Sob o alpendre de uma antiga casa de fazenda, um pai idoso permanece à espera. Seu olhar se perde na estrada poeirenta que serpenteia entre os campos. Ao seu redor, as flores do jardim balançam suavemente com o vento, mas é no horizonte que está fixada sua esperança.
De longe, uma figura surge. Um jovem de roupas simples e passos hesitantes se aproxima. Carrega em si as marcas do tempo longe de casa – marcas de erros, dores e aprendizados. O pai o avista. Seus olhos brilham, e os braços, antes caídos ao lado do corpo, agora se abrem como asas que anseiam por envolver o tão esperado filho.
A cena parece pausada no tempo, como se o universo segurasse sua respiração. E então, como uma torrente, o pai corre ao encontro do filho. Ele não se importa com a idade, com as rugas, com os pés que já não têm a mesma agilidade de outrora. Seu coração é jovem, renovado pela alegria de ver o filho que volta.
Quando se encontram, o abraço é tão intenso que quase se pode ouvir os murmúrios do perdão. "Pai, pequei contra o céu e contra ti...", começa o filho, mas o pai o interrompe com um sorriso que fala mais do que palavras jamais poderiam. Ele não está interessado no passado – o que importa é o presente, o retorno, a vida que recomeça.
Na varanda, os servos se apressam. Há ordens para uma celebração. Uma mesa será posta, música será tocada, e a casa será tomada pela alegria que só o amor incondicional pode proporcionar. Porém, em um canto, um irmão mais velho observa, de rosto fechado e coração pesado. Ele luta para compreender a graça que o pai distribui de forma tão abundante.
Esta crônica é, ao mesmo tempo, um eco das leituras do 4º Domingo da Quaresma e um convite. Convida-nos a sermos como o pai: dispostos a abraçar, perdoar e celebrar o retorno de quem se perdeu. Chama-nos também a deixar de lado o orgulho que nos faz agir como o irmão mais velho, incapaz de se alegrar com a graça alheia.
E, por fim, nos lembra de que todos somos, em algum momento, o filho pródigo. Perdidos e quebrados, encontramos nos braços de Deus a cura e o amor que restaura. Que nunca hesitemos em voltar para o lar onde somos sempre esperados com alegria.