sábado, 28 de setembro de 2024

Um sonho de Ser!

Por Diác. Francisco Teixeira

Um sonho! Que sonho? O de Ser. Ser gente. Ser Serviço no mister de Ser Humano; de Ser filho; de Ser irmão; de Ser esposo; de Ser pai; de Ser trabalhador na Vinha do Senhor da Vida. Ser Igreja. Ser educador e Ser Serviço da Justiça. Ser Direito. Deixar-se inundar e sangrar pelo desejo de encontrar e tornar crível o Direito: de quem busca e o reclama; dos famintos e sedentos por Justiça. Ser parte nas lutas para a construção de um mundo mais justo, mais fraterno, mais solidário e de paz.

Sonho alimentado mesmo nas dificuldades. Ora, parecia tão distante! Quase não tocado pelas pontas de meus dedos. Que luta! Sonho que pavimentou meu caminhar. Tornou-se exequível quando pessoas amigas e generosas me ofereceram as suas mãos, no prolongamento das minhas, a fim de que eu pudesse apalpar e pegar no meu sonho.

Tudo começou quando naquele sábado de 1968, com o meu Pai, estive na Missa dos agricultores em Jardim do Seridó (RN). Neste mesmo dia, na mesma Igreja, tomamos parte na fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Jardim do Seridó, sob a orientação do Mons. Ernesto. Em tenra idade, fui alçado para Ser parte do sonho de meu pai e de tantos rurais, que clamavam por vida e por dignidade humana, pois eram sem terra, sem trabalho, sem moradia, sem escola, saúde,.... Sonho de libertação!

No ano seguinte, fomos do sítio para a cidade, com minha Mãe, para estudar. Tempos também difíceis. Lá, experimentamos até fome e outras limitações. Atenta e cuidadosa para com cada um de seus filhos, estava sempre de pé a nossa Mãe, na busca, sem trégua, de oportunidades de trabalho e renda para, com meu o Pai, suprirem as necessidades básicas indispensáveis à realização do sonho de todos. Mulher forte, destemida, corajosa, lutadora, de muita fé, esperança e caridade. Foram tantas as vezes que presenciamos nossa mãe acudindo outras pessoas e famílias, partilhando do pouco que tínhamos para com quem tinha menos ainda.

Assim, neste contexto de lutas e conquistas, o meu sonho foi tornando-se possível. Nessa trajetória tive que tomar parte do múnus pastoral de Mons. Ernesto e Dom Heitor, de Dom Matias e Dom Jaime, como um pobre e indigno Cirineu, cuja oportunidade me legou saber que gosto tem o sangue da Cruz libertadora do Cristo Jesus. A essas pessoas-Igreja rendo-lhes minhas homenagens e contínuo e profundo agradecimento. Como Cirineu, tomaram em suas mãos o meu sonho, sonho plasmado no coração e no Ser do meu Pai e da minha Mãe. Meus pais, para garantirem vida digna para nós, os seus filhos, gemeram a dor dos injustiçados e dos excluídos. Porém, nunca perderam a esperança de que poderíamos vencer, conservando a nossa dignidade humana.

Hoje, o sonho faz-se realidade. Um novo horizonte abre-se à minha frente. Oportunidades descortinam-se. Quero continuar sonhando. Esforçar-me-ei para Ser Serviço para os de poucas chances, os desprovidos de justiça e que, no silêncio de seus anonimatos, são pisoteados nos seus sonhos e desejos, enfim, na sua dignidade humana. E levar adiante o sonho de Ser gente, ser humano...

À minha família, esposa, filhos e netos, minha gratidão pelo apoio e compreensão nas quedas, e que também abraçaram o sofrimento quando fui chamado a fazer o santo caminho da “via crucis”. Aos amigos de trabalho e sonhos, minha homenagem sincera e reconhecimento. À Igreja Católica, minha terna, filial e profunda gratidão, a quem renovo o compromisso de sempre Servi-La, amá-La, promovê-La e defendê-La até o final de meus dias.

É tempo de reafirmar a força da esperança que habita em meu coração e que me motiva nessa longa e difícil travessia - e que nunca foi fácil – cuja trajetória sempre esteve ancorada nos valores que decorrem do Evangelho, e que são transfigurados no testemunho que se expressa na transparência e no compromisso permanente com a verdade, com a eficiência e eficácia das ações empreendidas onde tenho servido.

Pelo exemplo, espero suscitar nos meus filhos e filhas - e nos que teimam em sonhar - ânimo, coragem e ousadia para que levem adiante, no porvir, este legado de vida, de fé, de esperança e de Serviço à caridade, verdadeiro legado transmitido por meus pais e pastores de outrora. Tudo pela Vida, e Vida em abundância, alicerçada nos valores humanos e nos da fé católica.

Deixemo-nos amar pela Palavra de Deus e pelo ensinamento da Igreja, que é também Mãe e mestra. Que a Igreja nunca desista de buscar continuamente o dom da santidade, que a faz perita em humanidade, cuja virtude o tempo presente tanto reclama de todos nós. Vale a pena devotar amor à Igreja de Cristo!



Diácono Francisco das Chagas Teixeira de Araújo
Coordenador do Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários (SEAPAC)
Arquidiocese de Natal

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