terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

A recepção do Sínodo: uma pesca abundante (Artigo do Diác. Eduardo Wanderley)


Diácono Eduardo Bráulio Wanderley Netto
Paróquia de São Camilo de Léllis – Lagoa Nova – Natal
Arquidiocese de Natal



Estamos chegando ao penúltimo texto dessa série que apresenta, em síntese, um pouco do documento final do Sínodo dos Bispos 2021-2024. Percorremos a parte teológica, a conversão das relações, as práticas de discernimento, de decisão e de transparência. Agora é hora de conhecermos a quarta parte, que nos convida a cultivarmos o entrelaçamento de dons e vínculos que nos unem na Igreja.

"As redes lançadas com a palavra do ressuscitado permitiram uma pesca abundante. Todos ajudaram a arrastar a rede, e Pedro tem um papel particular. No evangelho, a pesca é uma ação realizada em conjunto: cada um tem uma tarefa precisa, diferente mas coordenada com a dos outros" (no. 109). Interessante que, depois de conviver com Jesus, os Apóstolos voltam para o trabalho da pesca. Esse episódio nos lembra, fundamentalmente, que, com a palavra de Deus, a pesca se torna diferente. É a mesma ação de antes, mas com outra força. Cada um de nós, em nosso trabalho, também experimenta a mesma coisa. Depois de conhecer Jesus, não deixamos de ser vendedor, de ser carpinteiro, de ser engenheiro, de ser professor... mas passamos a fazer a mesma coisa com um coração diferente por causa da força do evangelho. Depois, também vemos a força dos vínculos. Quando cada um faz uma tarefa coordenada, há espaço para todos, todos, todos.

"A Igreja não pode ser compreendida sem estar enraizada em um território concreto, em um espaço e em um tempo no qual se forma uma experiência comum do encontro com Deus que salva" (no. 110). Nesse contexto é preciso ver o caleidoscópio que é a igreja. Sua beleza está na diversidade. E isso se apresenta tanto na forma do espaço como no tempo. É preciso ver os vínculos das igrejas locais. Mas é preciso, também, ver os vínculos do passado, do presente e do futuro. Cada tempo tem seus métodos para realizar a tarefa primordial: evangelizar. Evangelizar o hoje exige o método hodierno, sob pena de não passarmos de um museu que atrai pela beleza e não pelo coração.

"Todos experimentam o impacto provocado pelo encontro com a diversidade de proveniência geográfica, cultural e linguística, e são chamados a construir comunidades interculturais" (no. 112). Com a globalização, podemos experimentar belezas que estão em outras fronteiras. O 'catolicismo ortodoxo' por exemplo. Sua divina liturgia é imponente. Para uma interculturalidade, é preciso respeitar as diferentes raízes espirituais.

"A relação entre lugar e espaço sugere também uma reflexão sobre a Igreja enquanto 'casa'. [...] a imagem da casa evoca possibilidades de acolhimento, de hospitalidade e de inclusão." (no. 115). A casa é essa imagem de igreja que nos lembra que nossos filhos são acolhidos, mesmo quando cometem erros. Não significa deixar de ensiná-los a partir dos erros e simplesmente deixar para lá. Significa abraçar e mostrar que erros servem para acertos futuros. É pedagógico errar.

"Uma das principais articulações da Igreja local que a história nos transmitiu é a paróquia. [...] As mudanças na concepção e no modo de viver a relação com o território exigem que se repense a sua configuração" (no. 117). A plasticidade da paróquia está sendo posta à prova. A geografia territorial, no grande centro urbano, é apenas umas das inúmeras formas de vínculo de fiéis. Guardando-se a espiritualidade local, tudo mais deve ser pensado em forma de vínculos afetivos, de acolhimento, de estruturas variadas. De fato, "a Igreja em nível local e na sua unidade católica, propõe-se como uma rede de relações por meio da qual circula e se promove a profecia da cultura do encontro, da justiça social, da inclusão dos grupos marginais, da fraternidade entre os povos, do cuidado da casa comum" (no. 121). Eis as pistas do nosso trabalho de Evangelização aqui e agora.

É de se louvar o esforço para a implementação de Concílios Particulares (cf. no. 129). "Com efeito, a sinodalidade articula de modo sinfônico as dimensões comunitária (todos), colegial (alguns) e pessoal (um) das Igrejas particulares e de toda Igreja." (no. 130). O ponto de comunhão é sempre o ministério petrino. "Cum Petro et sub Petro" é a máxima de sempre. Sob o papa podemos todos viver a comunhão. Por isso, quem não está com o Papa está fora da Igreja por opção própria. Rezemos pelo santo padre, o papa Francisco.

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