Neste 14º Domingo do Tempo Comum, a liturgia nos fala de envio. Jesus escolhe setenta e dois discípulos e os envia dois a dois, sem bolsas, sem sandálias, apenas com a paz como bagagem e a missão de anunciar o Reino de Deus. Isaías, por sua vez, proclama que Deus consola seu povo como uma mãe que acaricia o filho. Há ternura, há missão, há esperança.
Mas e o Brasil? O país que, como Jerusalém pós-exílio, vive tempos difíceis e incertos. Aqui, os enviados não são discípulos, mas políticos eleitos. E ao contrário dos enviados do Evangelho, muitos chegam ao poder carregados de privilégios, blindados por interesses, distantes da dor do povo que os sustenta.
O povo brasileiro, que deveria ser consolado como um filho no colo da mãe, é deixado à margem. A paz que Isaías anuncia corre como um rio — mas por aqui, ela parece represada por muros de desigualdade. Os enviados de hoje não curam os feridos pela dureza da vida, como Jesus ordenou. Ao contrário, muitos perpetuam feridas com políticas que favorecem poucos e ignoram muitos.
A liturgia nos lembra que o verdadeiro enviado é aquele que carrega as marcas da cruz — como Paulo, que se gloriava não em títulos, mas nas feridas de sua missão. No Brasil, precisamos de líderes que carreguem as marcas do povo: o cansaço de quem pega três conduções, a angústia de quem não tem acesso à saúde, a esperança teimosa de quem acredita que o país pode ser mais justo.
Que este domingo seja um chamado. Que cada cidadão, cada cristão, cada pessoa de boa vontade se reconheça como enviado. Que sejamos missionários da justiça, da equidade, da compaixão. Que a cruz que carregamos não seja a da omissão, mas a do compromisso com um Brasil menos desigual.
Porque, como diz o Evangelho, “alegrai-vos porque o vosso nome está escrito no céu”. Mas que essa alegria comece aqui, na terra, com a construção de um país onde todos tenham nome, voz e dignidade.