segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

A mesa da Palavra (artigo do Pe. Paulo Henrique)


Pe. Paulo Henrique da Silva
Diretor de Estudos do Seminário São Pedro
Arquidiocese de Natal



Na celebração da Eucaristia, lugar do evento da anamnese, memorial do sacrifício redentor de Jesus Cristo, a Igreja fixa o seu olhar e a sua atenção sobre duas mesas: a mesa da Palavra, chamada de “ambão” e a mesa da Eucaristia, chamado de “altar”. São também as partes da Liturgia: Liturgia da Palavra, Liturgia Eucarística.

Sendo “casa da Palavra”, a Igreja é constantemente exortada a que viva da Palavra de Deus. Já o Concilio Vaticano II, no seu primeiro documento, a Constituição sobre a Sagada Liturgia, Sacrosanctum Concilium (promulgada em 4 de dezembro de 1963), afirmava a enorme importância da Sagrada Escritura na celebração da Liturgia (cf. CONCÍLIO VATICANO II. Constituição sobre a Liturgia Sacrosanctum Concilium, n. 24) e reconhecia que ela, a Igreja, se alimenta da Palavra.

O Papa Francisco, na homilia do 3º Domingo do Tempo Comum, 26 de janeiro passado, afirmava a importância da Sagrada Escritura na vida de fé e exortava a todos para que sintam uma familiaridade com a Palavra: “Toda a Bíblia faz memória de Cristo e da sua obra, e o Espírito atualiza-a na nossa vida e na história. Quando nós lemos, rezamos e estudamos as Escrituras, não recebemos apenas informações sobre Deus, mas acolhemos o Espírito que nos recorda tudo o que Jesus disse e fez (cf. Jo 14, 26). 

Assim, o nosso coração, inflamado pela fé, aguarda na esperança a vinda de Deus. Irmãos, irmãs, temos de nos habituar mais à leitura das Escrituras. Gosto de recomendar a cada um que tenha um pequeno Evangelho, um pequeno Novo Testamento de bolso, e que o leve na bolsa, que o leve sempre consigo, que o pegue durante o dia e o leia. Uma passagem, duas passagens... E assim, durante o dia, há esse contato com o Senhor. Um Evangelho pequenino é suficiente” (FRANCISCO. Homilia da Santa Missa do Terceiro Domingo do Tempo Comum. Domingo da Palavra de Deus e Jubileu do mundo da Comunicação, 26 de janeiro de 2025)

Após recebermos o perdão de Deus e cantarmos o Hino de Louvor, estamos prontos a fixar nosso olhar e nossos ouvidos para a mesa da Palavra. Sim, primeiro Deus nos fala. É o movimento inicial, movimento “descendente”. Quando acontece a Liturgia da Palavra, estamos revivendo a dinâmica da Revelação: Deus nos fala. O Papa emérito Bento XVI afirmou isso na Exortação apostólica pós-sinodal Verbm Domini: “Considerando a Igreja como ‘casa da Palavra’, deve-se antes de tudo dar atenção à Liturgia sagrada. Esta constitui, efetivamente, o âmbito privilegiado onde Deus nos fala no momento presente da nossa vida: fala hoje ao seu povo, que escuta e responde (BENTO XVI. Exortação Apostólica Pós-sinodal Verbum Domini, 52). 

Toda a Liturgia da Palavra se desenvolve daquela mesa que é o ambão, dali Deus nos fala, da primeira Leitura ao Evangelho, passando pelos Salmos, oração da Igreja primitiva e nossa oração. Mas, a dinâmica se conclui com o outro movimento, agora “ascendente”, nós falamos a Deus. Sim, a mesa da Palavra nos inclui na dinâmica divina. A Liturgia da Palavra s conclui com a “Oração da Assembleia”. Ela é como o elo com a Liturgia Eucarística, pois exprime com algumas das intenções, sejam universais, sejam particulares, pelas quais deve ser oferecido o sacrifício. Dela já se disse que é comparada a “uma pedra preciosa que tinha sido perdida e que agora tinha sido encontrada em todo o seu esplendor” (A. Bugnini). 

Deus não fala para as pedras, para as paredes; Deus fala para nós: “Em virtude desta revelação, Deus invisível (cf. Cl 1,15; 1 Tim. 1,17), na riqueza do seu amor fala aos homens como a amigos (cf. Ex 33, 11; Jo 15,14-15) e convive com eles (cfr. Br 3,38), para os convidar e admitir à comunhão com Ele” (CONCÍLIO VATICANO II. Constituição dogmática sobre a Palavra de Deus, Dei Verbum, n. 2). Deus nos fala como a amigos. Como devemos dar importância a esse momento! A participação na Eucaristia não pode ser um momento entre tantos outros. Não vamos para cumprir uma obrigação. Vamos escutar Deus. Não existe consideração mais perfeita sobre nós: existimos para a escuta da Revelação, somos ouvintes da Palavra (Karl Rahner).

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