Por Dom João S Cardoso
Podemos considerar a luxúria como um desejo intenso e descontrolado por prazer sexual, que leva a pessoa a buscar satisfação de maneira desordenada e irresponsável no sexo, prejudicando seus valores, relacionamentos e bem-estar. Esse vício capital transforma a busca natural pelo prazer sexual em um fim em si mesmo, dominando a razão e a ordem natural da sexualidade, que deveria ser orientada para o amor, a integração pessoal e o fortalecimento do vínculo afetivo e conjugal. A desordem causada pela luxúria instala-se lentamente, corroendo as defesas morais e espirituais da pessoa, e resultando em uma sexualidade desequilibrada e lasciva.
A luxúria impossibilita a pessoa de viver de modo casto e saudável, afetando não apenas o corpo, mas também o espírito, os pensamentos, a imaginação e as atitudes. A desordem instaurada pela luxúria é lenta e progressiva, corroendo as defesas da pessoa e alimentando sua imaginação com cenas libidinosas, o que desencadeia um desequilíbrio sexual cada vez maior. O vício da luxúria busca o prazer pelo prazer, sem nenhum compromisso com o outro, tornando a pessoa incapaz de estabelecer relações nobres e puras, buscando sempre tirar algum proveito sexual.
Santo Tomás de Aquino aborda a luxúria na Suma Teológica (Pars Prima Secundae, Tratado sobre a temperança. Questão 153), onde ele analisa a natureza, a moralidade e as consequências desse vício. Segundo Santo Tomás de Aquino, a matéria da luxúria são as concupiscências e os prazeres sexuais. A luxúria se refere ao desejo desenfreado pelos prazeres sexuais que se desviam da ordem racional e do propósito natural da sexualidade, como a procriação e a união conjugal.
Assim, entendida, a luxúria é um pecado porque desordena a razão e a vontade, fazendo com que a busca pelo prazer sexual se torne um fim em si mesmo, em vez de ser um meio para o bem do matrimônio. A luxúria, portanto, é um vício capital, pois seu desejo intenso pode levar uma pessoa a cometer muitos outros pecados para satisfazer seus apetites sexuais. Como os vícios capitais têm um fim muito desejável, esse desejo leva a pessoa a cometer diversos pecados para alcançá-lo. Santo Tomás lista várias consequências da luxúria, incluindo a cegueira do espírito, inconsideração, precipitação, inconstância, amor desordenado a si mesmo, ódio a Deus, apego excessivo à vida presente e desespero da vida futura.
Em sua catequese sobre os vícios e as virtudes, Papa Francisco aborda a luxúria como um vício que envenena as relações humanas, especialmente na esfera da sexualidade. Ele ressalta que a luxúria é uma "voracidade" em relação ao outro, que transforma a pessoa em um objeto de satisfação. Ele enfatiza a necessidade de disciplinar a sexualidade para que ela seja uma expressão de amor verdadeiro e não de posse ou consumo (Audiência Geral, 17/01/2024).
As formas de luxúria podem variar, incluindo adultério, fornicação, masturbação, estupro, pornografia, orgias, libertinagem e pensamentos impuros. Para combater a luxúria, a Igreja recomenda várias práticas: evitar situações e conteúdos que possam despertar desejos impuros; buscar a graça de Deus através da oração, confissão e Eucaristia; praticar a autodisciplina e a mortificação dos sentidos para fortalecer a vontade contra os impulsos desordenados; cultivar relações baseadas no amor verdadeiro e no respeito mútuo, em vez de relações baseadas na satisfação sexual.
Para viver a sexualidade de forma ordenada, é necessário romper com as paixões que se instalam pouco a pouco na fantasia e abrir-se à graça de Deus e manter um coração puro, voltado para um amor autêntico e oblativo, bem como relações nobres e saudáveis. A bem-aventurança "Felizes os puros de coração, porque verão a Deus" (Mt 5, 8) destaca a importância de manter um coração puro, que sabe amar verdadeiramente e não permite que nada macule e enfraqueça esse amor. Jesus ensina que o coração é a sede de nossas verdadeiras intenções e que dele procedem as nossas decisões e ações (Mt 15,19). Portanto, manter o coração puro e alimentar a imaginação com imagens edificantes é essencial para vencer a luxúria e amar de forma integral, estabelecendo relações de amizade autênticas, puras e genuínas.
Enfim, considerando que a luxúria é um grave desvio da ordem moral e espiritual, é necessário combatê-la com determinação, buscando a ajuda divina para que a pessoa possa viver a verdadeira liberdade e pureza de coração.
Dom João Santos Cardoso
Arcebispo Metropolitanos