Paróquia de São Camilo de Léllis – Lagoa Nova – Natal
Arquidiocese de Natal
A nossa série de artigos sobre o documento final do Sínodo dos Bispos chega, agora, à terceira parte do texto. Vimos os fundamentos teológicos na primeira parte. Encontramos, na segunda parte, os participantes da igreja sinodal: homem e mulher, Deus, as famílias, os grupos sociais, clero, etc. Agora, devemos olhar para os processos. Como viver processos de sinodalidade.
"A pesca não deu frutos e agora é hora de regressar à terra. Mas uma voz ressoa, com autoridade, convidando-os a fazer algo que os discípulos sozinhos não teriam feito, apontando uma possibilidade que seus olhos e mentes não conseguiam perceber: 'Lancem a rede do lado direito do barco e achareis'. No decorrer do processo sinodal, tentamos ouvir essa Voz e aceitar o que ela estava nos dizendo. Na oração e no diálogo fraterno, reconhecemos que o 'discernimento eclesial', 'o cuidado com os processos decisórios' e o 'compromisso com a prestação de contas e a avaliação do resultado das decisões tomadas' são práticas com as quais respondemos à Palavra que nos mostra os caminhos da missão" (no. 79). Nessa introdução, encontramos o norte dessa terceira parte.
O discernimento eclesial é muito desafiador, pois exige de nós o exercício da sabedoria evangélica. Tal exercício se reflete bem nas primeiras comunidades, já testemunhadas em Atos dos Apóstolos: "Decidimos, o Espirito Santo e nós" (At 15, 28). Como vemos, o discernimento eclesial é antes de tudo um ato espiritual. Não se trata de um método corporativo. O primado espiritual deve ser sempre lembrado quando precisamos decidir na Igreja. O sínodo encontrou na 'escuta espiritual' um método de discernimento que busca afastar as ideologias e deixar que o Espírito Santo ilumine as mentes e os caminhos.
Já o cuidado com os processos decisórios aborda o tríplice "nada sem": nada sem o bispo; nada sem o conselho dos presbíteros; e nada sem o consentimento do povo. (cf. Carta 14 de São Cipriano de Cartago). Está em relevo o papel da autoridade que é, antes de tudo, um exercício de comunhão. "[...] o exercício da autoridade não consiste na imposição de uma vontade arbitrária" (no. 91). A escuta é a palavra-chave. Escutar para entender. Escutar para se abrir ao diferente. Escutar para avançar. "A autoridade pastoral tem o dever de escutar aqueles que participam na consulta, e por conseguinte, não pode continuar a atuar como se não os tivesse escutado" (no. 91). Urge mecanismos de escuta ampla para que seja respeitado o senso do fiéis batizados.
Sobre a transparência, é muito importante demonstrações do que somos. Aprendi com um colega de gestão no Instituto Federal, Prof. Willys Abel Farkat, que "não basta ser honesto, é preciso se mostrar honesto". O no. 97 do documento final diz que "onde a Igreja goza de confiança, práticas de transparência, prestação de contas e avaliação ajudam a consolidá-la, e são um elemento ainda mais crítico onde a credibilidade da Igreja deve ser reconstruída". Os conselhos econômicos têm papel fundamental: "um esforço comunicativo que se revela um poderoso meio educativo em vista da mudança de cultura [...]" (no. 102).
Por fim, os organismos colegiados de participação são evidenciados: "Sínodo diocesano, Conselho presbiteral, Conselho Pastoral diocesano, Conselho pastoral paroquial, Conselho diocesano e paroquial para assuntos econômicos" (no. 103). Os bispos, juntos com o papa, propõem "que se dê maior destaque ao Sínodo diocesano e à Assembleia paroquial (NT. para as igrejas orientais) como órgãos de consulta regular da parte do bispo à porção do Povo de Deus que lhe foi confiada, como lugar de escuta, de oração e de discernimento, em particular quando se trata de escolhas relevantes para a vida e missão de uma Igreja local" (no. 108). E ainda, que os sínodos diocesanos "se reúnam com uma cadência regular não excessivamente rara" (no. 108).
Nossa igreja local, por vontade de nosso arcebispo, se prepara para seu primeiro sínodo. A sua realização se reveste ainda mais de importância quando olhamos para esse documento. Que o Espírito Santo nos conduza.