UM DEUS QUE SE COMPADECE DE NÓS
Por Diác. Paulo Gabriel Batista de Melo
A liturgia de hoje nos mostra a
misericórdia de Deus que se compadece do ser humano, com suas lutas e a sua
busca por um mundo de mais amor, e para sua condução necessita de pastores
segundo o coração de Deus, que possa guiar o povo, inspirado por Deus,
corrigindo-os com caridade, para que não se desencaminhem as almas que Deus os
confiou, como nos lembra são Paulo o apóstolo missionário em sua Carta a
Timóteo.
Na primeira leitura, retirada do Livro
do Gênesis, vimos a luta de um homem escolhido por Deus, já pouco se fala de
Esaú que herdara a primogenitura, mas que ao desdenhar de Deus vendeu a sua
primogenitura por um prato de Lentilhas, sabiamente como toda boa mãe que
conhece seus filhos, Rebeca intercede por seu filho Jacó, pois, conhecia o seu
coração, ela está sendo justa, uma vez que Esaú vendera sua primogenitura,
intercedeu pelo filho junto ao esposo Isaac, como faz nossa Senhora por nós.
Jacó sai à noite com sua família, vai
pelo deserto, pelo Vau de Jacob, a noite tudo é tenebroso, leões, chacais,
trevas, medo, ele enfrenta com ‘fé viva’, uma das belas virtudes da Mãe do
Redentor, que mesmo vendo “o Filho nascer num estábulo, acreditou que Ele
era Filho de Deus”, nos diz o Santo
Montfort, no Tratado da Verdadeira Devoção. Nesse Vale ele se encontra com um
homem (um anjo de Deus), e com ele trava intensa luta que se estende até o
nascer do sol, o anjo o manda largar e ele diz “Não te largarei, se não me
abençoares”. Já imagina amados irmãos e irmãs se nós lutássemos por uma bênção
assim? Enfim, o anjo cede e lhe abençoa, porém com uma nova missão recebe um
novo nome, de Jacó passa a ser chamado por Israel, “De modo algum te chamarás
Jacó, mas Israel; porque lutaste com Deus e com os homens e venceste”, ele
vence Esaú pela intercessão de sua mãe que lhe faz justiça, ele luta com Deus
por uma bênção, por isso é agraciado, mas sai ferido da luta. Ao lutarmos por
santidade sairemos feridos também, com cicatrizes feitas em nossa batalha no
mundo, a ponto de Deus se compadecer como veremos no Santo Evangelho, as vezes
parecemos ovelhas sem pastor, tamanha é a nossa luta.
1ª
Leitura: Gn 32, 23-33
De
modo algum te chamarás Jacó, mas Israel; porque lutaste com Deus e venceste.
Leitura
do Livro do Gênesis 32,23-33
Naqueles dias, Jacó
levantou-se ainda de noite, tomou suas duas mulheres, as duas escravas e os
onze filhos, e passou o vau do Jaboc.
Depois de tê-los
ajudado a passar a torrente, e atravessar tudo o que lhe pertencia, Jacó ficou
só. E eis que um homem se pôs a lutar com ele
até o raiar da aurora. Vendo que não podia vencê-lo, este tocou-lhe o nervo da
coxa e logo o tendão da coxa de Jacó se deslocou, enquanto lutava com ele.
O homem disse a
Jacó: "Larga-me, pois já surge a aurora". Mas Jacó respondeu: "Não
te largarei, se não me abençoares". O homem perguntou-lhe: "Qual é o
teu nome?" Respondeu: "Jacó".
Ele lhe disse: "De
modo algum te chamarás Jacó, mas Israel; porque lutaste com Deus e com os
homens e venceste". Perguntou-lhe Jacó: "Dize-me, por favor, o teu
nome". Ele respondeu: "Por que perguntas o meu nome?" E ali
mesmo o abençoou.
Jacó deu a esse
lugar o nome de Fanuel, dizendo: "Vi Deus face a face
e foi poupada a minha vida". Surgiu o sol quando ele atravessava Fanuel; e
ia mancando por causa da coxa. Por isso os filhos de Israel não comem até hoje o
nervo da articulação da coxa, pois Jacó foi ferido nesse nervo.
Palavra do
Senhor.
Em resposta a primeira leitura, o
salmista reforça a luta de um servo fiel a Deus, Jacó, agora chamado Israel, vê
Deus e é justificado, ele suplica ao Senhor por uma causa justa, ele se confia
ao julgamento de Deus que é bom e misericordioso, o salmista nos faz recordar
que temos um Deus maravilhoso que luta conosco e está caminhando ao nosso lado
como caminhou com Israel no Deserto.
Salmo:
16 (17)
R. Verei,
justificado, vossa face, ó Senhor!
Ó Senhor, ouvi a
minha justa causa,
escutai-me e atendei o meu clamor!
Inclinai o vosso ouvido à minha prece,
pois não existe falsidade nos meus lábios! R.
De vossa face é
que me venha o julgamento,
pois vossos olhos sabem ver o que é justo.
Provai meu
coração durante a noite,
visitai-o, examinai-o pelo fogo,
mas em mim não achareis iniquidade. R.
Eu vos chamo, ó
meu Deus, porque me ouvis,
inclinai o vosso ouvido e escutai-me!
Mostrai-me vosso
amor maravilhoso,
vós que salvais e libertais do inimigo
quem procura a proteção junto de vós. R.
Protegei-me qual
dos olhos a pupila
e guardai-me, à proteção de vossas asas,
Mas eu verei,
justificado, a vossa face
e ao despertar me saciará vossa presença. R.
Evangelho:
Mateus 9, 32-38
Ao proclamarmos o Santo
Evangelho, façamos uma exegese das coisas santas, esse alimento que é a
Palavra, pois como diz o Concílio Vaticano II, em que reforça as palavras de
São Gerônimo, “desconhecer as Escrituras é desconhecer a Deus”, e se desconheço
a Deus não o amo, descumpro o primeiro Mandamento que é amar a Deus, não se
pode amar o que se desconhece, exorto a todos uma leitura diária da Palavra,
como reflexão do cumprimento de Amar a Deus sobre todas as coisas.
Exegese
bíblica nada mais é do que uma análise ou um aprofundamento, uma
interpretação do magistério da Igreja Católica, ou ainda pode ser uma
explicação mais detalhada das Sagradas Escrituras. A Etimologia dessa palavra remonta ao grego
arcaico ‘exégésis’ (εξήγηση),
que significa uma “interpretação”.
Mateus,
descreve com detalhes um homem possesso, curado por Jesus, que depois de
expulso o homem começou a falar, somos libertos do inimigo para evangelizar,
denunciar as injustiças sociais, de nossos irmãos que padecem na miséria nas
periferias da vida, abandonados como ovelhas sem pastor, são ovelhas, pois, são
nossos irmãos em Cristo Jesus, nosso guia e pastor.
A
vida de um cristão que quer seguir a Deus, é de uma intensa batalha, nas
palavras de são Paulo “combater o bom combate”. O Cristo não nos prometeu uma
vida fácil, mas nos assegurou que a chegada valeria pena.
Vimos
nos Evangelhos, que o Mestre se retirava para orar, é necessária essa retirada,
pois, o mundo é muito barulhento, como diz o Cardeal Robert Sarah, a ‘Ditadura
do ruído’, uma obra maravilhosa que recomento a leitura, também afirma PP Bento
XVI que “é melhor permanecer em silêncio e ser do que falar e não ser. É belo
ensinar quando se faz o que se diz”, e ainda nos alerta o mesmo papa, “se não
conseguirmos entrar nesse silêncio, sempre ouviremos a palavra de modo
superficial e assim não a compreendemos verdadeiramente”, em sua admiração pelo
cardeal Sarah, o papa Bento XVI disse que “ele é um mestre de silêncio e de
oração interior, a liturgia está em boas mãos”.
A messe é
grande, mas os trabalhadores são poucos.
Proclamação do Evangelho
de Jesus Cristo segundo Mateus 9,32-38
Naquele tempo,
apresentaram a Jesus um homem mudo, que estava possuído pelo demônio. Quando o
demônio foi expulso, o mudo começou a falar.
As multidões ficaram admiradas e diziam:
"Nunca se viu coisa igual em Israel". Os fariseus, porém, diziam:
"É pelo chefe dos demônios que ele expulsa os demônios". Jesus
percorria todas as cidades e povoados, ensinando em suas sinagogas,
pregando o Evangelho do Reino,
e curando todo tipo de doença e enfermidade. Vendo Jesus as multidões,
compadeceu-se delas,
porque estavam cansadas e abatidas,
como ovelhas que não têm pastor.
Então disse a seus discípulos: "A Messe é grande, mas os trabalhadores são
poucos. Pedi, pois, ao dono da messe que envie trabalhadores para a sua
colheita!"
Palavra da Salvação.
Acreditemos nas
promessas de um Deus que é bom e misericordioso, façamos mais silêncio para
poder escutar a Deus.
Salve Maria Santíssima!
REFERÊNCIAS
BENTENCOURT, Estevão.
Cristologia. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 2009.
CARVALHO, César Augusto Saraiva; Carvalho, Mara Lícia Figueiredo Vieira de. Consagra-te! Devocionário. Natal/RN: Mater Dei, 2011.
MELO, Paulo Gabriel Batista. Quem é Jesus para você?. EUA: Amazon, 2025.
MONTFORT, Luiz Maria Grinion de. Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem. PETRÓPOLIS, R. J. RIO DE JANEIRO: Editora Vozes Ltda. - Segunda Edição, 1943.
RATZINGER, Joseph. PP Bento XVI. Jesus de Nazaré: da entrada em Jerusalém até a ressurreição. São Paulo: Planeta, 2011.
SARAH, Robert. A força do silêncio: contra a ditadura do ruído. São Paulo: Edições Fons Sapientiae, 2024.
Citações bíblicas do site https://liturgiadiaria.edicoescnbb.com.br/