Hoje, ao celebrarmos a memória de São Pio X, Papa, somos convidados a refletir sobre a radicalidade do chamado de Deus e a resposta generosa que Ele espera de cada um de nós. São Pio X foi um homem profundamente comprometido com a renovação espiritual da Igreja, especialmente por meio da promoção da comunhão frequente e da catequese. Seu lema, “Instaurare omnia in Christo” — “Restaurar todas as coisas em Cristo” — ecoa fortemente nas leituras desta Liturgia.
A primeira leitura nos mostra a história de Jefté, que é dramática e desconcertante. Movido pelo Espírito do Senhor, ele faz um voto imprudente, oferecendo em sacrifício quem primeiro saísse de sua casa — e acaba sendo sua própria filha. Este relato nos provoca a pensar sobre os limites da religiosidade mal compreendida e nos alerta para o discernimento espiritual. O zelo por Deus não pode ser confundido com fanatismo ou falta de sabedoria. Deus não deseja sacrifícios humanos, mas corações convertidos e vidas entregues com amor.
O salmista de hoje, nos recorda: “Com prazer faço a vossa vontade, Senhor”. Aqui está o verdadeiro sacrifício agradável a Deus: a obediência amorosa, a escuta da Palavra, a disposição de viver segundo os desígnios divinos. É essa atitude que São Pio X encarnou em sua missão pastoral, buscando sempre a vontade de Deus para a Igreja.
E no Evangelho, Jesus nos apresenta a parábola do banquete nupcial. O rei convida muitos, mas poucos aceitam. Alguns rejeitam, outros ignoram, e até maltratam os mensageiros. Por fim, o convite é estendido a todos — bons e maus — mas há uma exigência: estar com o traje adequado. Esse traje representa a vida transformada pela graça, a conversão verdadeira, o compromisso com o Reino.
A parábola nos ensina que o chamado de Deus é universal, mas a resposta exige compromisso. Não basta estar presente; é preciso estar preparado, revestido da justiça, da caridade, da humildade. São Pio X compreendeu isso profundamente: ele não apenas respondeu ao chamado, mas se revestiu da missão de pastor, reformador e servo fiel.
Hoje, somos convidados a renovar nosso “sim” ao Senhor. Que tipo de traje espiritual temos usado? Estamos prontos para o banquete do Reino? Que nossa fé não seja apenas ritual, mas vivência autêntica. Que aprendamos com Jefté a discernir melhor, com o salmista a obedecer com alegria, e com São Pio X a restaurar tudo em Cristo.
Que esta memória litúrgica nos inspire a viver com mais profundidade nossa vocação cristã, especialmente no ministério diaconal, como servidores da Palavra, da liturgia e da caridade.