Na jornada quaresmal que estamos trilhando, somos convidados hoje, através das leituras proclamadas, a refletir sobre a coerência entre a nossa vida de fé e as nossas ações cotidianas. A Quaresma, tempo de conversão e renovação espiritual, nos chama a um exame sincero do coração, buscando purificá-lo para que possamos viver de maneira mais próxima à vontade de Deus.
Na primeira leitura, do profeta Isaías, ouvimos um chamado forte e claro: "Lavai-vos, purificai-vos, tirai da minha vista as vossas más ações." (Is 1,16). Isaías nos recorda que o Senhor não se agrada de sacrifícios vazios, de rituais sem um verdadeiro coração convertido. Deus deseja que pratiquemos a justiça, cuidemos do oprimido e busquemos a retidão. Esse chamado nos alerta para um perigo recorrente: separar nossa vida de oração da prática do amor concreto, esquecendo que a fé sem obras é morta (cf. Tg 2,26).
O salmo responsorial nos provoca a refletir sobre o verdadeiro culto a Deus: "A quem procede retamente, eu mostrarei a salvação que vem de Deus." (Sl 49,23b). Não são os sacrifícios externos que Deus deseja, mas um coração sincero e uma vida que reflete a justiça e a misericórdia divina. O salmo é uma exortação a não cairmos na hipocrisia religiosa, vivendo uma vida de aparência diante dos outros, mas distante da vontade de Deus.
Por fim, o Evangelho de São Mateus nos apresenta Jesus advertindo seus discípulos e a multidão contra o comportamento dos escribas e fariseus. Eles eram conhecidos por imporem pesados fardos aos outros, mas não praticarem o que ensinavam. Aqui, Jesus nos chama à humildade e ao serviço: "O maior dentre vós deverá ser aquele que vos serve." (Mt 23,11). Somos convidados a examinar nossa própria postura: temos vivido uma fé autêntica ou nos preocupamos apenas em aparentar santidade?
A Quaresma nos oferece uma oportunidade preciosa de reencontro com Deus e com a essência da nossa vocação cristã. Somos chamados a praticar uma fé viva, comprometida com a verdade e o amor. Que as palavras de Jesus e as exortações do profeta Isaías nos conduzam a uma verdadeira conversão de vida. Não basta falar de Deus, é preciso viver como filhos e filhas d'Ele, comprometidos com a justiça, o serviço e a humildade.
Assim seja!
Por Diácono Edson Araújo