Por Pe. Paulo Henrique
“Que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim, e eu em ti” (Jo 17,21). “Promover a restauração da unidade entre todos os cristãos é um dos principais propósitos do sagrado Concílio Ecuménico Vaticano II” (Concílio Vaticano II. Decreto Unitatis redintegratio sobre o ecumenismo, 1).
Quando São João XXIII anunciou a convocação do Concílio Vaticano II, muitos viram nele um acontecimento de esperança para a restauração da unidade. Embora o Concílio tivesse como finalidade mais forte a renovação interna da Igreja Católica, São João XXIII era consciente de que a união dos cristãos separados estava ligada a esta renovação. É bem verdade que a unidade da Igreja de Cristo não é produto de decisões institucionais, mas da vontade do próprio Senhor, como vemos no capítulo 17 do Evangelho de São João, na oração sacerdotal de Jesus. Porém, a partir do Concilio Vaticano II, a Igreja avançou no diálogo ecumênico.
A grande palavra da Igreja sobre o Ecumenismo, fundamentada na oração de Jesus de João 17, o Decreto conciliar Unitatis redintegratio, publicado em 21 de novembro de 1964, traz um propósito que foi seguido e reafirmado pelo Magistério da Igreja até hoje. Em primeiro lugar, São João XXIII, que na sua trajetória diplomática mostrou-se aberto ao diálogo fraterno com cristãos ortodoxos durante sua permanência na Turquia, na Bulgária e na Grécia. Em vários documentos pontifícios, preparando o Concílio Vaticano II, afirmava que a unidade dos cristãos era algo que todos deviam desejar.
Será São Paulo VI o que realizará um encontro histórico, quando em 1964 abraçou o Patriarca de Constantinopla, Atenágoras I, gesto que nunca tinha acontecido desde a separação das Igrejas ortodoxas, em 1054. Depois desse gesto, foi assinada, em 1965, uma comum declaração de anulação das excomunhões reciprocas que valiam desde o chamado Cisma do Oriente, em 1054. São João Paulo II, além de muitos gestos de amizade e encontros ecumênicos, dedicou ao tema uma encíclica Ut unum sint, publicada em 1995, em que o Pontífice afirma que “Cristo chama todos os seus discípulos à unidade. O ardente desejo que me move, é o de renovar hoje este convite e repropô-lo com determinação” (JOÃO PAULO II. Carta encíclica Ut unum sint, 1). Bento XVI não se furtou a esta mesma convicção e Papa Francisco demonstrou que segue na mesma linha.
Mas, o que é o ecumenismo? Em primeiro lugar, uma observação importante: ecumenismo quer significar relações, encontros, estudos e diálogo com as Igrejas e Comunidades Cristãs, isto é, as Igrejas Ortodoxas do Oriente e as Igrejas e Comunidades eclesiais vindas da Reforma, do século XVI, e ainda com outras surgidas depois. Com as religiões a Igreja Católica estabelece o chamado diálogo inter-religioso. Por isso, o nome mais adequado para o diálogo com as Igrejas cristãs é justamente ecumenismo. Do grego Oikoumenè, que significa toda a terra habitada ou o universo habitado, ecumenismo diz respeito ao sentido que a Igreja dá para sua missão de anunciar o Evangelho de Jesus Cristo ao mundo inteiro e a consciência de estar disponível para se engajar pela unidade da Igreja.
Não é possível fazer aqui um percurso histórico do significado que a palavra Ecumenismo teve desde o tempo da Igreja antiga até hoje, mas é imprescindível afirmar que não há contradição entre ser cristão e ser ecumênico, ou entre ser evangélico e ecumênico e ainda, entre ser católico e ser ecumênico. É bem verdade que nós, principalmente no Nordeste do Brasil, temos dificuldades no diálogo ecumênico pela pouca presença das outras igrejas abertas ao diálogo. Mas, isto não é justificativa para não sermos ecumênicos, ou seguirmos o que é ensinado pelos Papas e muitos outros cristãos, evangélicos, protestantes ou anglicanos: rezar pela unidade da Igreja. Existe no diálogo ecumênico o chamado “Ecumenismo espiritual”, onde se reconhece que a unidade dos cristãos é, sobretudo uma obra do Espírito Santo, uma realidade espiritual dada por Deus, e por isso rezamos por ela.
Padre Paulo Henrique da Silva
Diretor de estudos do Seminário de São Pedro