Nos seminários e casas
de formação eclesiástica, os futuros padres
estudam homilética, uma disciplina voltada para a metodologia e as técnicas de pregação:
homilias, sermões, panegíricos etc. No passado, os bacharéis em ciências
jurídicas aprendiam retórica em função dos tribunais. Hoje, existem cursos específicos para ensinar a
falar em público, como desenvolver o conteúdo, usar adequadamente as palavras,
empregar a impostação de voz e gesticulação, levando em conta as diferentes profissões.
Aqui no RN, alguns cursos fazem sucesso nesse
ramo. Os profissionais da retórica são
procurados especialmente por comunicadores, operadores do direito e candidatos
em campanhas eleitorais.
Não é fácil falar em público, sobretudo diante de uma plateia heterogênea em termos de faixa etária, formação, nível intelectual etc. Tal é a assembleia das igrejas. Em geral, confundem-se sermão e homilia. Esta é uma palavra grega, que significa literalmente conversa em família. Trata-se de reflexão, comentário de cunho vivencial e meditação sobre um texto bíblico ou assunto espiritual. O sermão (étimo derivado do latim, indicando fala do púlpito) é um discurso adversativo, normatizador, abordando temas dogmáticos e éticos. Ambos diferem do panegírico (termo grego, significando elogio) que é uma peça laudatória. Na administração dos sacramentos e celebração da missa, requer-se uma homilia, pois se pretende algo reflexivo e mais próximo do coloquial.
Soe acontecer que os sacerdotes, em lugar de pronunciar uma homilia, fazem um sermão. E quando este deve ser proferido, acabam por realizar uma espécie de catilinária. Nos sermões e panegíricos cabe uma linguagem mais castiça, havendo lugar para os puristas da língua. A homilia deve ser enxuta, objetiva e pastoral. Nela deve brilhar o mistério eucarístico ou sacramental, e não o padre. O Papa Francisco recomendou: “A homilia não deve durar mais de oito minutos, porque depois desse tempo, a atenção se perde e as pessoas dormem.” Toda prédica exige cuidado e atenção.
Apesar de quase sessenta anos de ministério
sacerdotal, sempre procuro preparar minhas falas, sobretudo hoje com as redes
sociais. Quando pároco em Caicó (RN), escrevia os tópicos e esquemas de minhas
reflexões. Monsenhor Lucas Batista
Neto ainda se recorda de meus cadernos, contendo sínteses e roteiros homiléticos. Preocupo-me
em não repetir falas. A vida é dinâmica, por isso os conteúdos e formas necessitam
ser atualizados.
Em Natal, há cerca de oito anos, após a missa de domingo, uma mulher gentil e esclarecida pediu para falar comigo. Pensei tratar-se de problema familiar ou confissão. Ela abordou o assunto das homilias. Naquele dia, Deus me inspirou. Fui conciso, objetivo e pautado no Evangelho. A senhora dissera-me: “Não costumo ouvir sermões e homilias. Uns são demorados e enfadonhos; outros, teóricos. Vários descambam para assuntos religiosamente irrelevantes. Em geral, os padres pregam mais de vinte minutos. Em um terço da exposição tratam de pecado, inferno e costumes. Durante o mesmo tempo, escolhem o pântano da política. Destinam os minutos restantes a um insistente pedido de dinheiro. E Deus onde fica, Padre?” Quanto à forma, comentou: “As pregações costumam ser recheadas de reprimendas, carões, sem propostas razoáveis.” Isso leva-nos a pensar.
Quando jovem
presbítero, era arrebatado. Achava bela a retórica de alguns pregadores: Dom
Nivaldo, Dom João Portocarrero, Monsenhor Walfredo, Padres Luiz Wanderley, Bianor
Aranha e outros. Gostava das frases bem elaboradas, por vezes gongóricas, pronunciadas
do púlpito. Deliciava-me, escutando a sinonímia e as metáforas. Encantava-me Padre
Manuel Vieira, diretor do antigo Ginásio Diocesano de Patos (PB), orador
brilhante, muito solicitado para falar em festas de padroeiros. Lembro-me de suas
belíssimas palavras sobre a caridade, proferidas na Catedral de Sant’Ana, em Caicó.
O povo vibrava com
sua eloquência.
A uma moça embevecida diante das palavras do orador, foi
perguntado qual o assunto da pregação. Ela respondeu: “O padre disse tantas coisas bonitas, mas o assunto não
sei.” Faz-me refletir o comentário de Mário Quintana sobre as falas
eclesiásticas: “Nada das celestiais promessas ou das terríveis maldições. Se eu
fosse um padre, citaria os poetas, porque a poesia purifica a alma... Um belo poema sempre leva a Deus!” O Livro dos
Provérbios lembra: “A Palavra [sagrada] é a mais preciosa de todas as joias”
(Pr 3, 15).