quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

A carta, origens e envio, artigo semanal do Pe. João Medeiros









Pe. João Medeiros Filho
Arquidiocese de Natal



A carta, origens e envio


É uma das modalidades mais antigas de comunicação à distância, considerada também como gênero literário. Por meio dela, parte da história humana foi documentada. Registra o relacionamento entre pessoas, opiniões sobre a vida familiar e social. Oferece elementos capazes de ajudar a recompor fatos. A Bíblia apresenta exemplos de cartas (ou epístolas), destacando-se as de autoria do apóstolo Paulo. “Vós é que sois a nossa carta, conhecida e lida por todos”, afirmou o hagiógrafo (2Cor 3, 2). No decorrer do tempo, apresenta-se em materiais diversos, indo do papiro, até a sua forma digital. 

No século II a. C., em Pérgamo (Bérgama) na Turquia, valia-se de um material, preparado à base de pele bovina ou caprina, tendo recebido o nome de pergaminho. O papel empregado nos dias atuais data do século II de nossa era. O chinês Cai Lun misturava fibras de vegetais, formando uma massa que devia ser peneirada. Após secar, convertia-se em uma folha fina, ideal para ser transportada e nela se escrever. Com o avanço da tecnologia, mensagens escritas poderão ser enviadas sem os recursos tradicionais. Isto acontece através das redes sociais, notadamente “e-mail” e “whtasapp”. Porém, há quem prefira a carta tradicional, em papel e manuscrita, exibindo um toque pessoal.

Outro dado a ser observado refere-se aos meios como as correspondências chegavam aos destinatários. No passado, os pombos foram empregados para o envio de avisos e notícias. Observou-se sua capacidade de voar até uma distância de 160 km, retornando ao local de sua partida. Já se contava com esse meio, antes de Cristo. Nas Olimpíadas da antiga Grécia, os pombos eram encarregados de levar às cidades gregas os resultados dos vencedores das competições. Na Primeira Guerra Mundial, os pombos-correios pouparam a vida de muitos soldados, conduzindo mensagens aos campos de guerra.

No Brasil, ficou célebre a carta do escrivão-mor Pero Vaz de Caminha (inicialmente redigida nas caravelas), anunciando a Dom Manuel I, Rei de Portugal, as descobertas realizadas. Narra detalhes da geografia e topografia das terras conquistadas, o perfil dos nativos e riquezas conquistadas pela Coroa. É tido como o primeiro documento oficial escrito em domínios brasileiros. Ao longo dos séculos, dispunha-se de outras formas de envio postal. 

Há filmes mostrando as pessoas expedindo comunicados dentro de garrafas lançadas ao mar. Existiam arautos que decoravam os recados e corriam, antes de esquecê-los, para reproduzi-los aos destinatários. Um fato peculiar na história da entrega de correspondências tem a ver com o uso de cavalos. Em 1860, três empresários norte-americanos criaram um correio expresso, servindo-se de equinos com o objetivo de encaminhar as missivas. Era o “Poney Express”.

O primeiro correio brasileiro foi inaugurado em 1673. Era muito demorado e dispendioso, pois dependia de viagens oceânicas, partindo do Brasil para Portugal. Em 1798, foram organizados os Correios Marítimos, estabelecendo uma ligação postal entre o Rio de Janeiro e Lisboa. No ano de 1927, teve início o serviço aéreo entre a América do Sul e a Europa. No Brasil, Getúlio Vargas instituiu o Departamento de Correios e Telégrafos, em 1930, posteriormente transformado na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.

A popularização do acesso à internet permitiu a conexão pelo correio eletrônico com maior rapidez e eficiência. Pelas redes sociais, especialmente, através do “e-mail” e “whatsapp”, pode-se enviar, receber e armazenar arquivos, vídeos, imagens e documentos digitais. Esses aplicativos demonstram-se uma excelente forma de contato, permitindo que os interlocutores se comuniquem à distância, em tempo real, sem o emprego de papel e pessoas para efetuar a entrega. 

As cartas reais ou imaginárias e os cartões postais foram pouco a pouco se convertendo em livros pela riqueza de seu conteúdo ou importância de seus remetentes e destinatários. Entre nós, são conhecidas – dentre tantas – as de Câmara Cascudo, Hélio Galvão, Oswaldo Lamartine, Olavo de Medeiros Filho, Paulo Balá, Vicente Serejo etc. O apóstolo Paulo reconheceu os objetivos e importância dessa comunicação. Deste modo, valeu-se de uma metáfora, dirigindo-se aos cristãos de Corinto: “Sois uma carta de Cristo, escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo” (2Cor 3, 3).

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