sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

A “Comunhão” na Igreja Sinodal (Artigo de Dom João S Cardoso)


Dom João Santos Cardoso
Arcebispo Metropolitano de Natal



A XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos abordou a sinodalidade na Igreja sob o tema “Para uma Igreja Sinodal: Comunhão, Participação, Missão”. Esse tema reflete a essência da vida e da missão da Igreja, destacando a comunhão como elemento central a partir das perspectivas teológica, eclesiológica, sacramental e metodológica. O Documento Final do Sínodo (n. 6) enfatiza que a sinodalidade exige um profundo processo de arrependimento e conversão que, por meio da celebração do sacramento da penitência, nos conduz à comunhão. Assim, a sinodalidade não apenas expressa a harmonia no Corpo de Cristo, mas também renova a Igreja para ser um sinal visível do amor trinitário no mundo.

A "comunhão" expressa a essência do mistério e da missão da Igreja, cuja fonte e ápice se encontram na celebração da Eucaristia. Conforme o Documento Final do Sínodo (n. 31), a comunhão tem sua raiz no próprio Deus Trindade, onde a unidade entre as pessoas se realiza por meio de Cristo e no Espírito Santo. Do ponto de vista teológico, essa compreensão da comunhão reafirma que a Igreja, como Corpo de Cristo, é chamada a ser sacramento de unidade e testemunho vivo do amor trinitário no mundo. Essa visão está implícita no conceito de sinodalidade, que aponta para a necessidade de a Igreja caminhar unida, refletindo o dinamismo do amor divino que sustenta a diversidade harmônica da criação.

No contexto eclesiológico, a comunhão remete à ideia do Povo de Deus como uma comunidade de fiéis em relação com Deus e entre si. Como destaca o Documento Final do Sínodo (n. 18), a communio fidelium é inseparável da communio ecclesiarum, refletindo a unidade visível que se manifesta na comunhão dos bispos e, em última instância, na comunhão com o Bispo de Roma, princípio de unidade na Igreja universal. Essa perspectiva reforça a compreensão que a Igreja é uma comunhão de Igrejas locais, cada qual enraizada em sua cultura e tradição, mas unida em na mesma missão evangelizadora. A sinodalidade, como prática e estrutura, concretiza essa eclesiologia ao promover processos de participação, discernimento e decisão comunitários.

Os sacramentos, especialmente a Eucaristia, são fundamentais para a vivência da comunhão, pois, como afirma São Paulo, "porque há um só pão, somos um só corpo, pois todos participamos do mesmo pão" (1Cor 10,17). Na Eucaristia, a Igreja experimenta e celebra sua unidade como Corpo de Cristo, sendo continuamente renovada para a missão (Documento Final do Sínodo, n. 16). Além disso, o Batismo insere cada cristão na comunhão do Povo de Deus, constituindo a raiz da sinodalidade, enquanto a Confirmação fortalece o compromisso com a missão. A celebração sacramental, portanto, é o lugar onde a comunhão se torna visível e eficaz, nutrindo a Igreja para viver plenamente sua vocação sinodal.

Do ponto de vista metodológico, a comunhão é o princípio que orienta os processos sinodais. A escuta, o diálogo e o discernimento comunitário são práticas essenciais que permitem à Igreja viver plenamente sua natureza sinodal. Nesse sentido, a sinodalidade se concretiza no "caminhar juntos", envolvendo todos os membros da Igreja na corresponsabilidade pela missão (Documento Final do Sínodo, n. 31). Nesse contexto, a autoridade pastoral é entendida como um serviço à comunhão, sendo exercida em diálogo constante com o Povo de Deus.

A "comunhão" é a chave para compreender a sinodalidade na vida da Igreja. Em uma Igreja Sinodal, a comunhão é simultaneamente fonte, caminho e meta, convidando todos os batizados a participar ativamente da missão evangelizadora, enquanto vivem a unidade na diversidade como reflexos do mistério trinitário.

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