sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Os desafios serão grandes (Artigo do Diác. Paulo Felizola)


Diácono Paulo Felizola
Paróquia de Nossa Senhora do Ó - Nísia Floresta
Arquidiocese de Natal


O desempenho da economia brasileira em 2024 apresentou números que para alguns são positivos e para outros negativos. O PIB cresceu acima do que havia sido projetado no início do ano, enquanto o desemprego chegou ao nível de 6,1% da população economicamente ativa, se tornando a mais baixa taxa da história. Aliada ao baixo desemprego o rendimento médio dos trabalhadores, também, apresentou uma melhora, embora não tenha chegado ao patamar recorde de 2020, mesmo assim esses dados, aliado à valorização real da renda, revelam uma maior remuneração de quem tem algum posto de trabalho assalariado.

Porém não devemos ignorar ter havido algum movimento desabonador tais como o aumento da inflação ao nível de 4,83%, mostrando-se acima do teto estabelecido de 3,0%, com tolerância de 1,5 p.p. para baixo ou para cima. Na mesma linha negativa dos números de 2024, tivemos a depreciação do câmbio, com o Real chegando à cotação acima dos R$6,00 por unidade do Dólar americano, obrigando o novo presidente do Banco central do Brasil a ter que escrever uma carta ao Ministro da Fazenda explicando tal ocorrência.

Segundo o documento apresentado pelo Presidente do Banco Central, os principais fatores que contribuíram para esse comportamento dos preços foram: a inflação importada (contribuição de 0,72p.p.); a inércia do ano anterior (0,52 p.p.); o hiato do produto (0,49 p.p.), a economia produzindo acima da capacidade e as expectativas de inflação (0,3 p.p.). Em suma, o Banco Central atribuiu o aumento dos preços à alta do dólar e das commodities (bens primários com cotação internacional) e ao aquecimento da economia.

Claro está que, apesar de alguns bons números, a economia brasileira vem apresentado, desde o final de novembro de 2024, intensa instabilidade financeira e cambial, mesmo que os mercados tenham ficado mais calmos neste mês de janeiro, embora o real continue acima dos R$6,00 por dólar, o que seguramente produz um impacto adverso na taxa de inflação e na taxa de juros. Portanto, enfrentar essa instabilidade financeira e cambial, na atual conjuntura, apresenta-se como o grande desafio para a gestão econômica da economia brasileira no corrente ano, pois sem essa estabilização será muito difícil colocar o pobre no orçamento e o rico no imposto de renda.

Entendemos que colocar o pobre no orçamento e o rico no imposto de renda significa promover a igualdade resultante de uma justa distribuição da riqueza produzida pela sociedade. Portanto, diante da necessidade de promovermos a justa igualdade econômica e social e dada a grande instabilidade, acima já referida, apresenta-se, primeiramente, como medida prioritária, que sejam dissipadas as percepções ainda, predominantemente, negativas em relação às contas públicas, que foram responsáveis pelo intenso ataque especulativo vivido no final do ano passado, com a alegação de que os cortes de gastos anunciados eram insuficientes para conter o crescimento da relação dívida/PIB.

Conter essas percepções, portanto, contribuirá para estabilizar o câmbio, que por sua vez permitirá medidas que visem a redução nos preços, em especial no preço dos alimentos. Não é nenhum segredo que a economia brasileira dispões de uma agricultara exportadora

de grande porte, cujos preços são influenciados pela variação do câmbio. Ǫuando temos uma desvalorização do real em relação ao dólar, os preços dos insumos importados sofrem a majoração correspondente pois os preços dos insumos importados tendem a subir inflando os custos de produção. Da mesma forma, mesmo os produtos que não utilizam insumos importados, também, têm os preços majorados pelo alinhamento com os preços praticados no mercado internacional.

Contido o crescimento dos preços, elimina-se a justificativa para o aumento da taxa de juros, eliminando o principal limitador dos investimentos públicos e privados e do consumo das famílias. Neste ponto é importante perceber que sem esse movimento que leve à estabilização do câmbio e à redução da taxa de juros, toda a política de incentivo à produção, seja agrícola ou industrial, via subsídios ou incentivos fiscais, fica comprometida e em certos casos inviável, o que terá como resultado final o desaquecimento da economia ou até a recessão, com todas as mazelas que isso representa, em especial com a potencialização da pobreza, o que quer dizer que os pobres continuaram fora do orçamento e os ricos fora do imposto de renda.

Na verdade, quando dizemos que o quadro conjuntural apresenta um grande desafio para a gestão pública e o perigo de mergulharmos em uma crise recessiva com inflação, estamos baseados no fato real e concreto de que as decisões econômicas, que afetam toda a sociedade brasileira em seu processo de produção e reprodução da vida material, passam sempre por uma decisão política resultado do confronto de todas as forças políticas e econômicas existentes no seio da sociedade. Sendo assim, e observando essas forças e suas articulações, temos a sensação de que os ventos não estão a soprar favoravelmente à justiça, mas à consolidação da lógica que nos empobrece e recheia, cada vez mais, a burra do capital financeiro. No entanto, é preciso não esquecer que devemos cumprir toda a justiça, mesmo que seja com a nossa própria vida.

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