segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Nosso itinerário de discípulos e discípulas

Por Pe. Paulo Henrique

Todo itinerário espiritual, formativo, celebrativo, pastoral, passa pela experiência da alegria. O chamado de Jesus aos Doze, a Maria Madalena não foi uma coisa sem vida, como se fosse uma tarefa simplesmente, mas uma vivência alegre de uma transformação de vida, do encontro que deu um novo sentido para a vida deles.

No itinerário espiritual vivenciamos uma experiência de encontro pessoal com Jesus Cristo. Não encontramos um morto, alguém que ficou no passado, alguém que trouxe sombras e trevas, mas Alguém, que é esperança de vida e de plenitude. A oração é o primeiro passo desse itinerário, pois ela é o constante diálogo com Aquele que nos ama. Nós sempre fizemos que precisamos rezar, e isso é verdade. Porém, já pensou em que, em primeiro lugar, é Deus que quer dialogar conosco? E mais, que Ele está sempre pronto para esse diálogo? Como deve estar alegre e satisfeito o coração de Deus quando nos dispomos a rezar (dialogar) com Ele! 

Aprendamos a fazer esse diálogo com a ajuda da Palavra de Deus – com a Lectio divina ou leitura orante da Bíblia. Há um momento onde esse diálogo é vivido de forma comunitária: a celebração da Eucaristia. Na Missa podemos nos envolver com o diálogo do Ministro que a preside, pois ali estamos com ele. Todos nós que, desde o dia do Batismo fomos configurados a Cristo, Sacerdote, Profeta e Rei. Neste diálogo eucarístico louvamos e agradecemos porque o Pai nos deu o seu Filho e Ele nos deixou, no sacramento do Pão e do Vinho, o seu Corpo e Sangue, Pão da vida eterna e cálice da salvação. Essa é uma alegria que não podemos deixar de experimentar: somos convidados a celebrar a Ceia, memorial da redenção, manifestação plena e definitiva do amor de Deus por cada um de nós, pela humanidade.

O itinerário formativo nos põe num contato com a verdade da Revelação. Ela é o fundamento de toda a Teologia. E o que significa Revelação? Ela é a automanifestacão e autocomunicação. Isso quer dizer: Deus se determinou, livre, graciosa e escatológicamente, a se dá a conhecer, Ele "aparece" no mundo, com a criação, as alianças, as mais diversas vezes em que Ele renova as alianças, perdoando e levando o seu povo a olhar para frente. Mas, não se trata de um "conhecimento" abstrato, como se fosse um pensamento ou um conjunto de regras e leis a conhecer. Trata-se, em primeiro lugar, de entender que Deus mesmo se dá, Ele se entrega a nós, vem ao encontro do homem e da mulher. A criação do homem e da mulher da parte de Deus, os coloca no universo de Deus. 

Ao criar um ser diferente dele, Deus se torna a realidade que envolve essa criatura. Deus é a alegria infinita de sua criatura, pois ela é o destinatário dessa atitude divina. Nenhum ser humano vem ao esse mundo como natura pura, como se existisse sem essa destinação. Deus envolve a sua criação e a sua criatura no âmbito do sobrenatural, não como obrigação divina, não como devida, não apesar da história, do desenvolvimento intelectual e emocional a que está sujeito, mas, precisamente na história, acompanhando o seu desenvolvimento. Deus acompanha tudo - alegrias e tristezas, saúde e doença, anseios e cansaços, e mostra que o seu amor nos sustenta, e se torna a alegria constante infinita para nós.

Esse itinerário se completa e se alimenta com o itinerário celebrativo. E celebrar jamais nos leva à tristeza. Celebramos a salvação, celebramos a vinda, o encontro de Deus conosco, com a história, com a sua comunidade. A celebração envolve tudo: cada um, cada uma, a assembleia litúrgica, também os vizinhos, a cidade, o País, o Continente, toda a humanidade, o universo, planetas, galáxias, e, last but non last, a natureza, o meio ambiente, os animais, todos os seres vivos.

Por fim, no itinerário pastoral aprendemos a ser como Jesus, o Bom Pastor. Também aqui, não podemos deixar de sentir a alegria do Pastor de convocar, de formar, de conduzir os irmãos e irmãs no conhecimento da fé, no conhecimento de Deus, na celebração da fé. E ainda, somos chamados a fazer nossa a alegria do Bom Pastor em ir buscar a ovelha perdida, de sentir alegria em encontrá-la, e de trazê-la para o convívio com as outras ovelhas. Essa é uma alegria que faz da nossa pastoral uma realidade missionária, isto é, não podemos guardar para nós mesmos o tesouro que nos foi dado, gratuitamente, e que é destinado a todos, sem exceção.






Por Pe. Paulo Henrique da Silva Diretor de estudos do Seminário de São Pedro

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