terça-feira, 26 de dezembro de 2023

A MENSAGEM DO PRESÉPIO





Pe. João Medeiros Filho
Arquidiocese de Natal



A mensagem do presépio


Celebramos os oitocentos anos da criação do presépio, idealizado por São Francisco de Assis, em dezembro de 1223. Dele emanam lições de humildade, despojamento, pureza, harmonia, silêncio, paz, convite à reflexão. Em 2019, o atual Sumo Pontífice escreveu uma Carta Apostólica, intitulada “Sinal admirável”, enaltecendo a manjedoura, como catequese e representação iconográfica dos primórdios do cristianismo. No presépio, manifesta-se o sentido do mistério da encarnação do Verbo. No Natal, o Infinito e o terreno se encontram, o Eterno e o efêmero se unem, exprimindo a inefável bondade do Onipotente. Na manjedoura proclama-se a incomensurável ternura de Deus pelo homem. Cabe lembrar a riqueza da tradição de armar presépios, preparando a vinda do Salvador. Isso favorece à contemplação do berço de Cristo, do qual emerge a essência do Evangelho. É preciso ter um olhar orante, ao se deparar com a imagem do Menino. Nele eflui a inarrável manifestação do perdão divino.

É comovente recordar a cena descrita pelo evangelista Lucas: [Maria] “envolveu-o em faixas e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2, 7). A palavra presépio, em latim “praesepium”, significa manjedoura, gamela, cocho, posteriormente passando a ter a acepção de curral, estábulo. Quando veio ao mundo, o Filho de Deus encontrou lugar apenas numa estrebaria, onde pastavam os animais. Eis a ingente humildade de Cristo. Isso inspirou o “Poverello” a reconstituir o cenário do Natal. Ele convidou pessoas do lugarejo de Greccio para descrever, de forma viva, o nascimento de Jesus. A ideia era retratar a simplicidade do Salvador e as dificuldades encontradas em Belém por Maria e José para acolher Jesus recém-nascido. A Criança foi reclinada na palha entre os animais. Até hoje, o mundo não compreendeu ainda a dimensão, o verdadeiro sentido da vinda de Cristo e não sabe abraçá-Lo.

Mister se faz olhar para a figura do Menino e descobrir a grandeza do Amor infinito do Pai. Daquela Criança brota uma força capaz de despertar uma espiritualidade, que enleva mentes e comove corações a fim de compreender um Deus, que se humilha numa clemência redentora, aceitando a condição humana. Cristo, Caminho, Verdade e Vida (Jo 14, 6) vem como irmão, oferta suprema do Pai à humanidade. A chegada do Menino oferece-nos oportunidades de trilhar novos rumos e motivos para dedicarmo-nos aos outros. Trata-se de uma postura que contribui para redimir nossos pecados. A pobreza do lugar no qual Jesus nasceu, retratada no presépio, é impactante, aturdindo o homem, combatendo sua presunção e orgulho. Mostra que o despojamento encerra ensinamentos inspirados na benevolência divina, fundamentais para saber doar-se. A presença dos Magos aponta a sabedoria se curvando diante do Salvador, que nos incita a buscar o caminho que conduz à Verdade e à Paz.

Muitas são as lições do presépio. O céu estrelado no silêncio da noite faz pensar na escuridão que envolve o nosso interior, quando despido da graça sobrenatural. Ao mesmo tempo, permitir-nos-á reconhecer a luz da presença celestial que não abandona o homem. Deus ajuda cada um de seus filhos a encontrar respostas aos problemas que inquietam o coração. A pedagogia da manjedoura poderá ajudar a sociedade a superar as contradições degradantes. Ensina a vencer obstáculos e encontrar soluções, permitindo abrir os corações à fraternidade para enfrentar melhor as situações de exclusão. Cristo renova o mundo decaído, pois é a única saída para recuperar o esplendor do Amor.

Somos chamados a admirar o presépio na beleza de sua mística e arte para vivenciar a espiritualidade natalina com um fulgor maior que o brilho das cores e enfeites desta época do ano. Nos apelos transmitidos pela manjedoura está o da preocupação com as periferias humanas e interiores, proclamando o carinho do Criador. O desapego, ali transmitido e ensinado, contribui para que resistamos à ilusão de buscar felicidade naquilo que é fugaz. Neste tempo do Natal, importa olhar Jesus Menino para cultivar pela oração a beleza da generosidade redentora. Armemos presépios em nossos corações, deixemo-nos inundar pela graça divina, seguindo Aquele que sendo Deus, despojou-se de tudo, assumindo a pequenez humana (cf. Fl 2, 6). Possamos todos “encontrar Maria, José e o Recém-nascido, na singeleza da manjedoura [de nossos corações]” (Lc 2, 16).

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