domingo, 19 de janeiro de 2025

Transformações Divinas: Entre Água e Vinho (Crônica do Diácono Edson Araújo)


Diácono Edson Araújo
Arquidiocese de Natal



Era um domingo ensolarado, em que as palavras sagradas ressoavam pelo pequeno vilarejo. As leituras daquele dia prometiam mais do que consolo; traziam esperança, transformação e um chamado à profunda reflexão.

Nas Bodas de Caná, Jesus realizou Seu primeiro milagre. Transformou água em vinho, mas aquele gesto não foi apenas um ato material; foi um prelúdio, uma metáfora da transformação interior que Ele realiza em nossas vidas. Aquela água, comum e ordinária, se metamorfoseou diante dos olhos de todos, tornou-se o símbolo do potencial divino de transformação. Um simples casamento tornou-se o palco onde a natureza humana tocou sua versão mais pura e sublime.

O livro do profeta Isaías nos transporta para Jerusalém, uma cidade outrora desolada, agora restaurada. Isaías comparava a alegria dessa transformação a um casamento real, com Deus se deleitando como um noivo em sua noiva. Nessa reconstrução, vislumbramos o cuidado e a promessa de que Deus jamais abandona seu povo, renovando sempre nossas vidas. Não celebrávamos uma cidade, mas a promessa eterna de renascimento e alegria divinos.

Enquanto caminhava à tarde pelo mercado da vila, os tons vibrantes de alimentos frescos e flores me faziam pensar nas cores e nos sabores de nossa fé. O salmista nos convida a cantar um cântico novo ao Senhor, proclamando Suas maravilhas. E ali, no movimento cotidiano, cada ação simples — a oferta de uma fruta, o sorriso de uma criança, o aceno de um vizinho — se tornava cântico, um testemunho constante da grandeza de Deus. Nossa vida, em todos seus fragmentos, é uma celebração da presença Dele, uma sinfonia que jamais cessa.

E, enquanto refletia, as palavras de São Paulo ecoavam sobre a diversidade dos dons do Espírito Santo. Cada um de nós recebeu dons únicos, não para nossa glória, mas para servir. Veja, na pequena oficina de Manuel, suas mãos calejadas transformavam a madeira bruta em belas criações. “Cada um de nós,” pensava, “como Manuel, deve usar nossos dons para a edificação da nossa comunidade, conscientes de que tudo vem do Espírito.”

Ao final do dia, a luz dourada do sol poente iluminava o horizonte, refletindo a união de céu e terra. Era como se o próprio Deus estivesse pintando Sua mensagem final: uma parábola, um lembrete de que a transformação está em cada canto, em cada interseção da simplicidade com a divindade. Somos todos como a água nas bodas, à espera de nos tornarmos aquilo que Jesus, em Sua infinita graça, nos destina ser: instrumentos de alegria e abundância.

E assim caminhávamos, como povo de Deus, renovados e transformados, vivendo como testemunhas de Sua grandeza.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS