Há exatos 64 anos, na ventosa e luminosa Ponta do Mel, litoral do Rio Grande do Norte, um jovem decidiu mudar o rumo da própria vida. Seu nome era Salinesio de Oliveira Santos, filho do professor João Paulino de Oliveira e enteado de Sergina Guardião, sua madrasta.
João Paulino era um homem de muito saber, mas de pulso duro. Exigia respeito, e acreditava que a rigidez era o caminho certo para educar. Em casa, o ambiente era severo e frio. Sergina, a madrasta, pouco demonstrava carinho e assim, Salinesio cresceu cercado de ordens, silêncios e maus-tratos, guardando dentro de si o sonho de um novo começo.
Aos 16 anos, cansado do sofrimento, o jovem tomou uma decisão: fugiria de Ponta do Mel. Não por covardia, mas por coragem para salvar sua própria alma. Mas ele não estava sozinho. Entre os poucos que sabiam da verdade, havia uma mulher de coração generoso: Luzia Rodrigues de Souza.
Luzia era como uma mãe para Salinesio. Via nele o filho que a vida não lhe dera, e acompanhava em silêncio as dores que ele tentava esconder. Quando soube do plano de fuga, não hesitou em ajudar. Com mãos firmes e cheias de amor, Luzia desmanchou uma antiga espreguiçadeira, feita de pano grosso e madeira, e com aquele tecido improvisou a bolsa que o menino levaria na viagem. Ali dentro, ela colocou um pouco de comida, uma muda de roupa e um terço para que Deus guiasse seu caminho.
Naquela manhã clara e ventosa, com o sol se erguendo sobre o mar, Salinesio caminhou até a praia. O coração batia como o som das ondas. Empurrou o barco para dentro d’água, olhou para trás e viu Luzia acenando, os olhos marejados de emoção.
Era um adeus e uma bênção ao mesmo tempo.
Pouco depois, o professor João Paulino percebeu a ausência do filho. Tomado por desespero, correu em direção à praia. Mas quando chegou, o barco já se afastava, pequeno e firme, cortando o horizonte. De longe, viu o filho desaparecer no azul do mar levando consigo a esperança de uma vida livre.
Naquele dia, Ponta do Mel parou para assistir o vento da liberdade soprar. O menino que partiu não levava apenas uma bolsa feita de pano, mas também o amor e a proteção de Luzia, a mulher que acreditou em seu recomeço. E até hoje, entre os mais velhos da vila, essa história é contada com respeito e emoção:
“Foi numa manhã de vento forte que o menino Salinesio fugiu e o mar o levou para longe da dor. Mas se ele chegou ao destino em paz, foi porque Luzia costurou sua liberdade com o fio do amor.”
Texto: Josmar Noronha
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