domingo, 20 de julho de 2025

Zimbabwe. Igreja debate-se com escassez de vocações ao sacerdócio e vida religiosa

Seminário Maior de Chishawasha, Zimbabwe

A Igreja no Zimbabwe está a lutar contra uma grave escassez de vocações para o sacerdócio, com o número de candidatos ao Seminário Maior sempre a diminuir nos últimos dez anos. 

Por Ir. Mufaro Chakuinga, LCBL – Cidade do Vaticano

A Igreja Católica no Zimbabwe dedica todos os anos o mês de julho à oração e às campanhas pelas vocações ao sacerdócio e à vida religiosa. A fé católica chegou ao país já no século XVI, mas a verdadeira evangelização que moldou a presença moderna da Igreja começou em 1879 com a chegada dos missionários da Companhia de Jesus, também conhecidos por Jesuítas.

Durante muitos anos, o crescimento da Igreja no Zimbabwe dependeu principalmente da difusão do Evangelho pelos missionários, mas esta tendência começou a mudar na década de 1930, quando os bispos, todos missionários da Europa, perceberam que havia necessidade de formar o clero local que levasse a missão da Igreja para a frente quando os missionários já não estivessem disponíveis.

Em 1936, o Arcebispo Aston Chichester SJ, presidente do Vicariato de Salisbury, atual Harare, fundou o Seminário de Chishawasha, que inicialmente serviu como Seminário Menor e Maior. Embora no início muitos jovens não se sentissem atraídos para ingressar no Seminário, os bispos continuaram a incentivá-los, assim como os seus pais, a responder ao chamamento de Deus caso se sentissem chamados. A promoção das vocações tornou-se ainda mais forte e uma prioridade com a criação das dioceses, a partir de 1955. Muitos jovens foram admitidos no Seminário Maior de Chishawasha, que oferecia cursos de filosofia e teologia.

A instituição começou gradualmente a formar cada ano um número substancial de sacerdotes diocesanos. A Igreja no Zimbabwe, no entanto, conheceu um boom de vocações na década de 1990. O Seminário Maior de Chishawasha já não tinha condições para acomodar todos os candidatos, e os bispos decidiram abrir o Seminário Maior de Santo Agostinho, em Bulawayo, no ano 2000, para oferecer cursos de filosofia, deixando Chishawasha concentrado nos estudos teológicos.

Reitor do Seminário Maior pronuncia-se 

O atual Reitor do Seminário Maior de Chishawasha, Padre Bernard Mukwewa, declarou recentemente aos media do Vaticano que, após quase uma década, o número de inscrições nos dois Seminários Maiores começou a diminuir, o que levou os bispos a encerrar o Seminário de Filosofia Santo Agostinho, em 2016. Desde então, o número continuou a diminuir. Atualmente, o Seminário Maior de Chishawasha que, mais uma vez, oferece estudos filosóficos e teológicos, conta apenas com 95 seminaristas maiores das oito dioceses católicas do Zimbabwe.

Este ano, menos de 30 candidatos dos vários Seminários Menores do país inscreveram-se para ingressar no Seminário Maior, para o primeiro ano de filosofia. Cerca de 20 foram admitidos. O Padre Mukwewa disse: "Esta é a primeira vez que tivemos um número abaixo de 100 desde o início dos anos 90". E o sacerdote atribuiu a actual escassez de vocações ao sacerdócio à desintegração da família tradicional africana, provocada por factores como a pobreza que obriga os membros da família a migrar em busca de emprego, a migração relacionada com outros factores como as alterações climáticas e os conflitos, o abuso de drogas e substâncias por parte dos jovens, a política e a morte.

“Como resultado”, disse, “temos famílias desfeitas, famílias guiadas por crianças e famílias guiadas por pais solteiros. A família nuclear é a Igreja doméstica de onde surgem as vocações. Quando ela se desfaz, desencadeia uma vasta gama de desafios que afetam o desenvolvimento das vocações”.

Bispo de Gweru confirma escassez de vocações ao sacerdócio 

O Bispo da Diocese de Gweru, Dom Rudolf Nyandoro, numa recente entrevista aos media do Vaticano, confirmou também a escassez de vocações sacerdotais no Zimbabwe, incluindo na sua diocese, e afirmou que isso era visível nas baixas inscrições no único Seminário Maior do país. Dom Nyandoro atribuiu a escassez a vários fatores, ressaltando que o declínio da economia no Zimbabwe levou à falta de emprego, obrigando os jovens a procurar a sobrevivência em actividades como a mineração ilegal.

Outros jovens perderam a esperança e têm recorrido ao abuso do álcool, drogas e substâncias. "Numa situação em que os jovens estão expostos a estes factores, obter vocações torna-se um problema", disse o bispo de Gweru. Dom Nyandoro salientou ainda que a introdução do certificado de Nível Avançado ou Ensino Secundário, como requisito para a admissão no Seminário Maior, afetou as admissões "porque muitos candidatos não o possuem".

Estratégias para enfrentar o problema 

Desde o início de julho que os sacerdotes e membros das Congregações religiosas das diferentes dioceses do Zimbabwe estão empenhados em diferentes actividades de promoção vocacional. Os jovens são encorajados a discernir o chamamento de Deus e a responder positivamente, enquanto os pais são encorajados a não desencorajar os seus filhos de se dedicarem ao serviço de Deus. Dom Nyandoro afirmou que os jovens precisam de se envolver com frequência e, por isso, criou um gabinete para os animar. A sua diocese formou equipas de campanha para visitar escolas católicas, promover as vocações e organizar workshops vocacionais.

A Igreja no Zimbabwe também está a lutar para reter os sacerdotes e religiosos que decidem abandonar o ministério por diversos motivos. O Bispo Nyandoro disse que as equipas de campanha da sua diocese visitarão as paróquias e comunidades religiosas para conhecer os desafios que enfrentam e encorajar os membros a viverem de forma positiva, pois é uma grande perda investir nas pessoas durante muitos anos e perdê-las depois. O prelado está também a incentivar os fiéis a rezarem pelas vocações. Ao Vatican News disse que planeava visitar as casas dos seus padres e seminaristas para conhecer as suas origens e estabelecer uma relação com os seus pais e outros parentes.

Todas estas medidas, explicou Dom Nyandoro, servem para encorajar os jovens católicos a responder ao chamamento de Deus. Por fim, o Bispo convidou as Congregações missionárias a enviarem os seus membros para trabalhar na sua diocese, pois muitos dos seus sacerdotes estão a envelhecer e necessitarão de ser substituídos. Ele precisa de mão-de-obra para promover vocações sacerdotais. E exortou os Promotores Vocacionais do Zimbabwe a não perder a esperança nas suas campanhas, pois "o Senhor que chama está activo e consciente das necessidades da sua Igreja".

O que dizem os católicos sobre a escassez de vocações 

Muitos católicos devotos no Zimbabwe lamentam o encerramento do Seminário Maior Santo Agostinho, em Bulawayo, e a diminuição do número de inscrições no Seminário Maior de Chishawasha. Há quem diga que o declínio das vocações se deve à falta de sacrifício e de entrega dos jovens, que se estão a tornar mais materialistas, pensando mais no que podem obter do que naquilo que podem dar.

Citando os escândalos de alguns padres, religiosas e religiosos que não têm dado bons exemplos, outros católicos afirmam que a vida religiosa se tornou irrelevante para muitas pessoas. “A história mostra que os missionários que chegaram ao Zimbabwe conseguiam promover vocações sacerdotais sem falar bem as línguas locais, sem a internet, sem o Facebook ou outros meios de comunicação social. Conseguiam atrair e promover vocações com o seu estilo de vida exemplar. Por isso, é necessário que os padres vivam uma verdadeira vida cristã se quiserem atrair vocações sacerdotais”, disse um paroquiano.

Enquanto a Igreja no Zimbabwe celebra o mês das vocações, os promotores vocacionais apelam às famílias para que ensinem a fé aos seus filhos e a vivam, cumprindo fielmente as responsabilidades que lhes foram dadas por Deus. Os bons exemplos motivados pela fé atraem os jovens para o sacerdócio, pois as vocações são uma questão de fé.

Fonte da informação

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