Por Diác. Adilson da Silva
PARTE III
“Mas um só e o mesmo Espírito opera todas essas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer. Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também”
(I Cor. 12, 11-12)
Revisitando a Sagrada Escritura, no primeiro livro endereçado à Comunidade de Corinto, em todo o seu capítulo 12, percebemos algo interessante: A Igreja é revelada como “Sinal do Espírito Santo”, já que São Paulo entende que o Espírito é dado a toda comunidade, conforme Ele quer, mantendo-a una, como Corpo de Cristo, apesar de membros diversos, onde cada um/a age segundo Seus dons/carismas. Os primeiros séculos da Igreja podemos perceber isso mais claramente e, não víamos muito a distinção entre os seus membros, apesar daqueles serviços mais específicos, não havia uma “hierarquia rígida”, diferenciando “sacerdócio comum” e o “sacerdócio ministerial”. Aliás, este último parecia não ocupar um lugar superior, mas de serviço à Comunidade. Ao longo da história, a Igreja foi se firmando e sentindo a necessidade de constituir estruturas organizacionais e jurisdicionais que hoje percebemos pesadíssimas. Essas “estruturas” geraram e geram o que chamamos hoje de clericalismo, que corrói a Igreja por dentro, como um câncer sem cura, contradizendo os valores do próprio Evangelho, naquilo que lhe é primordial como missionária.
Creio que podemos nos perguntar e buscar alternativas, inclusive escutando o ensinamento do Papa Francisco que deseja uma Igreja inserida nas realidades do mundo, em saída, sinodal, de comunhão e participação: Será que estas estruturas atualmente não precisam ser revisadas para que a Igreja possa exercer sua missão conforme os dons que ela recebe do Espírito, na construção dos sinais do Reino de Deus? De antemão, já asseguro, com tristeza que, parece-nos cada dia, uma tentativa cada vez maior de fechamento, tanto que o próprio Papa Francisco tem chamado a nossa atenção insistentemente, o que não tem surtido muito efeito, pois sua voz é abafada pelos ruídos desta “perversão na Igreja” que, segundo ele próprio, tem transformado “pastores em meros administradores”, “funcionários do sagrado”, levando a Igreja a se tornar uma “alfândega burocrática”, distante dos mais pobres e vulnerabilizados.
Talvez muitos de nós nem percebamos o mal que estamos fazendo à Igreja (não somente os que participam do sacerdócio ministerial, mas estes, principalmente) ao nos distanciarmos do Seguimento a Jesus de Nazaré, gerando um contratestemunho, quando nos distanciamos do povo, colocando-nos numa espécie de pedestal, nos comportando como “autoridades” (e não como servidores), submetendo o povo de Deus a nossos pés, demonstrando “força” através do nosso autoritarismo, da nossa falta de acolhimento e banalização de tudo o que é popular e que faz parte da vida do povo. Há coisas sintomáticas, simples, mas que revelam isso. Aliás, a volta da batina preta, do barrete e demais adornos eclesiásticos e litúrgicos, já nos fazem “diferentes”, numa postura superior por demais, mantendo-nos num certo distanciamento do povo.
Parece que estamos num degrau bem mais acima e não no meio deste, como deveríamos estar. Talvez o problema não seja nem as “indumentárias” em si, mas realmente o nosso comportamento autoritário, presunçoso, na verdade, “principesco” e não de alguém “tirado do meio do povo para servir a este povo” (cf. Hb 5, 1-6). Não é raro, andando em nossas comunidades, encontrar fiéis, sobretudo agentes pastorais, missionários e missionárias, desencantados com a forma de agir dos seus pastores, que têm dificuldade de se abrir ao diálogo e facilidade de se impor com seu autoritarismo, porém estes, não se sentem à vontade para dialogar com o seu padre, porque têm “medo das represálias”, “dos castigos” e “proibições”. Um leigo (a) se contrapor, questionar qualquer que seja a postura do ministro ordenado é coisa que “não se deve fazer”, correndo o risco de alijamento dentro da própria Comunidade.
Em relação aos mais empobrecidos, estes já se julgam “inferiores”, pela sua própria condição de vulnerabilidade a que foram submetidos. E, de nossa parte, como Igreja, isso se agrava pela falta de acolhimento da própria Comunidade (não apenas dos seus pastores). Estes não têm lugar, enquanto espaço nas estruturas, tampouco lugar de fala, de expressão diante da opressão a que estão submetidos pela sociedade, corroborada pela “Igreja” que lhes nega espaço e com eles não se compromete em suas lutas pela sobrevivência/vida. Insisto que não se trata apenas de oferecer “esmolas”, pois os pobres não precisam de esmolas, mas de caridade-amor-compaixão, tal como Jesus os acolheu e a Igreja os deve acolher, sem nem pestanejar. Aliás, essa era a atitude do Mestre e foi esse legado que Ele nos deixou e seremos um dia julgados por Ele, se acolhemos ou não os injustiçados (cf. Mt 25). Não basta o “culto”, mas “o testemunho que o culto pode promover” (cf. Mt 7,21).
Na verdade, os mais empobrecidos e vulnerabilizados não têm a Igreja católica como lugar de pertença, com raríssimas exceções. Na verdade, em geral, não conseguimos chegar até eles. Parece, numa comparação tosca, um pouco até com a parábola do “Rico e do Pobre Lázaro”. É uma distância enorme. Muitos têm medo da aproximação destes e, às vezes, costumeiramente, isso se apresenta verdadeiramente como aporofobia, pois é isso que movimentos nazifascistas, que espalham o ódio, vêm contaminando a sociedade. Quem não percebeu os olhares dentro do templo, na hora que um “mendicante”, sujo, esfarrapado, drogado, com um odor nada agradável adentra o recinto (e ele entra ali muitas vezes pela sua situação de inconsciência pelos entorpecentes que consome e o consome), sendo gentilmente convidado (ou à força mesmo) a se retirar do ambiente, porque as “pessoas de bem” (bem vestidas e bem alimentadas) e aliadas ao sistema que condena os miseráveis, se sentem incomodadas. E ai daquele ou daquela que se atrever a abrir para estes as “portas do templo”.
Outra coisa que me chama a atenção, já que cresci numa casa paroquial, onde o vigário à época, em dia de feira, pós missa, vinha trazendo sempre alguém para com ele tomar café (e em geral não eram os ricos da cidade, mas algum agente pastoral das comunidades ou até alguém que lhe pedia uma esmola que ele encontrava no caminho). Era um fato que, eu adolescente, me intrigava (até porque me sobrava trabalho para a lavagem da louça), tanto que, a “governanta” da casa, quando via o pessoal chegando com o vigário, cochichava a quem estivesse perto: “Pronto. A rede de arrasto chegou!” (rs).
Sem desconsiderar a situação de violência de hoje, também me chama a atenção o “fechamento” das casas paroquiais. A casa paroquial sempre era vista, de certo modo, como a “caso do povo”. Hoje é raro encontrar uma casa paroquial aberta (porta aberta aqui não é a porta em si), onde ao menos os agentes pastorais, se não o povo, possa adentrar. Falo da estrutura que já é pensada para que “ninguém adentre”. Com essas questões que levanto, não desejo ferir ou condenar alguém e, jamais, a minha própria Igreja. Contudo, acredito que vale a pena uma reflexão: que tipo de Igreja estamos sendo hoje? Quais as interrogações que o nosso povo faz a nosso respeito? Como os mais pobres nos veem? Será que isso, numa “Igreja sinodal”, em saída, missionária, de comunhão e participação, é “pecado” a gente despertar alguma reflexão deste tipo entre nós?
Para mim, essas questões, por menores que sejam e as julguemos irrelevantes, fazem parte de um modelo, cujas raízes estão no tão criticado clericalismo. É esse modelo que nos distancia da proposta do Reino, que talvez tenha feito muita gente migrar e vem se refletindo no rápido avanço de um processo de “transição religiosa”, conforme alguns estudos existentes. Nos últimos 60 (sessenta) anos, as chamadas “Igrejas Pentecostais” ou “Neopentecostais” (em sua maioria com suas verdadeiras “bodegas” ou “supermercados da fé”) vão ocupando as lacunas da Igreja Católica, sobretudo, no meio dos economicamente e socialmente empobrecidos e vulnerabilizados.
Percebemos a olho nu que a periferia de nossas cidades, acampamentos e assentamentos rurais vão se enchendo de igrejas “evangélicas pentecostais” ou “neopentecostais”. Muitas destas nada têm a ver com as Igrejas evangélicas tradicionais. Essas “igrejas evangélicas” em geral, são seitas, cujos pastores buscam se locupletar (e aqui respeito os fiéis que, por falta de um processo de evangelização nosso, foram de certa maneira ludibriadas, inclusive com as vãs promessas de melhorias de vida, a partir da chamada teologia da prosperidade), cujo interesse é o seu enriquecimento, usurpando os pobres e toda a comunidade.
Neste sentido, há até um filme dos anos 90, intitulado “Fé demais não cheira bem”, que apresenta “um reverendo charlatão que vive pregando a salvação com a Bíblia na mão em troca de doações. Apesar de seus truques empolgarem multidões, seus milagres são apenas efeitos produzidos com espelhos e fumaça. O reverendo e sua caravana estão sempre viajando pelos Estados Unidos em busca de mais dinheiro, até que seu ônibus quebra em uma pequena cidade, cujo xerife local está disposto a provar que tudo não passa de uma fraude”. (FILME - Fé de mais não cheira bem)O filme de certa maneira é um retrato do que hoje vemos dentro de nossas Igrejas onde o charlatanismo fala alto, sobretudo no meio neopentecostal, utilizando a chamada “teologia da prosperidade”.
A teologia da prosperidade (TP) surgiu nos EUA, no século XIX, como uma corrente teológica “cujo eixo central era a comercialização da fé cristã a partir da deturpação dos ensinamentos bíblicos que se espalhou pelo mundo. Como diferencial, defendia ardorosamente o acúmulo de riquezas materiais na terra, exaltando os privilégios que a riqueza e o dinheiro podem trazer, apresentando-os como ‘retribuição de Deus’ aos fiéis que seguem sua doutrina, substituindo a fé e a devoção divinas por próspero empreendimento”. É aquela história que, quanto mais dízimo e ofertas, Deus mais abençoa e lhe promete enriquecimento. A Palavra de Deus de nada vale neste sentido, até porque Jesus nunca prometeu riqueza e vida boa a quem o segue. Ele prometeu, sim, apenas cruz, perseguição, dor e sofrimento (“quem quiser me seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me...”). E aí, através dessa corrente teológica, haja usurpação dos fiéis em nome de Deus! (Cf. em Teologia da prosperidade: O Mercado da fé e a fé mercadológica).
A ausência da Igreja Católica no meio dos mais empobrecidos, aliada às falsas promessas da TP das Igrejas Evangélicas Neopentecostais, bem como a inserção dos seus pastores na política partidária (A chamada “Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional” atualmente tem 228 integrantes: 202 deputados federais e 26 senadores, que se alia por sua vez às pautas conservadoras e aos interesses do grande capital) favorecendo os interesses, muitas vezes nada cristãos, tem contribuído para o aumento do número de fiéis evangélicos, fazendo “estourar” o fenômeno da chamada “transição religiosa”.
Atualmente, segundo dados do Censo do IBGE de 2022, o Brasil “tem mais templos ou outros tipos de estabelecimentos religiosos do que a soma de instituições de ensino e unidades de saúde”. De acordo com a análise dos números, o País possuía em 2022, 247.510 estabelecimentos de saúde; 264.445 de ensino e 579.798 estabelecimentos religiosos, quase 70 mil a mais que o número dos estabelecimentos de saúde e de ensino. Só no RN, temos 3.885 estabelecimentos de saúde e 5.010 de ensino, contra 8.823 estabelecimentos religiosos (cf. Brasil tem mais igrejas e templos do que escolas e hospitais, aponta IBGE).
Uma pesquisa do cientista político Victor Araújo (Centro de Estudos da Metrópole - CEM), desenhou o mapa dessa transição religiosa no Brasil. “Só em 2019, foram abertas 6.356 igrejas evangélicas no País, média de 17 novos templos por dia” (Igrejas evangélicas apresentaram crescimento vertiginoso no Brasil nas últimas décadas) . Essa média, segundo os estudos sobre a transição religiosa, aponta que, até 2032, o percentual de evangélicos ultrapassará o de católicos.
O sítio da Arquidiocese de Vitória, no Espírito Santo, numa postagem do dia 01 de julho de 2021, traz uma análise bem interessante sobre o “Crescimento das Igrejas Evangélicas e Pentecostais” no qual trata destes fenômenos e questiona, a partir do Documento da Assembleia Eclesial: “o que é que as pessoas procuram noutras igrejas? Por que é que não o encontram na Igreja Católica? O que é que está faltando?”
Um dos pontos que o documento traz é que este crescimento das Igrejas Evangélicas Neopentecostais também tem em vista o domínio político, baseando-se em algumas passagens bíblicas. Inclusive o texto traz um trecho da então ministra Damares, “pastora da Igreja do Evangelho Quadrangular e da Igreja Batista de Lagoinha em Belo Horizonte, onde ela dizia que ‘é o momento de a Igreja ocupar a nação. É o momento de a Igreja dizer à nação a que viemos. É o momento de a Igreja governar’. Essas palavras estão ligadas diretamente às palavras de Deus descritas no Salmo 33, 12: ‘Feliz é a nação cujo Deus é o Senhor, cujo povo ele escolheu para si mesmo’. Uma leitura fundamentalista e descontextualizada do texto bíblico leva automaticamente as pessoas a acreditarem em alguém que, ao ser batizado no Rio Jordão, seja visto como ungido de Deus. Expressões e ações de cunho religioso têm crescido em todas as esferas de poder político, tanto federal, como estadual e municipal. A própria nomeação de um ministro do STF à época, foi pautada com essa intenção – ‘ministro terrivelmente evangélico’” (cf. O crescimento das Igrejas Evangélicas e Pentecostais).
Essas questões apontam para a dominiologia / dominionismo ou teologia do domínio (TD), que é um movimento que também nasceu nos EUA, entre os anos 70-80 do século passado e vem se espalhando pelo mundo. A ideia é de firmar o domínio de grupos políticos ultraconservadores a partir da interpretação fundamentalista da bíblia em todo o mundo. É um movimento que precisamos estudá-lo para entender em que poderemos nos tornar, num futuro bem próximo, fundamentado em regimes teocráticos fundamentalistas conservadores e autoritários/ditatoriais.
De uma coisa temos certeza: Os modelos teocráticos são sempre um perigo. O fundamentalismo é um grande perigo. Quantas guerras, perseguições, torturas e mortes fundamentadas em nome de Deus já não tivemos ou temos pelo mundo? Na verdade, qual “Deus” estas pessoas e grupos realmente cultuam, servem e defendem? Essa é mais uma questão que devemos nos aprofundar e descobrir qual é o nosso papel e missão como cristãos, seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré. De nossa parte, porém, olhando o modelo eclesial ultraconservador, autoritário, clerical que vínhamos refletindo, não reforçará essa mentalidade fundamentada na dominiologia proposta por essa nova teologia neopentecostal? Como superar este modelo tão condenado por Francisco e pelo próprio Concílio Vaticano II, que corrobora com o fundamentalismo evangélico neopentecostal?
Para nos iluminar nesta reflexão, como “contraponto”, gostaria enfatizar o seguinte: Esta nossa Igreja Particular de Natal, celeiro de vanguardas que chegaram ao Concílio Vaticano II e se espalharam pelo Brasil e pelo mundo, revelou-se como uma “Igreja do Espírito”, retomando o texto Paulino (I Cor 12), pela riqueza de experiências vividas, com tantos carismas e dons. Estas experiencias tão próprias desta Arquidiocese de Natal, hoje pode nos deixar com alguma “pulga atrás da orelha” e levantar uma série de interrogações, tal como: o que houve com essa Igreja que se mobilizou e mobilizou toda uma sociedade a partir do Movimento de Natal, iluminada pela então Ação Católica, de toda uma ação social aguerrida e revolucionária, onde os leigos e as leigas, em plena comunhão com o clero, tinham uma participação efetiva, inclusive de governança na Igreja? Aliás, houve uma época que podíamos sentir o rosto desta Arquidiocese não apenas mais laical (no sentido da participação efetiva e não apenas proforma nos seus destinos), mas laical feminina. A presença das leigas, mulheres consagradas religiosas que assumiam várias Paróquias como vigárias foi uma marca da Igreja de Natal que, inclusive, possibilitou a criação do Ministério Extraordinário da Sagrada Comunhão Eucarística, atualmente presente em todas as dioceses do Brasil e fora do Brasil.
Vale salientar que foi deste chão arquidiocesano que brotou e presenteou à Igreja do Brasil a organização pastoral, a partir da realização das Assembleias Pastorais Arquidiocesanas, referência para a então recém-criada CNBB, cujo Plano Pastoral, resultado destas primeiras assembleias tratava já de uma Pastoral de Conjunto (que já revelava uma “Igreja de Comunhão e participação”), bem antes da realização do Vaticano II. Hoje quando se fala em Igreja Sinodal, não deveria ser novidade para nós, já que há mais de 60 anos vivíamos essa experiencia de uma Igreja de comunhão, participação e missão, onde os leigos e as leigas tinham um papel preponderante, tanto no sentido pastoral, missionário, como administrativo, nesta nossa Arquidiocese. Aliás, enfatizo aqui, como exemplo disso, aquela jovem senhorita, Terezina Villar, que assumiu a Secretaria do Arcebispado e, pelas mãos dela, passaram pelo menos 3 (três) Arcebispos e um Bispo Auxiliar (D. Nivaldo, D. Alair, D. Heitor e D. Costa).
Terezinha era a figura feminina símbolo desta época da participação do laicato na Igreja de forma efetiva. Ela nunca foi uma “secretária de ‘bater’ ofícios”, mas alguém que era muito mais que isso, como conselheira, como alguém que entendia o que é a Igreja e ajudava inclusive os Bispos nas decisões administrativas-pastorais. Uma mulher de uma visão eclesial e social avançada para a época. A Igreja de Natal deveria tirá-la do anonimato e render-lhe ao menos uma homenagem pelos grandes serviços que aqui prestou. Não somente a ela, mas a uma gama de leigas e leigos que fizeram desta Igreja palco para o mundo em suas ações pastorais inovadoras. É triste quando perdemos a memória e deixamos pelo caminho aquelas e aqueles que nos fizeram crescer, abrindo-se ao Espírito para que nelas e neles Ele realizasse Seus carismas!...
Aproveito para enfatizar também algumas das inúmeras práxis desta nossa Igreja que serviu de lição para outras Igrejas Particulares e para a Igreja Universal. Lembro da primeira experiência de educação à distância, através das “Escolas Radiofônicas”, da criação da Campanha da Fraternidade, das experiências na luta pela reforma agrária, dos programas de educação política, do surgimento das Comunidades Eclesiais de Base-CEBs (hoje as CEBs são tidas por muitos membros do clero e mesmo por alguns leigos(as) por sua ignorância, como “coisa do demônio” – um desrespeito e uma blasfêmia contra o Espírito Santo que fez surgir tantos ministérios e serviços a partir destas Comunidades – ou será que acreditamos que toda essa riqueza de valores e ações foi coisa meramente humana?).
Foi também por esse espírito sinodal, movida pelos dons e carismas do Espírito, que essa Igreja de Natal viveu por quase dez anos (2002 a 2009), uma experiência única de Santas Missões Populares-SMPs que fez resgatar pessoas, fez surgir novos grupos, comunidades, pastorais, serviços e vocações (sacerdotais e religiosas). Um período de efervescência eclesial riquíssima que quero tratar especificamente nos próximos capítulos, que contradiz o modelo clerical que vemos crescer nos últimos tempos, acomodando essa “Igreja” e distanciando-a do seu Mestre e Senhor, Jesus de Nazaré, do qual somos todos e todas seguidores (ou deveríamos sê-lo!).
Francisco Adilson da Silva – Diácono da Arquidiocese de Natal
Coordenador Executivo do Serviço de Assistência Rural e Urbano- SAR