Num país onde o rebanho caminha entre pastos secos e trilhas escarpadas, a figura do pastor ressoa com força simbólica. No evangelho do 4º Domingo da Páscoa, Jesus afirma: “Eu dou a vida eterna para minhas ovelhas” (Jo 10,27-30). Uma promessa de cuidado, permanência, segurança. Em contraste, a paisagem política do Brasil atual nos mostra líderes que se dizem guias, mas muitas vezes mais parecem lobos em pele de cordeiro.
No Planalto, discursos carregados de promessas ecoam como cânticos conhecidos, mas na prática, o rebanho — o povo — continua disperso. A fome ainda bate em muitas portas, a saúde cambaleia entre filas e escassez, e a educação é tratada como pasto de último grau. A confiança, essa lã tão rara hoje, está gasta. O Brasil, grande e diverso redil, clama por vozes que não apenas prometam, mas que reconheçam e cuidem de suas ovelhas com verdade.
A leitura dos Atos dos Apóstolos nos mostra Paulo e Barnabé pregando com ousadia, sendo rejeitados por uns e acolhidos por outros. Não é muito diferente do que vemos nos embates entre Congresso e Planalto, onde projetos e interesses colidem em nome de “causas maiores” que nem sempre refletem o bem comum. O grito popular — que pede por justiça, dignidade, e pão — se mistura a um ruído político de disputas ideológicas que se esquecem do essencial: a vida das ovelhas.
A figura do Papa Leão XIV, recém-eleito, pode inspirar. Um homem vindo do serviço pastoral, voltado para os pequenos, e defensor de uma Igreja que vai às periferias. Que sua simplicidade e firmeza sirvam de modelo, também, para os nossos políticos. O Brasil não precisa de salvadores da pátria — precisa de pastores públicos: líderes que conheçam o cheiro de seu povo e cuidem dele com verdade, sem cálculos eleitorais.
Enquanto isso, o povo segue: fé na mão, boletos no bolso, esperança no peito. Ainda acredita que pode haver alguém que “dá a vida pelas ovelhas” — não só nos púlpitos, mas também nos palácios.

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