As leituras de hoje nos convidam a refletir sobre a fidelidade a Deus em meio às tentações do mundo. Elas nos mostram como o coração humano, quando dividido entre Deus e os ídolos, perde o rumo e se afasta da verdadeira vida.
O livro dos Juízes nos apresenta um ciclo doloroso: o povo de Israel abandona o Senhor, segue os ídolos, sofre as consequências, clama por libertação, e Deus, em sua misericórdia, envia juízes para salvá-los. Mas logo voltam a cair. É um retrato da instabilidade espiritual que nasce da infidelidade.
Esse texto nos alerta: quando deixamos de cultivar nossa relação com Deus, facilmente nos seduzimos por outros “baalins” modernos — o poder, o dinheiro, o prazer, o ego. E como Israel, também nós experimentamos o vazio e a escravidão espiritual.
O salmista faz memória dos pecados do povo, mas também da misericórdia de Deus. Ele clama: “Lembrai-vos de mim, Senhor, segundo o amor que tendes ao vosso povo.” Esse é o clamor de quem reconhece sua fragilidade, mas confia na fidelidade divina.
O salmo é um convite à conversão: reconhecer nossos desvios e voltar ao Senhor, que não nos abandona, mesmo quando somos infiéis.
O Evangelho nos mostra o jovem rico sendo sincero em sua busca: “Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna?” Mas quando Jesus o chama a dar tudo, seu coração revela-se dividido. Ele vai embora triste, pois possuía muitos bens.
Aqui está o ponto central: seguir Jesus exige entrega total. Não basta cumprir mandamentos; é preciso deixar tudo que nos prende e confiar inteiramente no Senhor. O jovem queria a vida eterna, mas não estava disposto a abrir mão do que lhe dava segurança.
Quantas vezes também nós queremos seguir Jesus, mas colocamos condições? “Senhor, eu te sigo, mas deixa eu manter este apego, este hábito, este conforto…” Jesus nos olha com amor, como olhou aquele jovem, mas também nos desafia: “Vem e segue-me.”
Hoje somos convidados a examinar nosso coração: há algo que nos impede de seguir Jesus com liberdade? Estamos presos a bens, ideias, medos, ou vaidades?
A fidelidade a Deus não é apenas uma questão de cumprir regras, mas de amar com inteireza. Quando damos tudo, recebemos tudo. Quando confiamos, somos libertos. Quando seguimos Jesus, encontramos a verdadeira vida.
Que esta liturgia nos ajude a romper com os ídolos que nos afastam de Deus e a renovar nossa entrega ao Senhor, que nunca nos abandona.