terça-feira, 4 de abril de 2023

Artigo do Pe. João Medeiros fala sobre a Semana Santa

 REFLEXÃO SOBRE A SEMANA SANTA

 




Pe. João Medeiros Filho
Arquidiocese de Natal

 

 

A Semana Santa é a celebração do amor de Deus. E ninguém pode duvidar: esse amor pelo ser humano, diante da lógica, chega a beirar a insanidade. Loucura do Pai, que se plenifica na entrega de seu Filho único à morte, a fim de que ninguém se perca. A Morte e a Ressurreição de Cristo são a prova maior de seu amor para conosco. Traduzem os sentimentos do Pai por nós. Jesus aceitou padecer e aniquilar-se na cruz para demonstrar nossa condição, o nada de nosso ser. Mas, Ele ressurgiu dos mortos para revelar o nosso destino, a grandeza divina que existe em nós.

Na Semana Santa há um apelo para a descoberta mais profunda de Cristo, vítima de uma sociedade injusta, que mata inocentes e indefesos. Jesus desconcerta-nos, mostrando-nos que o projeto de Deus é diferente. A uma sociedade competitiva, que privilegia a concentração de bens e poder, gerando discriminação e violência, alienando pessoas e marginalizando outras, Cristo acena com o despojamento capaz de trazer a paz para o ser humano. A um mundo que procura desconhecer os laços de nossa fraternidade, Ele aponta a força da solidariedade, que salva vidas e traz esperança, como fizera com todos, sobretudo, com os mais desprezados e despossuídos, simbolizados pelo bom ladrão, ao pé da cruz.

Renova-se o mistério da dor e da vida. O Filho de Deus assume a realidade humana com tudo o que ela tem de esperança e desespero. Sua morte é a manifestação da fragilidade de nosso ser; sua Ressurreição, o sinal da dimensão infinita do homem. É nossa história presente na Semana Santa. Não celebramos apenas fatos do passado. Comemoramos tudo o que somos e Cristo encarnou, quando se “fez homem e habitou entre nós” (Jo 1, 14). Sofrendo, Jesus desmascara a estrutura injusta da humanidade; ressurgindo, proclama a vitória contra o pecado, simbolizado na morte e na angústia humana.

Nós cristãos revivemos, durante a Semana Santa, este grande gesto de amor e misericórdia de Deus, manifesto na Paixão do Senhor. Somos também convidados a abraçar com coragem e confiança nossas cruzes, a assumir nossos sofrimentos e a oferecer tudo, como oferenda agradável ao Pai, a fim de que pela nossa participação na Paixão de Cristo, possamos prolongar no tempo e no espaço a sua obra salvífica.

Maria é o grande modelo de vivência da Semana Santa. Sua presença, ao pé da cruz do Filho, permanece como exemplo perfeito e perene de seguimento a Cristo. Nossa Senhora foi a mulher das dores, pois acompanhou bem de perto cada passo do seu amado Filho. Ela é a primeira entre os poucos discípulos, que foram fiéis a Jesus até o fim. A única chama de fé que permaneceu acesa naquele momento obscuro e de dura prova para os discípulos do Senhor. Foi por causa da firmeza na fé de Maria e sua incomparável fidelidade ao plano do Pai, que Jesus, já pregado na cruz e servindo-se de suas últimas forças humanas, deixa-nos a Virgem Santíssima como Mãe e modelo perfeito de todo discípulo do Senhor.

Maria, ontem, hoje e sempre, convida-nos a renovar nosso sim a Deus, tantas vezes quantas forem necessárias, a estar ao lado de cada irmão que sofre ou se alegra, a abandonarmo-nos a Deus, ensinando-nos a abraçar com firmeza e fé nossas cruzes de cada dia, com os olhos fixos no horizonte da ressurreição.

Não podemos esquecer que a última mensagem de Cristo não foi o silêncio da morte nem seu último gesto o túmulo lacrado. A Semana Santa é o convite da Igreja a acreditar que nossa cruz é também libertadora e se Ele ressuscitou dos mortos, também nós haveremos de ressurgir de tudo aquilo que nos deixa prostrados e abatidos. É preciso ter sempre em mente que Deus levanta-nos igualmente ao alto de nossas cruzes para que possamos divisar melhor o que Ele nos reserva de belo e grandioso, capaz de nos assegurar a paz e a alegria. São Paulo já dizia que Deus confunde os fortes e poderosos com a aparente fraqueza humana. Aquilo que aos olhos do mundo parece nossa derrota, será a nossa vitória, pois é a força divina em nós!

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