sábado, 29 de março de 2025

A CRISTOLOGIA PAULINA E JOANINA (artigo do Diác. Paulo Gabriel)


Diácono Paulo Gabriel Batista de Melo
Capelania Nossa Senhora do Loreto
Ordinariado Militar do Brasil – Parnamirim (RN)


Para descrever a narrativa dos fatos que aconteceram, e que deles descreveu o apóstolo das missões – Paulo - e também o descreveram o discípulo amado – João, É necessário mergulhar e fazer uma imersão em seus escritos. Por isso, analisemos o que eles escreveram.

Também se debruçou sobre esta questão o Santo Padre Joseph RATZINGER, ou Papa Bento XVI, em sua maravilhosa trilogia ‘Jesus de Nazaré’, um clássico da cristologia católica.

2.1 CRISTOLOGIA JOANINA

A cristologia joanina aborda questões importantes da teologia cristológica, como, Cristo o Senhor da história, o Todo-Poderoso.

O livro da Bíblia que nos mostra com perfeição essa cristologia é o do Apocalipse, ele fecha a Bíblia com sua última palavra – Amém – que quer dizer assim seja.

Betencourt1 (2009, p. 27), diz que este livro nos mostra “a visão que tinham os primeiros cristãos sobre Cristo”. João escreve o Apocalipse para consolar os cristãos, pois estes eram perseguidos pelos judeus e pelos pagãos, mortos pelo imperador e assim ele os quis consolar e manter sua fé viva.

Muitas pessoas acreditam que o livro do Apocalipse é um livro sobre o fim do mundo e tem medo de sua leitura, no entanto ele é um livro de revelações. Nada mais há para ser revelado. O “Autor da Salvação” como descreve Hb 5,9 é a última revelação, é a Epifania do Senhor. Ler este livro é aprofunda mais o nosso conhecimento a respeito da pessoa de Jesus e da cristologia.


Tabela 1 – descrição do Livro do Apocalipse


Livro do Apocalipse

Capítulo 1

Jesus Cristo Glorioso e a autoria de João como narrador dos fatos de sua visão beatífica

Capítulo 2-3

Mostra a vida das sete comunidades da Ásia Menor, hoje conhecida por Turquia

Capítulo 4-5

Descreve a Corte celeste

Capítulo 12

A batalha final

Capítulo 11-19

Cristo Rei do Universo

Capítulo 22

Diálogo entre a Igreja (esposa) e Cristo (esposo)

Elaborado segundo Betencourt (2009, p. 35-39)

A cristologia joanina também se refere a Cristo como o Pantokrátor, ou seja, o Todo-Poderoso, e essa visão permeia todo o livro do Apocalipse, vejamos o que ele descreve no capítulo primeiro:

Voltei-me para saber que voz falava comigo. Tendo-me voltado, vi sete candelabros de ouro e, no meio dos candelabros, alguém semelhante ao Filho do Homem, vestindo longa túnica até os pés, cingido o peito por um cinto de ouro. Tinha ele cabeça e cabelos brancos como lã cor de neve. Seus olhos eram como chamas de fogo. Seus pés se pareciam ao bronze fino incandescido na fornalha. Sua voz era como o ruído de muitas águas. Segurava na mão direita sete estrelas. De sua boca saía uma espada afiada, de dois gumes. O seu rosto se assemelhava ao sol, quando brilha com toda a força. [grifo nosso]

Para Betencourt (2009, p. 36), há uma correlação e profundo significado em cada palavra na descrição joanina a respeito de Jesus, conforme ele mesmo mostra, vejamos:

Filho do Homem – designativo do Messias e juiz

Longa túnica – representa o seu sacerdócio

Cinto de ouro – mostra a sua realeza

Cabelos brancos – uma designação da eternidade

Olhos eram como chamas de fogo – representa a ciência divina

Pés se pareciam ao bronze fino - uma alusão a estabilidade

Sete estrelas – as comunidades cristãs da Ásia Menor

Espada afiada – ponta para a Palavra viva e eficaz de Deus

Rosto se assemelhava ao sol – uma descrição de sua majestade soberana.

Nos mostra ainda Betencourt (2009, p. 37), que a leitura joanina do Apocalipse nos permite ver uma profunda ligação de Cristo com o Pai, até mesmo uma equiparação, segundo ele, por três motivos: por receberem a mesma adoração, por sentarem juntos no mesmo trono e por serem fonte de luz e de glória.

O Evangelho de João também nos mostra logo no início que o “Autor da Vida” (Cf. At 3:15), é o verbo Divino e que por meio do verbo tudo foi feito, “com Ele, por ele e n’Ele”, como rezamos na Oração Eucarística nas Santas Missas.

Percorrendo todo Novo Testamento encontramos diversos títulos atribuídos a Jesus o Cristo, o Messias, o ungido do Senhor, como vimos anteriormente uma longa lista:

  1. O Filho do Homem

  2. Senhor

  3. Cristo

  4. O Servo de Javé

  5. Filho de Deus

  6. Deus

Também encontramos em diversos documentos apócrifos que se referem ao Cordeiro Pascoal (Cf. Jo 1:29; Jo 1:36), e falam de sua vida e missão, como por exemplo as cartas do governador da Judéia Públio Lêntulo, também do decreto de Pôncio Pilatos, da coletânea de documentos apresentados na Obra de Armand Puig (Jesus uma biografia), e de José Antonio Pagola (Jesus uma aproximação histórica).

2.2 CRISTOLOGIA PAULINA

O apóstolo Paulo tem sua primeira experiência com O Ressuscitado na estrada para Damasco, e sua teologia está centrada em um Jesus ressurecto.

Segundo Betencourt (2009, p. 27), a cristologia paulina aborda, entre outros pontos:

  • A preexistência e encarnação do verbo: Jesus como Deus, preexiste antes de todos os séculos. Em sua carta aos Filipenses Paulo nos mostra um hino cristológico sobre este ponto. Cf. Fl 2, 6-11.

Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso, Deus o exaltou soberanamente e lhe outorgou o nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos. E toda língua confesse, para a glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é Senhor.

Para Betencourt (2009, p. 27), Encontramos ainda textos da preexistência de Deus nas cartas paulinas confira em: Gl 4, 4; 2Cor 5, 21;1 Tm 3, 16. A reflexão que Paulo faz Tm 3, 16 nos mostra a cristologia que reflete:

- Cristo foi manifestado na carne

-Contemplado pelos anjos

- Acreditado no mundo

- Justificado no Espírito

- Proclamado as nações

- Exaltado na glória

  • O Cristo cabeça: Paulo não conheceu o ‘Consumador’ (Cf. Hb 12, 2) missionário, peregrino, mas somente o Jesus glorioso que lhe indagara porque ele estava perseguindo a Igreja. Logo, ele conclui que Jesus Cristo é a Cabeça da Igreja. Cf Cl 1, 15-20; 1Cor 15, 22.

  • O segundo Adão

Betencourt (2009, p. 27), descreve que a terminologia Segundo Adão é tipicamente paulina, como pode ser visto na Carta aos Coríntios 15, 22 “como todos morrem em Adão, assim todos hão de reviver em Cristo”. Também encontrado em Rm 5, 12-21. Também é paulina a expressão que se refere a Mãe de Jesus como Segunda Eva.

  • O Filho de Deus e seu senhorio: Paulo também usa essa terminologia de Filho de Deus, como aquele que preexiste antes de tudo, consubstancial ao Pai.

“Deus não poupou o próprio Filho” Cf. Rm 8, 32

  • O Cristo sacerdote (Hb): Paulo faz alusão ao Levítico (Lv 16, 1-4.6.11-19) sobre a expiação dos pecados e diz que agora Cristo é a expiação, o cordeiro imolado com seu próprio sangue e não de ovelhas. Dessa forma o antigo sacerdote é inferior ao novo que é Jesus.

  • O Cristo Rei

Betencourt (2009, p. 33), aponta que “no Antigo Testamento, o sacerdócio era confiado a tribo de Levi, e a realeza a tribo de Judá, a tal ponto que era proibido ao rei usurpar funções sacerdotais; Ozias o fez e foi ferido por lepra. Paulo nos mostra que o sacerdócio de Jesus é “configurado a Melquisedec sacerdote do Deus Altíssimo”.



REFERÊNCIAS

BENTENCOURT, Estevão. Cristologia. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 2009.

RATZINGER, Joseph. PP Bento XVI. Jesus de Nazaré: da entrada em Jerusalém até a ressurreição. São Paulo: Planeta, 2011.

1 BENTENCOURT, Estevão. Cristologia. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 2009.


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