Diácono Edson Araújo
Arquidiocese de Natal
Era um domingo ensolarado, em que as palavras sagradas ressoavam pelo pequeno vilarejo. As leituras daquele dia prometiam mais do que consolo; traziam esperança, transformação e um chamado à profunda reflexão.
Nas Bodas de Caná, Jesus realizou Seu primeiro milagre. Transformou água em vinho, mas aquele gesto não foi apenas um ato material; foi um prelúdio, uma metáfora da transformação interior que Ele realiza em nossas vidas. Aquela água, comum e ordinária, se metamorfoseou diante dos olhos de todos, tornou-se o símbolo do potencial divino de transformação. Um simples casamento tornou-se o palco onde a natureza humana tocou sua versão mais pura e sublime.
O livro do profeta Isaías nos transporta para Jerusalém, uma cidade outrora desolada, agora restaurada. Isaías comparava a alegria dessa transformação a um casamento real, com Deus se deleitando como um noivo em sua noiva. Nessa reconstrução, vislumbramos o cuidado e a promessa de que Deus jamais abandona seu povo, renovando sempre nossas vidas. Não celebrávamos uma cidade, mas a promessa eterna de renascimento e alegria divinos.
Enquanto caminhava à tarde pelo mercado da vila, os tons vibrantes de alimentos frescos e flores me faziam pensar nas cores e nos sabores de nossa fé. O salmista nos convida a cantar um cântico novo ao Senhor, proclamando Suas maravilhas. E ali, no movimento cotidiano, cada ação simples — a oferta de uma fruta, o sorriso de uma criança, o aceno de um vizinho — se tornava cântico, um testemunho constante da grandeza de Deus. Nossa vida, em todos seus fragmentos, é uma celebração da presença Dele, uma sinfonia que jamais cessa.
E, enquanto refletia, as palavras de São Paulo ecoavam sobre a diversidade dos dons do Espírito Santo. Cada um de nós recebeu dons únicos, não para nossa glória, mas para servir. Veja, na pequena oficina de Manuel, suas mãos calejadas transformavam a madeira bruta em belas criações. “Cada um de nós,” pensava, “como Manuel, deve usar nossos dons para a edificação da nossa comunidade, conscientes de que tudo vem do Espírito.”
Ao final do dia, a luz dourada do sol poente iluminava o horizonte, refletindo a união de céu e terra. Era como se o próprio Deus estivesse pintando Sua mensagem final: uma parábola, um lembrete de que a transformação está em cada canto, em cada interseção da simplicidade com a divindade. Somos todos como a água nas bodas, à espera de nos tornarmos aquilo que Jesus, em Sua infinita graça, nos destina ser: instrumentos de alegria e abundância.
E assim caminhávamos, como povo de Deus, renovados e transformados, vivendo como testemunhas de Sua grandeza.