segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

Raízes, identidade e esperança (Irmã Vilma Lúcia)



Os bens culturais são mais do que pedras antigas, pinturas raras ou livros guardados em estantes. Eles são raízes que nos sustentam, identidade que nos define e esperança que nos projeta para o futuro. Cada obra, cada tradição, cada canto popular carrega em si a memória de um povo, o sopro de sua alma.

O termo “Bens Culturais” nasceu em meio às dores da guerra. Quando o mundo se via em ruínas, percebeu-se que não bastava proteger corpos e territórios: era preciso salvar também aquilo que dá sentido à existência — a arte, a fé, a história, os tesouros invisíveis que moldam a vida coletiva.

Na segunda metade do século XIX, Bruxelas e Haia foram palco de encontros que plantaram as primeiras sementes dessa consciência. Ainda não se falava oficialmente em “Bem Cultural”, mas já se reconhecia que objetos e lugares que guardam memória mereciam proteção especial. Era o início de um pacto silencioso entre nações: preservar o que nos lembra quem somos.

Com o avanço das guerras, os acordos foram muitas vezes ignorados. Mas em 1954, em Haia, a voz da humanidade se ergueu novamente: tudo que testemunha a cultura, a arte, a religiosidade e a história de um povo deve ser protegido. Ali se consolidou a ideia de que ferir um bem cultural é ferir a própria dignidade humana.

A definição se ampliou: obras arquitetônicas, pinturas, livros, músicas, objetos religiosos, cidades históricas, sítios arqueológicos e até manifestações folclóricas passaram a ser reconhecidos como bens culturais. Eles não são apenas coisas: são símbolos vivos da identidade de um povo. Preservá-los é preservar a memória coletiva, é guardar o fio que nos conecta ao passado e nos conduz ao futuro.

Em 1970, a UNESCO reforçou esse compromisso. O foco era combater o tráfico ilegal de obras, os saques e a destruição de patrimônios. A noção de Bem Cultural se expandiu, incluindo novas categorias e defendendo a repatriação de bens levados de seus países de origem. Era um chamado à justiça e ao respeito entre nações.

No Brasil, a Constituição de 1988 trouxe um olhar ainda mais abrangente. Reconheceu que os bens culturais não pertencem apenas a museus ou arquivos, mas estão presentes em todas as áreas do conhecimento. São multidimensionais: vivem na arquitetura, na música, na literatura, nas festas populares, nas tradições religiosas, nos saberes transmitidos de geração em geração. Preservá-los é preservar a alma da nação. Hoje, falar de bens culturais é falar de raízes, identidade e esperança.

Raízes que nos sustentam e nos lembram de onde viemos. Identidade que nos dá forma e nos distingue no mundo. Esperança que nos projeta para o amanhã, porque sem memória não há futuro. Proteger os bens culturais é proteger a vida em sua dimensão mais profunda. É cuidar daquilo que nos une, que nos transcende, que nos faz humanos. É reconhecer que cada pedra, cada canto, cada gesto tradicional é parte de um grande mosaico que chamamos humanidade.

Assim, quando preservamos nossos bens culturais, não estamos apenas guardando objetos. Estamos guardando histórias, sentimentos, sonhos. Estamos guardando a chama que ilumina o caminho das gerações. Estamos, enfim, cuidando das nossas raízes, da nossa identidade e da nossa esperança.


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