quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Os mais fortes talvez cheguem a oitenta


Diácono José Bezerra de Araújo
Assistente Eclesiástico da Pastoral da Comunicação
Arquidiocese de Natal



Creio que você conhece a música de Gonzaguinha em que ele se pergunta o que é a vida. “E a vida, e a vida o que é, diga lá meu irmão...”. Este é um dos primeiros versos da música. Mas, de fato, nós, ao longo de nossa vida, fazemo-nos esta pergunta? Ou, pelo menos, sobre qual é o propósito desta vida que Deus nos concede para vive-la, dia após dia, mês após mês, ano após ano? Quantos anos pode durar nossa vida? O salmista, meditando sobre a Palavra de Deus, afirma: “Reduzis o homem à poeira, e dizeis: Filhos dos homens, retornai ao pó, porque mil anos, diante de vós, são como o dia de ontem que passou, como a vigília da noite”(Sl 89,3-4).

Ora, se a vida do ser humano é tão breve, diante da grandeza de Deus e de toda a abra da criação, mas também tão importante para o Criador e as demais criaturas, por que tanta gente gasta seu tempo prejudicando a própria vida e a vida de outras pessoas? Por exemplo, qual a razão das guerras, que destroem não apenas bens materiais de ambos os lados, mas também a vidas de homens, mulheres, jovens e crianças? Atualmente, as mais destacadas guerras por este mundo afora são a da Rússia contra a Croácia e a da Faixa de Gaza... Quantas vidas já foram destroçadas? Provavelmente não há estatística, porque, nestes casos, o que menos importa é a vida humana...

Meditando sobre a brevidade desta vida que Deus nos concede, o salmista compara a vida humana com “o dia de ontem que já passou, com a vigília da noite. ... são como um sonho da manhã, como a erva que viceja de manhã, mas à tarde é cortada e logo seca”(cf. Sl 89,5-6). Mais adiante reflete sobre a vida que leva e se reconhece como um errante diante de Deus, quando afirma: “Colocastes diante de vós as nossas culpas, e nossos pecados ocultos à vista de vossos olhos. Ante vossa ira passaram todos os nossos dias. Nossos anos se dissipam como um sopro. Setenta anos pode durar a nossa vida; os mais fortes talvez cheguem a oitenta. A maior parte é sofrimento e vaidade, porque o tempo passa depressa e desaparecemos”(Sl. 89,8-10).

O profeta Isaias também faz uma reflexão sobre a vida passageira que Deus concedeu à criatura humana. “É necessário que eu me vá no apogeu de minha vida e de meus dias. Para a mansão triste dos mortos descerei, sem viver o que me resta de meus anos. (...) Qual tecelão, eu ia tecendo a minha vida, mas agora foi cortada a sua trama”(cf, Is 38,10-12). Ora, se a vida humana é tão breve diante da grandiosidade de Deus Criador, por que a criatura humana pratica tantos atos que contribuem para reduzir sua própria vida e a dos demais seres vivos – fauna e flora – e o habitat natural de todos os viventes?

Parece uma atitude irracional, quando o ser humano é a única criatura de Deus dotada da capacidade de pensar, de raciocinar e de agir conscientemente nas suas tomadas de decisão. Mas, ao mesmo tempo, por mais estranho que possa parecer, também é capaz de agir friamente na prática do mal contra outra criatura humana e, às vezes, até contra si mesmo. Por exemplo, sabe que a ingestão de drogas prejudica a saúde física, mental e até a convivência social. Mesmo assim, ingere drogas...

Devemos nos lembrar sempre que tudo nesta vida tem seus limites. O meu e o seu limite terminam quando interferem na vida de outras pessoas, prejudicando-as. Então, neste período carnavalesco, policie-se e jamais extrapole os seus limites, seja para consigo mesmo, seja para com as demais pessoas. Preserve a vida que Deus lhe deu. O profeta Izaias reconhece a presença de Deus na sua vida, quando diz: “... vós livraste minha vida do sepulcro e lançastes para trás os meus pecados”(Is. 38,17). Preservemos a vida. Ela é bela!

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