sexta-feira, 11 de julho de 2025

O Sentido da Vida e a Busca Espiritual (Dom João)

No coração humano sempre desponta uma pergunta central que o inquieta: qual o sentido da vida? O filósofo e cientista francês Blaise Pascal nos oferece uma chave: “O coração tem razões que a própria razão desconhece” (Pensées, 277).  Essa expressão sintetiza o desafio de buscar o sentido da vida numa sociedade dominada pela técnica, pelo cálculo e pela produtividade. Embora esse modelo racionalista tenha proporcionado avanços, ele é insuficiente para responder às grandes questões existenciais: Por que existo? Que devo fazer para ser feliz? Há algo depois da morte? 

Diante dessas perguntas, percebemos que a razão por si só não basta. Há dentro de cada pessoa uma sede de plenitude que o conforto material, o êxito profissional ou o reconhecimento social não são capazes de saciar. Como dizia Santo Agostinho: “Fizeste-nos para ti, Senhor, e o nosso coração está inquieto enquanto não repousa em ti” (Confissões). Essa inquietação aponta para um desejo que transcende o imediato, uma espécie de saudade do infinito inscrita no íntimo do coração humano.

Muitos tentam silenciar essa sede por meio de distrações, consumismo ou ativismo. Mas, cedo ou tarde, a inquietação ressurge: em noites solitárias, em perdas repentinas, ou mesmo na contemplação silenciosa de um pôr do sol. Trata-se de um chamado profundo, que nos convida a olhar para além do visível e a considerar o mistério que nos habita.

Pascal descrevia o ser humano como um “paradoxo misterioso”, capaz de grandezas sublimes, mas também inclinado à miséria. Temos sede de eternidade, verdade, justiça e amor, mas somos limitados e contraditórios. Essa tensão revela que não somos autossuficientes, e que nossa origem e destino remetem a algo, ou melhor, a Alguém maior que nós. Por isso, buscar o sentido da vida é, em última instância, buscar por Deus.

Pascal identificou dois modos fundamentais de conhecer: o “esprit de géométrie” (espírito de geometria) e o “esprit de finesse” (espírito de fineza). O primeiro refere-se à razão lógica e analítica, que mede, deduz e organiza o conhecimento do mundo externo. Já o segundo é a inteligência do coração, capaz de perceber, amar e intuir. É nesse espírito de fineza que se insere a vida espiritual. A fé, nesse contexto, não é irracional, mas uma forma de conhecimento mais profunda, que reconhece os limites da lógica e se abre à totalidade do real. Trata-se de uma confiança lúcida, não de uma crença cega, é a certeza de que existe um Amor Maior, que nos sustenta e nos espera.

Redescobrir a dimensão espiritual é, hoje, um caminho necessário para reconectar com o centro da vida. Não se trata apenas de seguir tradições ou praticar rituais, mas de cultivar o silêncio, a escuta interior, a abertura a Deus. A espiritualidade verdadeira é encontro com um Deus vivo, que nos conhece por dentro e nos chama pelo nome.

A busca pelo sentido da vida não é tarefa exclusiva dos filósofos, mas de todo ser humano. Ela dá unidade à nossa existência, ilumina nossas decisões, fortalece-nos nas dores e oferece esperança diante da morte. É o que nos transforma de meros sobreviventes em “peregrinos da esperança”, que caminham com direção, guiados por uma luz interior que vem de Deus.

No mais profundo, todos queremos amar e ser amados, viver com verdade, deixar uma marca de bem. É na vida espiritual, vivida com autenticidade, que esses anseios se encontram e se realizam. Como escreveu Pascal: “O ser humano ultrapassa infinitamente o ser humano.” Somos feitos para mais: para o amor que vem de Deus, para a vida plena que só Ele pode dar. Em tempos saturados de informações, mas famintos de sentido, o convite é claro: abrir o coração, escutar o mistério e reencontrar a fonte que realmente sacia.

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