quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Não basta sonhar

Por Diác. Zé Bezerra

Os cristãos e demais homens e mulheres de boa vontade precisam manter vivos os seus sonhos. É necessário sonhar! Sonhar com cidades pacatas; com emprego digno, trabalho e renda para os trabalhadores e trabalhadoras; com sistemas de saúde que atendam aos necessitados de assistência médico-hospitalar; com moradia digna para todas as famílias; com terra no campo para o cultivo e produção de alimentos; com um mundo sem as guerras que ceifam vidas de homens, mulheres, jovens e crianças inocentes; com cidades bem administradas e sem as drogas que ceifam vidas; sem o crime organizado que aterroriza gente pacata; com uma polícia eficiente que combata o crime; com um sistema político sem corrupção... Qual é o seu sonho?

Não é proibido sonhar! Esses são sonhos de quem tem na mente e no coração a esperança por dias melhores do que os de atualmente. Aristóteles afirmava que “A esperança é o sonho do homem acordado”. Esta frase foi usada pelo Frei Paulo Sérgio, OFM, ao escrever este texto: “A esperança é o único bem comum a todas as pessoas; aqueles que nada mais têm, ainda a possuem, pois esta é como um dom divino plantado em nossas almas. A esperança precisa pulsar forte em nós como uma energia a nos impulsionar para seguirmos adiante contra toda desesperança… O novo muitas vezes nos apavora, pois nos tira de nossa zona de conforto. Mas é preciso seguir por novos caminhos… é preciso abrir picadas na floresta não desbravada. É preciso ter a coragem de sonhar e de acreditar nos sonhos. É preciso atingir o cume da existência e celebrar o melhor da vida!”(Frei Paulo Sérgio, OFM).

Mas quem sonha precisa se desinstalar e acordar para a realidade. Não basta sonhar. É necessário transformar o sonho em obra concreta na vida e na comunidade em que reside. Nisso consiste a esperança – “sentimento de quem vê como possível a realização daquilo que deseja”. Dizem os pessimistas que “o que está ruim pode sempre piorar”. Mas para os otimistas e esperançosos, “há sempre a possibilidade de melhorar o que está ruim”. É o sentimento de esperança contra toda desesperança; de inconformismo contra todo conformismo; de coragem contra toda tibieza; de fé no bem que está por vir contra todo desencanto com o futuro.

Mesmo contra todos os que desaconselham seguir em frente, o esperançoso jamais desiste daquilo que almeja, como o cego de Jericó. Enquanto ele gritava a plenos pulmões “Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim”, muitos ao seu redor o repreendiam. Mas ele continuava a gritar sempre mais alto, e foi ouvindo pelo Mestre. Como o cego de Jericó, é necessário ter fé. E foi Jesus mesmo quem o disse: “Vê! Tua fé te salvou”. Imagine se o cego fosse um conformado com a sua cegueira! Ele teria se “instalado” na situação de mendicância e jamais sairia dali. Tal qual o cego de Jericó, faz-se necessário desinstalar-se, sair do comodismo e crer no porvir.

“Sonhar acordado” significa não se conformar com o presente degradante e lutar por algo que, mesmo difícil, possa melhorar a sua vida e a vida de outras pessoas. Porque não basta sonhar sozinho. É preciso sonhar acordado e juntar-se a outros “sonhadores” que buscam alcançar uma vida digna de criatura filha de Deus. Lembre-se que Deus, que “viu que tudo era bom”(Gn 1,5), ainda acrescentou à Obra da Criação o homem e a mulher e lhes disse: “Frutificai e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a”(Gn 1,28). Portanto, o conformismo não faz parte dos Planos de Deus para a humanidade. É preciso sonhar, sim, mas sonhar acordado, em vista de um porvir melhor.





Diácono José Bezerra de Araújo Assistente eclesiástico da PASCOM

Arquidiocese de Natal

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