quinta-feira, 6 de março de 2025

A fraternidade como pressuposto fundamental de um processo formativo que respeita as diferenças (Art. do Diác. Paulo Felizola)


Diácono Paulo Felizola de Araújo
Paróquia de Nossa Senhora do Ó - Nísia Floresta
Arquidiocese de Natal



Em nossa última publicação a respeito do Pacto Educativo Global, tivemos como preocupação central a necessidade de ser desencadeado um processo educativo baseado na formação, e não no treinamento, como forma de ensino transformador que, abraçando a ampla gama de experiências de vida e processos de aprendizagem, permite aos jovens, individual e coletivamente, desenvolverem as suas, respectivas, personalidades. Portanto, um processo educativo que forma, e não apenas treina, é um processo que transforma o aluno em um aprendiz ativo, considerando a experiência e incentivando a sua criatividade. É um processo capaz de mudar consciências e entender melhor a realidade para buscar a melhor solução para transposição dos obstáculos impostos à vida.

No âmbito do Pacto Educativo Global proposto pelo Papa Francisco, para ser um processo formativo é, também, fundamental que os pactuantes tenham bem claro o que deve ser entendido como Pacto. Segundo o “INSTRUMENTUM LABORIS” o que está proposto pelo Sumo Pontífice deve ser entendido como uma “aliança educativa”, na qual duas ou mais pessoas ou instituições diferentes se comprometem por uma causa comum e que, mantendo as recíprocas diferença, optam por colocarem as próprias forças a serviço do mesmo projeto. Ou seja, no caso do Pacto Educativo Global, os pactuantes precisão optar por colocar as próprias forças a serviço de um processo formativo transformador, reconhecendo no outro, não uma ameaça contra as respectivas identidades, mas um companheiro, um parceiro, que juntos buscam um novo mundo possível, justo e solidário. 

Portanto, não poderá haver um pacto pela educação sem que haja abertura ao outro, respeito às diversidades e o reconhecimento da indispensabilidade de cada contribuição para enfrentar a emergência educativa, conforme foi reconhecida pelo Papa Bento XVI em sua “Carta à Diocese e à cidade de Roma sobre a tarefa urgente da educação”, de 21 de janeiro de 2008: “Todos temos no coração o bem das pessoas que amamos, em particular das nossas crianças, adolescentes e jovens. De fato, sabemos que depende deles o futuro desta nossa cidade. Portanto, não podemos não ser solícitos pela formação das novas gerações, pela sua capacidade de se orientar na vida e discernir o bem do mal, pela sua saúde não só física, mas também moral. Educar, porém, nunca foi fácil, e hoje parece tornar-se sempre mais difícil. Sabem-no bem os pais, os professores, os sacerdotes e todos os que tem diretas responsabilidades educativas. Fala-se por isso de uma grande "emergência educativa", confirmada pelos insucessos com os quais com muita frequência se confrontam os nossos esforços para formar pessoas sólidas, capazes de colaborar com os outros e dar um sentido à própria vida”.

Dificilmente podemos negar que vivemos em um mundo movido por um sistema que produz e reproduz a vida material privilegiando a cultura do descarte que, por sua vez, rejeitando a fraternidade, transformou o ser humana em um mero instrumento da produção. Diante dessa realidade, nos lembra o Papa Francisco que “muitas coisas devem reorientar a própria rota, mas antes de tudo é a humanidade que precisa de mudança. Falta a consciência duma origem comum, duma recíproca pertença e dum futuro partilhado por todos” (Laudato si’, n. 202)

Ou seja, para que haja a mudança é preciso descobrirmos que somos unidos pelo vínculo da fraternidade, “que então se manifesta como o princípio que expressa a realidade estrutural do ser humano” (cfr. Laudato si’, n. 220) ... que, recebendo um impulso renovado, torna-se, de certa forma, o verdadeiro ponto de chegada de cada processo educativo realizado. A conversão educacional, como a que propõe o Pacto Educativo Global, portanto, não pode esquecer a fraternidade como o seu pressuposto fundamental e como eixo operacional o formar dinamizado por uma aliança educativa caracterizada pelo respeito à diversidade e pela necessidade de abertura ao outro.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS