quinta-feira, 17 de outubro de 2024

“A alegria da Comunidade”

Por Diác. Paulo Felizola

Em um ambiente de considerável simplicidade, o Bispo que, como paramentos, usava apenas a alva e a estola, imediatamente após a acolhida, exortou a comunidade a recordar a vida. De forma descontraída e alegre, as pessoas iam relatando os fatos, dentre os quais chamaram a atenção duas recordações: a conclusão e entrada em funcionamento da rede de abastecimento de água no bairro e o anúncio do Real como a nova moeda, que foram proclamadas nos seguintes termos:

“Depois de muita luta e sofrimento, fomos atendidos e todo o bairro está alegre porque a água encanada chegou em nossas casas.”

“Meus irmãos, não devemos deixar de agradecer, hoje, nesta Santa Missa, pela nova moeda, pois vejo nela uma grande esperança e um sinal de que fomos ouvidos por Deus. Agora, com a nova moeda, parece que a coisa vai melhorar, pois, pelo menos os preços não vão subir tanto e nós vamos poder aproveitar melhor o pouco que ganhamos.”

Todos sabemos que o serviço de fornecimento de água encanada às residências é um sinal, incontestável, de melhoria na qualidade da vida das pessoas, assim como a superação de um processo hiperinflacionário é um sinal de segurança e de esperança em uma nova vida. Portanto, notemos que aquela comunidade tinha o que festejar e agradecer e, assim, celebrar a alegria da vitória da vida sobe a morte: “Anunciamos Senhor, a vossa morte! Proclamamos a vossa ressurreição! Vinde, Senhor Jesus!”.

A Igreja nos ensina que a Eucaristia é a fonte da verdadeira alegria (At 2,46-47), pois ela tem um papel fundamental na missão evangelizadora da Igreja, na consolidação da comunidade cristã e na formação dos discípulos missionários, sendo sinal de partilha, sinal de um mundo sem fome, sem miséria, sem exclusão. Portanto, a Eucaristia é o centro da vida comunitária, é nela que unimos e elevamos os nossos corações para a AÇÃO DE GRAÇA que a comunidade, Corpo de Cristo, faz pública e carinhosamente a Deus Pai, pelos sinais que Ele revela de sua presença no meio de nós:

O Senhor esteja convosco! – Ele está no meio de nós.
Corações ao alto! – O nosso coração está em Deus.
Demos graças ao Senhor, nosso Deus! – É o nosso dever e nossa salvação.

A celebração da eucaristia, assim, não é uma reza, é um encontro comunitário que tem tudo a ver com a nossa vida pessoal e social. A missa nunca deve ser alienada da vida social, pois se assim for a vida das pessoas deixa de ser importantes e, nesse caso, melhor seria que fossem para lugares onde são levadas em consideração e não tenham que perder tempo em igrejas e capelas onde não passarão de espectadores e números que aumentam ou diminuem. A missa alienada e que, portanto, nada tem a ver com a vida pessoal e social das pessoas, torna-se uma cerimônia gelada, anacrônica e entediante para os mais velhos e incompreensível para os mais jovens.

Não esqueçamos, portanto, que pela presença do Pai no meio de nós, apesar de todas as adversidades que o mundo nos impõe, que nossas celebrações eucarísticas sejam a Encarnação do Mistério Pascal na vida da comunidade, para que todos juntos, alegremente, elevemos os nossos corações para darmos Graça a Deus.

O que vai aqui relatado aconteceu na comunidade São João Batista, na Periferia da cidade de Itaquatiara, no Estado do Amazonas, no dia 03 de julho de 1994, o primeiro domingo após o anúncio do Real como a nova moeda. Acontecia um encontro de formação para agentes de pastoral e líderes comunitários da Prelazia, ao qual eu vinha participando como assessor nas reflexões acerca da conjuntura econômica. Mas como era um domingo e eu estava hospedado na casa do Bispo, o acompanhei à Missa dominical que ele celebraria.

Dom Jorge Marskell, Bispo da Prelazia de Itaquatiara, no período de 1978 a 1998.




Diácono Paulo Felizola de Araújo
Paróquia de Nossa Senhora do Ó - Nísia Floresta(RN)
Arquidiocese de Natal

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