Padre José Marcos Silva de Lima
Diretor Espiritual do Seminário São Pedro
Arquidiocese de Natal
Orai sem cessar ( Col. 1,9)
Toda pessoa que carrega consigo alguma centelha de religiosidade, traz em si algum desejo de orar, meditar ou de exercitar outra prática oracional. Toda religião tem em seu cerne um caminho de oração mediado por práticas, símbolos, gestos, etc. A oração é a mediação para o encontro com o transcendente.
Essa sentença de Paulo, Apóstolo, abaixo do título, evoca a naturalidade que possui o ato de orar. O sem cessar paulino não significa que não teremos tempo para as atividades cotidianas de qualquer ser humano, como o trabalho, o estudo, a convivência com amigos, etc. Paulo sinaliza para uma oração que se prolonga para além dos momentos ditos formais de oração, como por exemplo as celebrações litúrgicas. Trata-se de uma oração que se perpetua na própria vida de cada dia, em meio a gama de atividades que cada um exerce.
Estamos iniciando a caminhada quaresmal e nela somos estimulados a fazermos uma revisão de vida numa busca maior pelo sentido do ser cristão. Nada melhor do que nesta quaresma revisitarmos nossa vida de oração e sabermos se de fato vivemos essa intimidade renovadora com o Senhor.
Ter momentos de paradas para ler a bíblia ou um bom livro de espiritualidade é sempre prazeroso. Mas, nem sempre na correria da vida temos essa disponibilidade, pois depois de um dia inteiro de trabalho ficamos fatigados com tendência ao descanso imediato. Como orar em meio a um certo ativismo como é próprio da vida atual?. A resposta não vem de mim, e sim dos padres e madres do deserto que eram homens e mulheres que desejosos de viver uma experiência espiritual de melhor qualidade, fugiam do barulho da cidade e se refugiavam nos desertos geográficos, para ali, nos desertos existenciais, buscarem a Deus no silêncio meditativo e no trabalho manual. Tornaram-se, assim, verdadeiros pais e mães espirituais para muitos discípulos e discípulas.
Porém, os padres e madres do deserto nos ensinam que a verdadeira oração acontece na vida. Vejam, eles viveram nos primeiros séculos da igreja, quando não se tinha ainda a bíblia como temos hoje, a piedade eucarística ainda não era uma prática constante, o rosário mariano também não existia, assim como uma acentuada devoção à virgem Maria. Então, como era a oração desses homens e mulheres inebriados de Deus?. A oração para eles era a atitude receptiva do coração diante da consciência de que tudo era permeado pela presença de Deus. Uma oração que gerava a harmonia com Deus criador e redentor em sua manifestação contínua. Orar para eles era ter saudades de Deus. Consciência orante! Eis o caminho para a qual nossas práticas oracionais devem nos levar. Talvez um dos perigos que rondam nossa igreja é que temos muitos métodos oracionais e pouca consciência orante.
Por causa do dualismo existente entre sagrado e profano, achamos que quando estamos orando no silêncio de uma capela, somente aí estamos buscando Deus, mas quando estamos visitando um amigo que gostamos e conversando sobre fatos da vida não estamos vivendo a oração. Como somos medíocres em acreditar que só estamos orando quando estamos na igreja ou de joelhos diante do Santíssimo Sacramento exposto no altar. Será que a presença de Deus não se perpetua ao longo do dia, no meu trabalho, no meu estudo, no meu lazer, na vivência com minha família?. Criemos nossa consciência orante e deixemos que a presença do Senhor nos envolva por completos.