sábado, 27 de setembro de 2025

Mãe que não perdeu a fé após o suicídio do filho: “Jesus está comigo”

Kristina Knez | Aleteia



Assinalamos o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio. Sobre como enfrentou o luto, fala uma mãe que perdeu o filho por suicídio.

Irena Vadnjal é casada com Marko há 41 anos; no matrimônio nasceram quatro filhos: Matej, Maja, Luka e Petra. Despediram-se de Luka há três anos. Ao longo da vida, Irena fez de tudo um pouco, mas, ultimamente, depois do trabalho, prefere relaxar e se acalmar com trabalhos manuais: costura, tricota e faz crochê.

Como você se lembra do seu filho, como ele era?

Luka era uma criança maravilhosa, sempre alegre, sorridente. Era um pequeno gênio, pulou o segundo ano do ensino fundamental, tinha um talento extraordinário para áreas técnicas, mas também para a escrita, o que só descobrimos após sua morte, quando as amigas trouxeram poemas e cartas que ele havia escrito. Também praticava escalada esportiva, gostava de filmar. No ensino médio, criou vários projetos que nós só vimos depois de sua morte. Era modesto, não gostava de se expor, mas estava sempre pronto a ajudar os outros.

Ficamos muito comovidos quando um colega de classe dele, que por acidente se tornou tetraplégico, trouxe uma gravação que o Luka enviou à mãe dele quando o rapaz estava no hospital. Era uma mensagem de encorajamento, na qual o animava a não desanimar.

Na época da pandemia, ele sofreu com o término do namoro, mas também com a solidão e o isolamento. Não tinha nenhum diagnóstico psiquiátrico, embora eu depois tenha me perguntado se deveria tê-lo levado a algum lugar. De certo modo, ele vagava, não se encontrava, tentava muitas coisas, parecia que procurava algo. Após o seu suicídio, ocorreu-me que ele buscava a Deus. Aqui não O encontrou, mas encontrou um atalho até Ele.

Como você viveu os primeiros dias, semanas e meses após a morte dele? O que foi mais difícil?

No meu caso, posso dizer que eu estava sob efeito de medicação e tudo ficou meio envolto em neblina. A sensação descrevo melhor com a palavra “cintilação”: você sente inquietação, não sabe onde se colocar, o que fazer. Os primeiros meses foram passando, primeiro é preciso acertar as coisas do funeral, depois é preciso arrumar. Aos poucos foi preciso aceitar que o mundo segue adiante, levantar todo dia de novo e, de algum modo, viver.

Só quando meu marido e eu entramos num programa trimestral para enlutados por suicídio de familiares, com o pe. Ivan Platovnjak, é que ali nos confrontamos com perguntas que havíamos empurrado por dois anos e meio. Quando você responde com sinceridade, fica mais fácil. Em casa falamos pouco do Luka, porque cada um faz o luto à sua maneira. Eu falaria mais, mas toda vez que o menciono, o ambiente congela. Outras mães também me disseram que em suas casas é igual – as pessoas têm medo desse tema, porque não sabem o que ele trará, e, por isso, preferimos ficar no conhecido.

No grupo, você encontra um espaço onde pode partilhar. Só de se preparar para o encontro e escrever as respostas, muita coisa se resolve; quando você fala sobre isso, mais ainda. Alguma dor sempre permanece. Minha filha mais velha disse que, quando está difícil, ela se ajuda escrevendo. Eu não conseguia escrever, até ser “obrigada” no grupo; agora vou descobrindo, aos poucos, que isso também pode curar.

Irena Vadnjal

Onde você buscou consolo nesse período difícil?

A primeira reação, instintiva, foi a oração: “Jesus, eu não entendo isso.” Sempre que me apertavam as perguntas “Por quê? Como? Qual é o sentido? Por que eu tenho de sofrer? Por que o Luka teve de sofrer assim?”, eu colocava tudo num pacote e entregava a Ele. Sempre recebi consolo, nunca fiquei no vazio. Os não crentes diriam que é efeito psicológico, mas eu creio. Tenho consciência de que conservar a fé num sofrimento assim é uma grande graça e não julgo ninguém que, após qualquer tragédia, diga que já não acredita em Deus. Minha fé já tinha sido provada antes e eu já havia recebido grandes graças, por isso não tive dúvida de que Jesus estava comigo.

Também liguei muitas coisas ao passado. Durante anos, todas as manhãs, a caminho de Ljubljana, eu rezava por diversas pessoas e para que meus filhos voltassem a Deus. Na adolescência, após a crisma, todos tomaram seus próprios rumos. Quando perdi meu filho, pensei se eu não teria rezado “errado”… Curioso é que eu costumava terminar essas súplicas justamente perto da residência estudantil onde o Luka mais tarde cometeu suicídio.

Como a sua vivência da tristeza e da dor muda com o tempo?

Ainda tenho dificuldade em olhar as fotos dele, porque cada uma me lembra o momento em que eu o fotografei. No início, eu simplesmente não conseguia falar – sobre ele, sobre a morte – nem conseguia atender o telefone. Houve uma fase em que eu não conseguia mais cantar. Não deu até este ano, quando estivemos em Medjugorje. A garganta estava literalmente travada.

A dor nunca desaparece, mas com o tempo se transforma em algo mais suportável. No começo, o que mais me preocupava era onde o Luka estaria agora, pois sempre nos ensinaram que o suicídio é pecado mortal. Uma frase de uma mãe do grupo me tranquilizou: “Se nós, pais comuns, jamais permitiríamos que nosso filho sofresse, como Deus poderia permitir isso?”

Lembro-me de um pensamento que estava em mim após o suicídio dele: “Espero que ele tenha demorado tempo suficiente caindo para se agarrar à mão de Jesus.” Em mim há fé na vida eterna. Percebo isso até em não crentes, que gostam de dizer: “Nos vemos além do arco-íris.” Eles também se apegam a essa frase, porque todo pai carrega em si a esperança de um reencontro.

Fiquei muito em paz quando um padre, em Sveta Gora (Santo Monte), onde meu marido e eu encomendamos missas gregorianas pelo Luka, me disse: “Luka já está no céu. Quão grande deve ter sido o seu sofrimento, para que só pudesse terminá-lo desse modo!” Naquele momento, respirei aliviada.

Diante de temas difíceis, nos faltam palavras. Muitos talvez queiram dizer algo de consolo, mas não sabem como começar. O que você queria – e ainda quer – que as pessoas digam, e o que é melhor não dizer?

Se não têm o que dizer, que fiquem em silêncio. Mesmo quando alguém se cala, no olhar já se pode sentir tudo o que a pessoa quer dizer, e isso basta. Muitos se esforçaram para encontrar as palavras certas, mas o que realmente ajuda é um pesar sincero ou uma presença silenciosa. Lembro-me de uma amiga que chegou, simplesmente se deitou ao meu lado no sofá e começou a rezar. Outra amiga veio com o marido, sentaram-se perto de mim, e nem sei se conversamos. Lembro-me de como foi bom tê-los ali. Comoveu-me muito quando toda a turma do ensino médio dele veio ao funeral – nada disseram, mas a presença deles significou imensamente para mim.

Que papel a fé teve para você e sua família nessa provação?

Marko e eu vamos à missa quase todos os dias. Lá podemos receber a comunhão e estou convencida de que Jesus nos dá forças para seguir adiante. No começo, eu tomava remédios, mas, após conversar com o diretor espiritual, parei – queria voltar a sentir a vida real, o bom e o ruim. Se você silencia a dor, também não consegue sentir o que é belo. Às vezes penso que talvez assim o Luka se sentisse; ele escreveu a uma amiga, numa carta, que há muito tempo andava “em círculos” e que agora tudo estava coberto por neblina.

Irena Vadnjal

O que você gostaria de poder dizer a jovens ou pais que enfrentam sofrimentos psíquicos na família?

Que procurem ajuda imediatamente. Que não fiquem sozinhos. Mais cedo ou mais tarde, encontrarão alguém que saberá ajudar. O pior é permanecer só – quanto mais você se fecha, menores são as chances de sair dessa angústia. Sozinho, você simplesmente não vê saída. Nosso Luka, ao que parece, já não via saída. Se fosse mais comunicativo, certamente teria conseguido sair dessa aflição.

Quantos jovens cometem suicídio por coisas que, para nós, adultos, parecem pequenas – uma prova para mais ou para menos. Mas, naquela alminha, aquela prova era tudo. Se a criança não se abre sozinha, precisamos ajudá-la a trazer a angústia à tona, porque sozinha ela não sabe se ajudar.

O que podemos fazer, como sociedade, para que tais tragédias sejam o menos frequentes possível?

Minha filha mais nova, hoje no terceiro ano do ginásio (ensino médio), disse, após a morte do irmão, que estudaria psicologia, porque gostaria de ajudar crianças assim a viver melhor. Isso diz muito. Se empurrarmos tudo o que diz respeito à alma e à psique humana para o acostamento, não haverá solução. Enquanto não formos capazes de falar abertamente sobre suicídio, enquanto isso não entrar também nas escolas, permaneceremos aprisionados. Precisamos de um clima social diferente – hoje, na mídia, vemos apenas temas políticos, como os campos de batalha em aberto, os acontecimentos das eleições e onde algo novo está sendo construído. E em nenhum lugar há conteúdo sobre como cuidar de si mesmo. Não apenas para estar “em forma”, para não ter quilos a mais ou diabetes, mas para estar são também na mente e na alma.

Sou grata por ter conseguido chegar a um psiquiatra e a um psicólogo quando precisei, mas conheço um caso em que o tempo de espera por um psiquiatra infantil foi de mais de um ano. Quando você precisa de um psicólogo, precisa com urgência – como quando o apêndice estoura! As pessoas gostam de reprimir suas angústias ou cobri-las com atividades – dizemos a nós mesmos que vamos pedalar um pouco mais, ler as notícias ou ligar a televisão, só para esquecer. A longo prazo, isso não cura. Como sociedade, teremos de redescobrir a lei natural que nos foi dada e os valores que nos ajudam a compreender a vida e o nosso lugar nela.

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