Por Diác. Eduardo Wanderley
Quando lemos o trecho do lava-pés, iniciando a segunda parte do livro do evangelho segundo João, vemos algumas atitudes de Jesus que nos chamam a atenção. Levantar-se, depor o manto, cingir-se, derramar água, enxugar, dialogar, repor o manto e retornar à mesa. Esses gestos de serviço, capturados apenas por João, têm muito a nos ensinar. Como a Igreja os recebe em nossos dias?
Antes de tudo, esse trecho nos remete a uma atitude de servo, de serviço. Vamos seguir João 13, para compreender. Estando preparada a ceia, Jesus e seus Apóstolos se encontram e parecem estar sentados em seus lugares. De repente, Jesus se levanta. Eis um primeiro gesto de serviço: levantar-se. Significa sair do estado atual. Significa desinstalar-se. Sempre faço memória da fala tão repetida e contundente do Papa Francisco: uma igreja em saída é uma igreja que se levanta. Sinal de prontidão, mas, efetivamente, sinal de ruptura com o estado inerte. Levantar-se é dizer eis-me aqui, faça-se em mim tua vontade, teu caminho, tua missão. E partir. Água estagnada se estraga, apodrece. Não nos deixemos cegar pelo modo de fazer. É preciso levantar-se para enxergar melhor. Ver do alto.
Tirar o manto. O manto é capa protetora, é ornamento, é sinal de realeza. Tantos são os significados do manto que poderíamos listar! Mas basta compreender o verbo: depor, retirar. A atitude de quem serve é a atitude de amor igualado. Também o Pai nos mostrou que enviar o seu Filho, nos igualando na condição humana embora plenamente divino, nos deixa entender essa dimensão de igualdade. Vemos com constância quando adultos se abaixam para falar com crianças. Criar uma relação de igualdade, que gera liberdade e empatia, embora o adulto continue adulto e a criança continue criança. Jesus tira o manto para se igualar com os servos. Se faz servo. O rei sem manto é o nosso rei. Para servir, é preciso desvestir nosso orgulho, desvestir nosso poder, retirar nossos cargos, nossos encargos. Nós todos devemos nos ocupar, principalmente quem tem a missão de liderar comunidades, grupos, pessoas, se estamos nos desvestindo para servir. Não se trata de perder a missão que lhe foi confiada, afinal, Jesus também se revestiu de seu manto mais adiante.
A toalha é algo corriqueiro. Nossas casas têm toalhas. Arrisco a dizer que são duas, três, quatro ou mais. Mas era o instrumento necessário para o serviço de Jesus. Nosso Senhor precisa de nosso melhor, não do melhor que pode e existir. Ele age com instrumentos simples. Lembro-me da apresentação do recém-eleito papa Bento XVI. Ele disse: "que bom que Deus sabe trabalhar com instrumentos insuficientes". Para servir, não precisamos de ouro nem prata. Apenas de uma toalha. O extraordinário está no ordinário de nossas vidas.
Derramar a água. Como não lembrar de nosso batismo? Como não lembrar do sangue e da água que brotam do peito aberto de Jesus na cruz. A água, criatura de Deus, é passagem, é vida nova. Retira a sujeira dos pés para que fiquem limpos e sãos. Que o rio de água viva, água espiritual, se derrame em nós todos os dias.
Enxugar é o próximo verbo. Significa, entre outras possibilidades, concluir a tarefa. Não se pode parar no meio de um serviço. Precisamos ir até o fim. As ruas de nossa cidade estão cheias de fios pendurados. Poluição visual porque as companhias não sabem concluir suas tarefas. Aqui não se trata de não saber como fazer, mas de escolher não fazer por causa do custo. Assim a gente vai deixando as coisas pelo caminho. Os pés já estavam limpos, mas era preciso terminar a tarefa. Em nossas pastorais, também deve ser assim.
Por fim, excluso o diálogo com Pedro, vemos um mandato de Jesus, mestre e Senhor. Ele lavou os pés dos discípulos e mandou que o fizéssemos também. Marido e mulher devem sempre lavar os pés um do outro. Coordenadores de pastorais devem sempre lavar os pés dos coordenados. Párocos de paroquianos. Pais dos filhos. É a nobreza do serviço que se mostra nessa atitude. Que o bom Deus nos ajude a sermos servos mais perfeitos, mas parecidos com Ele. Lavadores de pés para glória de Deus.
Diácono Eduardo Bráulio Wanderley Netto
Paróquia de São Camilo de Léllis – Lagoa Nova – NatalArquidiocese de Natal