com o mesmo amor. Disse então com voz mansa e firme: “Vocês se esqueceram de que são irmãos? Vocês acham que sou dividido? Eu sou o mesmo ontem, hoje e sempre. E a Minha Igreja é como um corpo, com muitos membros, mas um só coração.” Naquele dia, algo mudou. Não foi mágica. Ainda havia diferenças, ainda havia debates. Mas as portas começaram a se abrir. Alguns começaram a visitar os outros quartos. E, aos poucos, perceberam que cada cômodo guardava um pedaço da beleza da casa. E que, se a casa se sustentava firme até hoje, era porque o Dono nunca saiu de lá.
Reflexão final: O ecumenismo dentro da Igreja não é sobre abandonar o que se crê, mas sobre reconhecer que há mais beleza em caminhar juntos do que em vencer argumentos. A Igreja é ampla, rica em espiritualidades, tradições e dons. E o Espírito Santo sopra em cada canto — inclusive nos que ainda não entendemos.