Por Pe. João Medeiros
O culto a São José teve início no Egito, passando mais tarde para o Ocidente, onde alcança atualmente expressiva receptividade. Em 1870, Pio IX o proclamou Patrono da Igreja. A partir de então, passou a ser festejado no dia 19 de março, próximo à solenidade da Anunciação do Anjo a Maria Santíssima. Durante séculos, foi um tanto esquecido na Igreja ocidental. Isso pode-se explicar pela necessidade de ressaltar o testemunho dos mártires dos primeiros séculos do catolicismo. Na Prece Eucarística I, além dos nomes dos apóstolos, consta a lista de doze martirizados. A inserção de José naquela oração ocorreu em 1962, no pontificado de João XXIII. Este o tinha como protetor, apondo Giuseppe, como um de seus prenomes. Em 2013, o Papa Francisco o adicionou às demais Preces Eucarísticas do Missal Romano.
São José era muito reverenciado pelos eremitas e anacoretas, que viviam no deserto. Observantes do silêncio e da contemplação, veneravam-no como protótipo de tais virtudes. O Novo Testamento não registra palavras pronunciadas pelo santo carpinteiro. Peregrinando no deserto, os monges tinham dificuldades em encontrar água. Rezavam ao Esposo de Nossa Senhora para que lhes saciasse a sede. Acredita-se que por essa razão, tornou-se o padroeiro das chuvas e águas, no Oriente. Segundo o costume hebraico da época, as mulheres dirigiam-se às fontes hídricas. É clássico o episódio da samaritana, à beira do Poço de Jacó (Jo 4, 5ss). Em Nazaré, José substituiu Maria, que grávida, não podia dirigir-se aos mananciais para apanhar água. Nasceu, então, o seu culto como o santo das chuvas, de grande devoção dos nordestinos.
Os sertanejos esperam que chova no dia de sua festa. Acreditam que se houver precipitação pluviométrica nessa data (ou perto dela) é sinal de um inverno copioso. A crença religiosa é explicável também cientificamente, pois perto da data festiva ocorre um fenômeno no movimento da terra, denominado equinócio do outono. O saber popular, apesar de não gozar de precisão científica, é digno de crédito. Para o homem do campo, o conhecimento pragmático é verdadeiro e fidedigno. Ele faz a leitura do universo, a partir das experiências cotidianas.
No equinócio do outono os dois hemisférios terrestres estão igualmente iluminados pelo sol. A incidência dos raios solares na linha do equador acaba atraindo ventos úmidos para a região nordeste, geralmente fazendo chover. Assim, a religiosidade apresenta uma fundamentação meteorológica. O dia 19 de março acontece perto do equinócio outonal, quando o sol, em sua órbita, passa a influenciar o hemisfério norte. Ressalte-se o posicionamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). Para Oswaldo Lamartine, considerado o doutor potiguar da cultura dos sertões, formado pela Escola de Agronomia de Lavras (MG), “a crença sertaneja tem amparo científico.”
Faz sentido para a região do nordeste brasileiro, por conta de sua posição geográfica. Existe uma faixa de terra praticamente paralela ao equador em que os ventos do hemisfério sul se encontram com os do norte, que são ventos alísios. Essa zona de convergência intertropical é de grande importância para as chuvas. A mudança acontece com a chegada do outono, em 20/21 de março, quando há redução de temperaturas e aumento de umidade. Isto faz com que os sistemas meteorológicos fiquem mais carregados. E o Senhor “cobre o céu de nuvens e prepara as chuvas para a terra” (Sl 147/146, 8).
Os dados da ciência são reforçados pela religiosidade. Em Caicó (RN), como pároco de uma comunidade, dedicada a São José, lidei com as “experiências e profecias” dos sertanejos sobre o dia de sua festividade. A fé no padroeiro dos operários é tanta que muitos agricultores plantam milho e outras sementes no dia 19 de março, confiando na colheita para as festividades juninas de São João e São Pedro. Não se pode desprezar as possibilidades de verificação do universo no dia-a-dia do camponês. Tal como os meteorologistas que fazem suas previsões, através da leitura das condições atmosféricas, da temperatura dos oceanos, das condições dos ventos e outros fenômenos da natureza, o rurícola tem seus métodos próprios para fazer a previsão do tempo. “E Deus mandou do céu chuvas e colheitas, dando alimento e alegrando os vossos corações” (At 14, 17).
Pe. João Medeiros Filho
Arquidiocese de Natal
Membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras