Vivemos tempos conturbados, em que o progresso tecnológico não parece ter alcançado o coração da política. Nesta semana, assistimos a mais um embate entre Brasil e Estados Unidos — uma queda de braço disfarçada de acordo econômico, onde interesses particulares se impõem sobre o bem comum, e o povo permanece como espectador vulnerável dessa disputa por poder.
A política internacional tem assumido contornos sombrios: ressurge a velha lógica da força, da imposição, da hegemonia sem diálogo. Governantes parecem mais preocupados em preservar seus cargos do que em preservar vidas. Em meio a tanta capacidade técnica e recursos digitais para promover o bem-estar coletivo, prevalece a cega ambição de dominar — ainda que isso custe o futuro de milhões de inocentes.
É nessa estrada de crueldades veladas que ecoa, com pungente atualidade, a parábola do bom samaritano. Ignorado pelos que deveriam ajudá-lo, o homem ferido da história bíblica só encontra compaixão no gesto de quem, à margem dos dogmas e do poder, escolhe a solidariedade. É essa postura que falta à nossa política: uma ação que não se guie por interesses, mas pela dor alheia.
Hoje, o povo está novamente caído à beira do caminho. E os que passam — líderes, representantes, diplomatas — desviam o olhar, apressados rumo a seus próprios objetivos. Quantos ainda têm coragem de parar, ajudar e cuidar, sem esperar ganhos políticos em troca? A pergunta que se impõe não é retórica. É urgente.
Que tipo de liderança queremos? Uma que atravessa os campos de batalha buscando se perpetuar, ou uma que se ajoelha diante do sofrimento para oferecer cura? O bom samaritano não fez cálculos. Ele agiu. E talvez seja disso que o mundo mais precise: menos estratégia, mais compaixão.