sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Um convite ao diálogo respeitoso e fecundo

Por Diácono Teixeira

Na sexta-feira passada (16/8) iniciou a campanha eleitoral no rádio e na televisão, nas ruas e nas praças, e em todos os ambientes, como uma oportunidade dada ao cidadão para debater as reais necessidades que afligem a maioria dos eleitores de cada cidade dos 5.565 municípios brasileiros. Trata-se de um convite ao diálogo respeitoso e fecundo, e de uma chance única dada a cada um de nós, cidadãos, num ciclo de quatro anos, para fazermos uma avaliação da gestão dos atuais mandatários e traçar novos caminhos que favoreçam melhorias qualificadas condizentes com as reais necessidades da maioria dos residentes urbanos e rurais de cada município do Brasil. Por essa razão, somos chamados a atuar e agir com muita responsabilidade.

Iremos escolher, nestas eleições, os novos representantes do poder legislativo e do executivo municipal. E daquele(a)s que se colocam à disposição para assumir um mandato de quatro anos como “Servidor(a) da Cidadania”, espera-se que sejam mulheres e homens capazes e dignos de tão grave responsabilidade, que estejam atentos e assumam como suas “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem” (LG,1). 

Dessa forma, cada agente político testemunha que a atividade política se constitui um eloquente gesto de caridade que se transfigura no amor político que pode criar pontes entre os demais candidatos, que à luz de esperança, compromisso, encarnação e profecia nas realidades sociais, políticas e econômicas dos municípios, poderão operar transformações e mudanças estruturais que favoreçam o Bem Comum e a Dignidade Humana de cada munícipe. Sob este horizonte, o Papa Francisco desde 2019 tem insistido em algumas frentes importantes para a compreensão sociopolítica e transformadora da realidade onde vivemos, reforçando o “convite ao diálogo sobre a forma como estamos construindo o futuro das novas gerações e do planeta, e sobre a necessidade de investir nos talentos e capacidades de cada pessoa, de todos sem distinção, porque as mudanças precisam de um caminho educativo para fazer amadurecer uma nova solidariedade universal e uma sociedade mais acolhedora” (Cidade Nova, jul-2024,p.32).

Dos candidatos confia-se que tenham vocação política, ou seja, qualificação, aptidão e disposição para atuar e viver o “múnus político” embebecido nos valores e virtudes humanas, que se espera ornar a vida e a atuação de cada administrador(a) e servidor(a) públicos no tempo presente. E quais são as virtudes e valores que devem adornar o agir desses postulantes aos encargos públicos em disputa? Se o eleitor refletir bem, com toda certeza, há de escolher quem pratique a humildade, a honestidade, a prontidão, a prudência, a coerência de vida, o respeito às diferenças e à diversidade, o amor e cuidado para com o próximo e os bens da criação. 

Claro que não se encerra apenas nessas, mas, sobretudo, na capacidade e convicção pessoal de que é portador(a) desses predicados para não mais pensar e agir somente segundo os seus interesses pessoais ou de seu grupo, mas para realizar efetivamente os compromissos assumidos durante a campanha eleitoral. Ocupar-se-ão em pensar e agir por amor aos excluídos da economia e da política, dos alijados de oportunidades, dos invisíveis, dos marginalizados e cancelados do convício social. E de cada eleitor(a) que acompanha o atual contexto político e social do Brasil, espera-se que compreenda que os dias destinados à realização das eleições representam um dos raros momentos em que todos se igualam, pois não há diferença de raça, sexo, condição financeira, classe ou grupo social, já que existe igualdade de valor no voto dado por cada cidadão. E diante da liberdade e da igualdade no exercício da soberania popular, é fundamental que o voto seja consciente, pois esse é um fator preponderante para que se alcance um resultado satisfatório no pleito.

Também cabe aqui um alerta aos fiéis católicos leigos e leigas, sejam candidato(a)s ou não, que é obrigação que temos – e que decorre do santo Batismo - de impregnar as realidades sociais, econômica e política dos valores que emanam da Palavra de Deus. Sem a nossa participação consciente e ativa “o Evangelho não pode penetrar radicalmente na mentalidade, no costume e na atividade de um povo” (Vaticano II, 1.163, p. 423). Então, fitando o olhar nas ações de Jesus Cristo, diria que se quisermos, a partir de agora, mudar o rumo da nossa história, devemos perder o medo de nos envolvermos de maneira ativa no processo eleitoral visando garantir que sejam eleitos os melhores candidatos para o parlamento e o executivo municipais, porque passivamente todos já estamos envolvidos. Coragem!

O Papa Francisco nos admoesta: “Faz-se necessário e urgente reencantar a política em nossos lugares”. Esse é um convite que o Papa nos faz que se transmuda num desafio lançado a cada cristão católico para que assumamos juntos o compromisso educativo, no processo eleitoral, para que, na reciprocidade dos dons e dos carismas, demos “nova alma à política como tarefa que brota da nossa vocação humana e cristã que nos interpela a viver em sociedade, para cuidarmos reciprocamente das pessoas e da nossa casa comum” (Cidade Nova, jul-2024, p.32-33). Lembremo-nos que o voto sempre gera consequências sobre o bem viver de toda a população.






Diác. Francisco Teixeira,

Assessor Jurídico da Arquidiocese de Natal

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